Governo não é idiota, diz presidente

Carla Araújo

15/09/2016

 

 

Em nova estratégia de comunicação, Temer reagiu a críticas dizendo ser estupidez chegar ao poder para restringir direitos do trabalhador.

Sem esconder a irritação, batendo repetidas vezes no púlpito durante uma cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer avisou que passará a rebater publicamente as versões sobre mudanças em direitos dos cidadãos, que estariam prejudicando a imagem de seu governo. O presidente cobrou de parlamentares da base o uso da tribuna do Congresso em defesa das medidas.

“Convenhamos, é muito desagradável imaginar que um governo seja tão – se me permitem a expressão um pouco mais forte – tão estupidificado, tão idiota, que chega ao poder para restringir direitos dos trabalhadores, para acabar com saúde, para acabar com educação”, disse.

Temer destacou o alcance das redes sociais e afirmou que essas versões acabam “pegando”.“Vai passando de um para outro, e as redes sociais hoje têm um poder extraordinário.Então é preciso combatê-los e eu vou combatê-los, porque não vamos permitir que se faça de outra maneira”, afirmou.

De acordo com interlocutores do Planalto, o pronunciamento duro de Temer faz parte de uma nova estratégia de comunicação, em resposta a críticas das ruas e de opositores. Segundo uma fonte do Planalto, tanto o presidente quanto os ministros passarão a fazer discursos mais firmes sobre a “herança maldita” que receberam da ex-presidente Dilma Rousseff. Além de uma atuação mais forte nas redes sociais, o Planalto estuda replicar o modelo do evento de ontem para Temer “passar o recado necessário”.

No evento, Temer dedicou boa parte do discurso para “esclarecer” o que chamou de mal entendido em relação às notícias de que o governo estudava ampliar a jornada de trabalho de oito para 12 horas. “Há poucos dias, os jornais publicaram o seguinte: olha aqui, o governo vai fazer com que a jornada de oito horas passe a ser de 12 horas.E daí o que bombou, se me permitem a expressão entre aspas, na rede social foi exatamente isso: Temer está exigindo 12 horas de trabalho por dia, ou seja, as pessoas iam trabalhar segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e talvez domingo, 12 horas por dia”.

Segundo ele, a ideia foi apenas uma discussão entre o ministro da Trabalho com alguns sindicatos sobre como distribuir, em questões pontuais, a carga horária, sem prejuízo da jornada semanal. “A notícia que deveria ingressar no jornal, era essa: governo propõe que o trabalhador trabalhe apenas quatro dias por semana. Mas não foi o que se divulgou e não é o que se alardeia e não é o que se divulga”, disse.

Teto para gastos. Temer rebateu ainda a versão “que corre pelas ruas”, segundo as quais o governo, com a PEC que cria um teto para os gastos públicos, “tem como objetivo central destruir a saúde, a educação e os trabalhadores”.

“Peço licença para dizer que isso é inadmissível, porque quando falamos em teto de gastos, estamos falando na totalidade dos gastos, não estamos falando de teto de gastos para a saúde, nem teto de gastos para a educação”, disse. “É preciso que tenhamos consciência disso.” Temer voltou a falar em “sacrifícios”, mas reforçou que não vai tirar direitos de ninguém.

“Temos que, naturalmente, ter sacrifícios, mas não vamos tirar direito de ninguém, porque essas vozes todas desconhecem que a responsabilidade fiscal é pressuposto de qualquer sistema público de saúde ou de educação.”

Reação

“Convenhamos, é muito desagradável imaginar que um governo seja tão – se me permitem a expressão um pouco mais forte – tão estupidificado, tão idiota, que chega ao poder para restringir direitos dos trabalhadores, para acabar com saúde, para acabar com educação.”

Michel Temer

PRESIDENTE DO BRASIL

PONTOS POLÊMICOS

Algumas propostas do governo Michel Temer causaram desgaste e polêmica

A divulgação de um estudo que indicava a necessidade de mudanças na concessão do FGTS obrigou Temer a gravar um vídeo para dizer que “não há nenhum pensamento a respeito dessa matéria no governo”.

Proposta de flexibilização da jornada de trabalho, anunciada pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi mal entendida, segundo o Palácio do Planalto. Temer teve de negar que o governo está estudando subir de 8 para 12 horas diárias a jornada. A medida propõe distribuir a jornada semanal de forma que não precise necessariamente se ater a oito horas todos os dias.

O governo tenta aprovar no Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (a PEC 241) que fixa um teto para a expansão dos gastos públicos. O texto indica que as despesas só poderão crescer o equivalente à inflação do ano anterior. Temer diz que a PEC não limita gastos com saúde e educação e que essa versão é “inadmissível”, já que os gastos nessa área são constitucionais.

Pretende estipular a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres no Brasil, tanto para trabalhadores da iniciativa privada quanto servidores.