Após três dias seguidos de queda, o dólar voltou a subir ontem, quando o Banco Central (BC) realizou o primeiro leilão de swap cambial reverso em um mês e meio. Essas operações equivalem a uma compra futura de dólares, por isso o BC as utiliza quando pretende evitar um recuo mais acentuado da moeda. A divisa norte-americana chegou a avançar quase 1% em relação ao real pela manhã, mas fechou o dia cotada a R$ 3,233 para a venda no comercial, com leve alta de 0,61% sobre a véspera.
De acordo com especialistas, as declarações à imprensa do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, pouco após o término do leilão, não deixaram o dólar subir muito ontem. Ilan explicou que há vários fatores influenciando a taxa de câmbio e indicou que usará com parcimônia o o mecanismo dos swaps.
“O mercado acabou ficando bem comportado. O Banco Central está reafirmando que vai ser menos intervencionista no câmbio, procurando resgatar o tripé macroeconômico”, avaliou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, lembrando que as bases desse tripé são: metas de inflação, controle fiscal e câmbio flutuante. “O novo presidente do BC não quer sinalizar o piso e o teto para o dólar e indicou que não vai mais entrar quando o câmbio piscar; o mercado incorporou o recado”, disse.
Para Zeina, a lua de mel com o novo governo continua e há uma onda positiva vinda do exterior, mas é preciso cautela. “A percepção é de que a saída do Reino Unido da União Europeia não vai impactar os emergentes a curto prazo. Há muita liquidez lá fora e, quando há sinalização de que os juros não cairão aqui, a entrada de dólares aumenta. Mas o quadro ainda é muito frágil, não há uma blindagem desses países em desenvolvimento se houver um choque maior”, alertou.
Na avaliação do gerente de Câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o presidente do BC controlou o câmbio ontem mais na fala do que por meio do leilão de swaps. “Foram ofertados 10 mil contratos que somaram US$ 500 milhões, volume bastante pequeno se comparado aos bilhões que costumavam ser colocados no mercado pela gestão anterior”. Galhardo não faz apostas para onde irá o câmbio. “Vamos ver muita volatilidade ainda pela frente”, disse.
Já o economista-chefe da Lopes Filho & Associados, Júlio Hegedus, avaliou que o BC deixou claro que o objetivo é derrubar a inflação por meio da manutenção do dólar em patamares baixos, uma vez que o país continua sem uma âncora fiscal para segurar o custo de vida. “Esta semana foi desgastante. O governo deu sinais trocados, com aumentos de gastos, aprovação de reajustes do Judiciário e do Bolsa Família. As benesses do governo já chegam a R$ 125 bilhões”, destacou.
Filas
Mesmo com a leve alta do dólar, a procura pela moeda americana não diminuiu ontem. “As filas nas casas de câmbio continuaram em todo o Brasil e o movimento está 80% acima do registrado no ano passado”, disse o diretor de Varejo da Europa Câmbio, Edísio Pereira Neto. Para ele, o dólar deverá permanecer no patamar de R$ 3,20 a R$ 3,30 até o fim do ano. “A moeda estava muito valorizada e os sinais do BC mostram que há possibilidade de isso acontecer”, disse.
Quem pegou fila foi Gilberto Oliveira, 57 anos, que trabalha com informática. Ele comprou dólares para o filho, que viajará na próxima segunda-feira para os Estados Unidos e o Canadá. “Estava esperando chegar num valor baixo e hoje (ontem) decidi comprar”, afirmou. Oliveira conseguiu cotação no câmbio turismo de R$ 2,80 para a moeda canadense e de R$ 3,45 para a americana. A psicóloga Mara Medeiros, 47, pretende viajar para os EUA no ano que vem e aproveitou o momento para se precaver contra alta futura da moeda. “Comprei dólar agora porque o preço baixou nos últimos dias. Quis me antecipar para garantir”, contou.
Bovespa sobe 1,37%
A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) teve ontem a quarta alta consecutiva, influenciada mais uma vez pela melhora do humor dos investidores estrangeiros. Uma nova rodada de ganhos nas bolsas da Europa e dos Estados Unidos e a alta dos preços do petróleo beneficiaram também os países emergentes. O Índice Bovespa subiu 1,37%, para 52.233 pontos. Nos últimos quatro pregões, o ganho é de 6,07%. Além de anular os efeitos negativos gerados pelo plebiscito que indicou a saída do Reino.
Correio braziliense, n. 19395, 02/07/2016. Economia, p. 7