Título: Marta pronta para sair da disputa
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2011, Política, p. 2

Para não contrariar Lula, senadora petista deve desistir da pré-candidatura a prefeita de São Paulo até amanhã. Em tratamento de um câncer na laringe, ex-presidente faz campanha pelo ministro da Educação, Fernando Haddad

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) começou a traçar uma operação de desembarque da pré-candidatura a prefeita de São Paulo. Na segunda-feira, antes de a presidente seguir para a França, onde participa da reunião do G-20, Marta pediu um encontro com Dilma Rousseff e ali tratou de organizar a sua saída da disputa. Durante os 15 minutos em que as duas conversaram na base aérea de São Paulo, a senadora alegou que não pretende contrariar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que passa por um momento delicado em função do câncer na laringe — disputando uma prévia. Dilma, por sua vez, apelou para que Marta não dispute. A decisão final, entretanto, só será anunciada amanhã, em São Paulo, uma vez que a senadora precisa conversar com seu grupo dentro do partido, o que faz desde ontem.

Na conversa com a presidente, ficou claro que Marta tem vários argumentos para não concorrer. Primeiro, é vice-presidente do Senado, cargo estratégico para o governo. Nas ausências do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), é ela quem assume o comando. E, nessa posição, nunca é demais lembrar que pode ser candidata à titular do cargo, se for de interesse do PT, o que e, por enquanto, ainda não está claro, uma vez que o PMDB, a maior bancada, não pretende largar o posto daqui a um ano e três meses, quando termina o mandato de Sarney.

O apelo de Dilma e o de Lula, entretanto, são apenas parte de um todo. O grupo que apoia Marta cogita a desistência desde a semana passada. Ontem, eles se reuniram para avaliar a situação da senadora e, dentro da intrincada relação do PT paulistano, concluíram que faltam votos para que a ex-prefeita conquiste o direito de concorrer pelo partido em mais uma eleição municipal. Antigo apoiador de Marta, o deputado federal Jilmar Tatto é hoje pré-candidato. Ele e Carlos Zaratini, outro nome que pretende concorrer, teriam, nos cálculos de petistas, quase 30% dos votos. O ministro da Educação, Fernando Haddad, o nome defendido por Lula, tem hoje 40% do partido. Ou seja, sobra para Marta menos votos do que ela já obteve.

Apoio Ontem à tarde, em São Paulo, o presidente do PT, Rui Falcão, foi direto em conversa com jornalistas: "Tudo indica que ele (Haddad) será o nosso candidato, ele tem capacidade, tem interlocução e vai ter o apoio de todo o partido", afirmou. "O presidente Lula, assim que se recuperar, participará da campanha dele também."

E, para completar, entre enfrentar uma prévia e ficar com crédito no partido para projetos futuros, Marta prefere a segunda hipótese. "Marta é um quadro político do partido, pode perfeitamente avançar em outras áreas", comenta o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), que, no passado, já apoiou a senadora, mas hoje integra o grupo que apoia a pré-candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad.

Internamente, Haddad tem hoje uma maioria. Na contabilidade dos deputados do partido, ele tem todos os federais, quase todos os estaduais e praticamente fechou o apoio dos vereadores. Marta não tem nenhum deles em sua pré-campanha. "Se ninguém queria contrariar Lula antes, com a saúde dele 100%, imagine agora", comentou um graduado petista de São Paulo.

Nem sempre o PT faz o que Lula deseja, mas agora, nesse período, o partido não pretende enfrentá-lo, tampouco causar-lhe preocupações. Afinal, quanto mais rápido ele se recuperar, melhor para um partido que sempre contou com a voz de Lula para defender a legenda e levar a mensagem a todos os recantos do Brasil. É a ele e ao diálogo direto com a população que muitos atribuem o fato de o partido não ter sucumbido no escândalo do mensalão, por exemplo.

Enquanto Marta trabalha uma saída honrosa, os demais pré-candidatos caminham para a prévia. Até a próxima segunda-feira, eles precisam coletar 3.181 assinaturas cada um entre os filiados de forma a conquistar o direito de inscrição na prévia. O senador Eduardo Suplicy, por exemplo, recorreu ao Twitter para tentar conquistar esse número. Em sua página, fez um apelo para que assinem o seu pedido.