Valor econômico, v. 17, n. 4085, 07/09/2016. Internacional, p. A9

Hillary chega à reta final favorita, mas sem liquidar Trump de vez

Por: Janet Hook e Laura Meckler

 

A campanha presidencial de 2016 entra em sua reta final e segundo os indicadores habituais — resultados de pesquisas, captação de recursos, equipe de campanha — Hillary Clinton é a candidata a ser derrotada. Mas, em uma campanha que contestou a “sabedoria convencional” a cada passo no caminho, imprevistos potenciais mantêm até mesmo os democratas mais otimistas em guarda.

Hillary vem superando esmagadoramente o adversário republicano Donald Trump em captação de recursos. Sua equipe de campanha é muitíssimo maior do que a operação de Trump. Ela lidera quase todas as pesquisas nacionais realizadas durante o mês passado. O mapa do Colégio Eleitoral inclina-se fortemente a seu favor.

Mas ela não está sendo capaz de garantir uma liderança em Estados chave, e Trump está tentando vencer as dificuldades, como fez várias vezes ao longo das primárias. Ele intensificou sua captação de recursos e está recebendo ajuda substancial em campo do Comitê Nacional Republicano.

Hillary continua sendo fustigada por histórias envolvendo o uso um servidor de e-mail privado quando foi secretária de Estado, doações para a Fundação Clinton e outras revelações sobre o seu mandato que continuarão a ser divulgadas até o dia da eleição. Essas questões têm contribuído para a percepção de que ela não é honesta e confiável, e Trump certamente continuará batendo nessas teclas.

Várias pesquisas sugerem que a corrida está ficando apertada. No início de agosto, a vantagem de Hillary atingiu 7,9 pontos percentuais, segundo média calculada pela “Real Clear Politics” e baseada em pesquisas nacionais. Agora, a vantagem caiu para a metade, 3,9 pontos. A disputa está mais apertada em Estados decisivos, como Flórida e Ohio, e sua dianteira diminuiu em outros locais.

Jason Miller, diretor de comunicação de Trump, disse que a campanha tem feito grandes progressos nas últimas semanas, quando “os pessimistas estavam com a corda toda”.

Mas ao longo do último quarto de século nenhum candidato presidencial atrás nas pesquisas às vésperas do Dia do Trabalho venceu a eleição geral, segundo uma análise das pesquisas do Wall Street Journal/NBC News.

A melhor oportunidade, para Trump, de inverter as posições virá em 26 de setembro, no primeiro de três debates entre os candidatos.

“Trump precisa de um ‘grand slam’ nos debates”, disse Matt Moore, presidente do Partido Republicano na Carolina do Sul.

Hillary também tem muita coisa em jogo, e um assessor disse que ela está se preparando para os debates contra duas possíveis versões de Trump em mente: sua persona combativa da campanha nas primárias, ou sua persona moderada mais recente.

“Ele é muito imprevisível. Pela primeira vez, ele estará em cena um contra um”, disse Joel Benenson, estrategista-chefe da campanha de Hillary. “Não sabemos como ele vai lidar com isso”.

Peter Hart, um pesquisador democrata argumenta que Hillary também deve aproveitar a oportunidade para tranquilizar os céticos e mostrar que pode ser confiável. Um dos maiores riscos nos debates, disse Hart, é que Hillary se revele “mais preocupada em vencer Trump [no debate] do que conectar-se com os eleitores e mostrar sua humanidade”.

Eles vão se defrontar com um eleitorado extremamente polarizado, com um número extraordinariamente alto de pessoas que rejeitam ambos os candidatos. “Eu não confio, absolutamente, neles”, diz Salem Rosales, 26, eleitora independente na Califórnia.

Uma análise de uma pesquisa WSJ/NBC News de junho constatou que 20% dos eleitores rejeitavam tanto Hillary como Trump. Em abril de 2012, apenas 5% dos eleitores rejeitavam tanto o presidente Barack Obama como seu rival republicano, Mitt Romney.

Essa forte rejeição resulta de campanhas longas e negativas que impactaram os dois partidos políticos em acirradas disputas nas primárias. Mas os eleitores se deixaram cativar pela disputa. Em maio, o instituto Gallup descobriu que 75% dos americanos já tinham pensado “bastante” sobre a eleição presidencial — muito mais do que os 42% nessa altura do que em um ano mais normal, como 2000.

O caminho de Trump até uma vitória é muito mais difícil do que o de Hillary Clinton. Ele provavelmente teria de vencer em um conjunto de Estados decisivos — Ohio, Flórida, Pensilvânia e Carolina do Norte — onde é competitivo, mas está em segundo lugar nas pesquisas de opinião, e vencer em todos os Estados historicamente republicanos onde Mitt Romney venceu há quatro anos.

Nesta fase da campanha, em que os dois candidatos já são bem conhecidos dos eleitores e em que a votação já está começando na Carolina do Norte, Iowa e outros Estados neste mês, os esforços dos candidatos ficarão cada vez mais focados em mobilizar simpatizantes, em vez de convencer outros a aderir.

Embora a maioria dos republicanos continue, publicamente, otimista sobre chances de Trump vencer, algumas autoridades eleitas estão agindo como se previssem que ele vai perder.

O senador republicano John McCain (Arizona), em seu primeiro vídeo de campanha após sua vitória nas eleições primárias, na semana passada, disse: “Se Hillary Clinton for eleita presidente, o Arizona vai precisar de um senador que irá funcionar como um contrapeso, e não um carimbo, para a Casa Branca”.

Os democratas, por sua vez, estão preocupados com o risco de uma atitude complacente acabar se instalando, com os doadores deixando de contribuir e até mesmo dos eleitores não comparecerem às urnas por pensar que Hillary já ganhou. Hart, um pesquisador democrata, disse que a campanha da democrata não deve “considerar-se na liderança”. Seu conselho, para Hillary: “Olhe apenas para a linha de chegada — não veja resultados de pesquisas, nem conte os dias”.