Valor econômico, v. 17, n. 4095, 21/09/2016. Empresas, p. B2

Petrobras reduz aportes man mantém produção

Empresa prevê US$ 19,5 bi com venda de ativos em 2017 e 2018

Por: Rodrigo Polito e André Ramalho

 

O primeiro plano de negócios da Petrobras sob a gestão de Pedro Parente, com horizonte 2017-2021, não só manteve o foco de seu antecessor, Aldemir Bendine, na melhoria da situação financeira da empresa como aumentou a agressividade com relação ao ajuste das contas da petroleira. O novo plano prevê antecipar, de 2020 para 2018, a meta de redução do nível de alavancagem de 2,5 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), atualmente em 4,5 vezes.

Para chegar a esse patamar, a Petrobras reduziu em 25% a previsão de investimentos em relação à última versão do plano anterior (2015-2019), para US$ 74,1 bilhões nos próximos cinco anos; pretende cortar gastos operacionais gerenciáveis, de US$ 153 bilhões para US$ 126 bilhões; e ampliou a meta de venda de ativos para US$ 19,5 bilhões em 2017 e 2018, além de manter os US$ 15,1 bilhões previstos para o biênio 2015-2016.

"A ideia é, no horizonte de dois anos, acelerar o processo de recuperação financeira. Esperamos estar com indicadores financeiros que permitirão almejar voltarmos à situação anterior em relação ao custo financeiro, o que implica, a aspiração de melhorar nossos ratings", afirmou ontem Parente, durante a apresentação do plano para jornalistas.

A Petrobras não prevê necessidade de novas captações líquidas de recursos, no horizonte do plano. Com isso, a estimativa de desembolsos de US$ 179 bilhões até 2021 (sendo US$ 74,1 bilhões em investimentos e o restante em amortizações e despesas financeiras) será coberta apenas por geração de caixa operacional (após dividendos), de US$ 158 bilhões, uso do caixa e venda de ativos. Esse desenho, porém, torna o programa de negociação de ativos essencial para a sustentabilidade do plano.

Para viabilizar financeiramente o plano de negócios, a Petrobras também prevê continuar praticando preços competitivos de combustíveis, em paridade com o mercado internacional. "Nossa política de preços visa praticar preços competitivos em toda a cadeia de valor do sistema Petrobras", afirmou o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Jorge Celestino, acrescentando que a estatal pretende maximizar suas margens.

Questionado por jornalistas sobre a diferença da política de preços atual em relação a das gestões anteriores, que também prometiam preços em linha com o mercado internacional no longo prazo, mas que comprometeram o caixa da companhia ao controlar preços para evitar impacto na inflação, Parente destacou a independência da gestão atual na definição dos preços. "A principal diferença [em relação a gestões anteriores] é que, se quisermos mudar o preço hoje, nós mudamos. O que fazemos é avaliar condições de mercado. Fazemos isso com frequência."

A prática de preços competitivos, com maximização de receita em função do mercado, é um dos pilares do novo plano, segundo o diretor de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão da petrolífera, Nelson Silva, um dos principais nomes responsáveis pela elaboração do documento. Ele destacou também como pilares do plano a eficiência nos investimentos e despesas operacionais e a venda de ativos.

O item do plano que mais surpreendeu o mercado foi a previsão de produção de petróleo da companhia. Apesar da queda acentuada da previsão de investimentos, a estatal mantém a meta de produção de petróleo em campos nacionais de 2,7 milhões de barris diários em 2020. Para 2021, a meta cresce 2,6%, para 2,77 milhões de barris diários.

Segundo a diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Solange Guedes, a manutenção da meta de produção, mesmo com a queda de investimentos, se deve à eficiência operacional. "70% da redução que nós temos de capex [novos investimentos] no plano de negócios está relacionada com aumento de produtividade", disse a executiva, em teleconferência com analistas e investidores, após a apresentação do plano. A empresa trabalha com um custo de extração no horizonte 2017-2021 de US$ 9,60 por barril de óleo equivalente (boe). Neste ano, esse custo é de US$ 11/boe. E, em 2014, era de US$ 14,60/boe.

A carteira de projetos da Petrobras prevê o início de operação de 19 novos sistemas de produção entre 2017 e 2021, com destaque para o piloto de Libra, em 2020, e o segundo sistema de Libra, em 2021, ambos no pré-sal na Bacia de Santos. O desenvolvimento da produção responderá por 76% do total previstos de investimentos para a área de E&P no plano de negócios, de US$ 60,6 bilhões. Outros 11% são destinados à exploração e 13% para suporte operacional.

No curto prazo, no entanto, a produção da petroleira vai recuar. A estimativa de produção de petróleo nacional em 2017 é de 2,07 milhões de barris diários, ante a média prevista para este ano, de 2,145 milhões de barris diários. A queda, segundo Solange, é consequência do processo de venda de ativos da estatal.

Questionado sobre a possibilidade de o bloqueio de contratação de empresas com indícios de irregularidades e fraudes afetar a construção das novas plataformas, o diretor de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia da Petrobras, Roberto Moro, assegurou não haver esse risco. A lista de empresas impedidas de participar de licitações ou serem contratadas pela Petrobras permanece em 32 nomes.

