Valor econômico, v. 17, n. 4084, 05/09/2016. Política, p. A7

Milhares protestam contra o governo em capitais

Por: Daniela Meibak, Cristiane Agostine, Joice Bacelo e Assis Moreira

 

No primeiro fim de semana depois do impeachment, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo do presidente Michel Temer. Foram registrados atos em pelo menos quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador — sendo o da capital paulista o maior deles, com cerca de 100 mil manifestantes, segundo a organização. Os atos pediram que Temer deixe a Presidência e defenderam a convocação de novas eleições.

Em Curitiba foram 7 mil pessoas segundo a organização, 400 conforme a Polícia Militar; em Salvador, 3 mil, de acordo a organização, e 300 pelos números da PM; e no Rio, foram 5 mil segundo os organizadores. Em São Paulo e no Rio, a polícia não informou estimativa.

As manifestações foram as que reuniram o maior número de pessoas desde a posse de Temer, na quarta-feira. Em São Paulo, palco de tumultos da semana passada, a Tropa de Choque da Polícia Militar acompanhou o ato, que transcorria de forma pacífica até a dispersão, quando houve confronto, com disparos com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

Karen Menatti, de 40 anos, chegou ao Largo da Batata para o fim da manifestação e quando estava se despedindo dos amigos foi surpreendida pelas bombas jogadas pela PM em frente à estação de metrô Faria Lima. O acesso ao metrô foi fechado e Karen, sem conseguir fugir, levou um tiro de bala de borracha na coxa direita. “Estava com meus amigos quando tudo aconteceu”, disse, em estado de choque. Depois da ação policial, enquanto as pessoas fugiam, jovens adeptos da prática black bloc começaram a depredar uma agência bancária e entraram em confronto com policiais.

“Foi um ato que expressou a rea- ção à provocação infame que [Temer] fez [sobre o número] de 40 manifestantes, desqualificando a mobilização popular”, afirmou o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

No sábado, Temer havia classificado as manifestações que ocorreram nos dias anteriores de “inex- pressivas”, diante do tamanho da população brasileira. Em viagem a China para encontro do G-20, o pemedebista considerou que “são pequenos grupos e depredadores, parece que grupos mínimos. São 40, 50, cem pessoas, não mais que isso”.

Ministro da Cultura, Marcelo Calero também foi alvo de protestos e abandonou um festival de ci- nema em Petrópolis (RJ) após ser chamado de “golpista” por parte da plateia. O incidente aconteceu na noite de sexta-feira, no Museu Imperial. Em imagens gravadas por manifestantes, o ministro se exalta, faz gestos ofensivos e troca insultos com o grupo.

Ocandidato do PMDB a prefeito do Rio, Pedro Paulo, cancelou um ato de campanha ontem após ser chamado de “golpista” em Santíssimo, na zona oeste da cidade. Os manifestantes também gritaram “Fora, Temer” para os cabos eleitorais do peemedebista. Houve bateboca e troca de empurrões.

Organizadores dos atos em São Paulo, as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular convocaram mais um protesto para quintafeira, no Largo da Batata. Na véspera, a 22a marcha do Grito dos Excluídos, que é tradicionalmente realizada no dia 7 de setembro, terá posicionamento contrário ao presidente Michel Temer. A marcha está prevista para ocorrer em 23 Estados e no Distrito Federal.