Com relação à área de refino e gás natural, os investimentos de US$ 12,4 bilhões previstos para o período do plano serão voltados principalmente para a manutenção da infraestrutura existente.

A expectativa da companhia é que o mercado brasileiro de derivados de petróleo cresça 5,2% entre 2017 e 2021, quando deve atingir 2,4 milhões de barris diários.

Diante do ritmo mais fraco de crescimento do mercado, a estatal mantém o segunda etapa da refinaria do Nordeste (Rnest) e a refinaria do Comperj fora do horizonte do plano. A ideia da empresa é buscar parceiros para desenvolver os dois projetos.

O plano de negócios 2017-2021 foi elaborado com uma previsão do preço do petróleo Brent partindo de US$ 45 por barril, em 2016, para US$ 71 por barril, em 2021. A taxa de câmbio utilizada para o plano partiu de R$ 3,48, em 2016, para R$ 3,78, no fim do período.

De acordo com Silva, diretor de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão, as premissas utilizadas no plano são conservadoras, em relação à estimativas do mercado. Dessa forma, explicou, o risco de a companhia não entregar o que está prometido no plano é menor.

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Estatal vai intensificar venda de ativos até 2018

Por: André Ramalho e Rodrigo Polito
 

Um dos principais pilares do plano de negócios da Petrobras, o programa de venda de ativos foi intensificado pela nova administração da estatal, na tentativa de levantar recursos para a acelerar a desalavancagem da companhia até 2018. Ontem, a petroleira anunciou uma nova meta nesse projeto, de US$ 19,5 bilhões para os próximos dois anos, e sinalizou ao mercado que pretende sair integralmente de setores como o de gás liquefeito de petróleo (GLP), biocombustíveis, fertilizantes e até petroquímica.

A companhia quer também buscar parceiros para operar seus ativos de refino, transporte, logística e distribuição de combustíveis e espera levantar, ao todo, US$ 34,6 bilhões com venda de ativos entre 2015 e 2018, considerado os negócios já em curso. Com a venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), para a Brookfield, a expectativa é que a Petrobras atinja US$ 9,8 bilhões em venda de ativos desde 2015.

Os segmentos de onde a empresa pretende sair concentram ativos como a distribuidora Liquigás; as cinco usinas de biodiesel e nove de unidades de etanol da Petrobras Biocombustível; e as três fábricas de fertilizantes da estatal.

Um dos ativos que mais chamam a atenção é a Braskem, onde a estatal detém 47% do capital votante, ao lado da Odebrecht (53%). A petroquímica é cogitada há tempos para entrar na lista de venda de ativos da Petrobras, mas a negociação esbarra no envolvimento da construtora na Lava-Jato. No mercado, contudo, a percepção é de que o acordo de leniência da Odebrecht possa facilitar tanto um acordo de acionista entre o novo sócio e a construtora, quanto levar o grupo baiano a também vender sua participação.

"Estamos trabalhando para vender esses ativos porque claramente é onde não somos os melhores operadores. Etanol é um produto que tem uma base agrícola muito importante e certamente não é nossa especialidade. Temos que ter a humildade de reconhecer quando não é a nossa especialidade", disse ontem Pedro Parente, presidente da companhia.

O BTG Pactual estima que a Petrobras poderia levantar US$ 2,5 bilhões com a venda da Braskem e US$ 650 milhões com a Liquigás. O banco também estima ganhos de US$ 3 bilhões com a venda da BR Distribuidora e de US$ 4 bilhões com as térmicas.

Parente destacou que, além da venda de ativos, a companhia quer buscar parceiros para operar suas refinarias. "Temos uma experiência de muito sucesso de parcerias no upstream [exploração e produção], é uma área onde a empresa opera bem com seus parceiros e queremos trazer esse modelo para outros ativos", afirmou.

Depois das tentativas frustradas de atrair um sócio para a conclusão da refinaria do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobras está reavaliando o modelo de negócios para busca de um parceiro estratégico para o setor. O diretor de Refino e Gás Natural da empresa, Jorge Celestino, disse que a petroleira ainda não decidiu se colocará à venda ativos isolados ou um conjunto de refinarias, mas indicou que a estatal está costurando um modelo que ajude a criar um ambiente de negócios mais favorável à atração de sócios.

A falta de transparência sobre a precificação dos combustíveis é hoje um dos principais entraves ao interesse de investidores nesse mercado, que conviveu no passado recente com a política de preços congelados da Petrobras.

A ideia, segundo Celestino, é dar liberdade aos sócios na definição de preços. "Queremos deixar a prática de preços competitivos, prática de preços liberada para que os sócios decidam os movimentos de preços a serem feitos", afirmou.

Parente destacou, ainda, que, mesmo com o plano de venda de ativos anunciado, a Petrobras não deixará de ser uma petroleira de relevância internacional. "Ela [Petrobras] não vai ser uma empresa menor em óleo e gás. Seremos uma empresa que produzirá 3,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia [em 2021], portanto uma empresa bastante relevante no cenário internacional."