Com Rio e SP, PRB quer dar salto

Silvia Amorim

05/09/2016

 

 

 Aspirante a elite partidária brasileira, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) tem ostentado nesta eleição uma posição cobiçada por pesos-pesados da política nacional. Lidera a disputa para prefeito nas duas maiores cidades do país, Rio e São Paulo, deixando para trás candidaturas apoiadas por PMDB, PSDB e PT.

Por ser um partido desconhecido da maior parte do eleitorado e governando apenas 1% das prefeituras do país (todas de pequeno porte e, em sua maioria, no Nordeste), a performance vem sendo encarada como façanha no PRB. Uma vitória no Rio ou em São Paulo pode pôr a sigla num outro patamar no xadrez político nacional.

Hoje, a legenda comanda o Ministério da Indústria e Comércio, mas não tem governador; apenas 78 prefeitos, sendo no Maranhão o seu melhor desempenho. É nesse cenário de tímida expressão nacional que o favoritismo, até o momento, nas duas grandes metrópoles chama a atenção.

Pesquisa Datafolha divulgada no dia 26 mostrou o senador licenciado Marcelo Crivella (PRB) com 28% das intenções de voto, 17 pontos porcentuais à frente do segundo colocado, Marcelo Freixo (PSOL), na corrida pela prefeitura do Rio.

Em São Paulo, o deputado Celso Russomanno (PRB) registrou 31%, 15 pontos a mais do que a vice-líder, Marta Suplicy (PMDB), seguida por Luiza Erundina (PSOL), Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB). Resultados similares foram encontrados pelo Ibope na mesma semana para as duas cidades.

Na eleição de 2012, o PRB viu Russomanno liderar a disputa no primeiro turno até uma semana antes da eleição, mas ele acabou fora do segundo turno após ser bombardeado pelas campanhas do PT e PSDB por causa de uma proposta polêmica para a tarifa de ônibus e pela ligação do seu partido com a Igreja Universal do Reino de Deus. Este ano, Russomanno segue, até agora, sem ser o alvo preferencial da artilharia dos principais candidatos.

O partido está investindo pesado nas campanhas. Numa condição financeira melhor do que quatro anos atrás, será o principal financiador de Crivella e Russomanno. Dos recursos arrecadados até agora — R$ 1,9 milhão pelo senador e R$ 1,4 milhão pelo deputado — 100% vieram do Fundo Partidário. Em 2015, o partido recebeu R$ 38 milhões em recurso públicos, 4,5% do total distribuído pelo governo. Em 2010, a fatia do PRB não era nem 1%.

O salto financeiro é resultado do crescimento da bancada de deputados federais que a sigla registrou em 2014 — de oito para 21. Hoje, o partido tem 22 deputados e um senador, o que faz dele a décima força política da Câmara.

Apesar dos esforços da legenda para distanciar sua imagem da Igreja Universal, o perfil evangélico de sua bancada permanece 11 anos após sua criação: 18 dos 22 deputados federais são evangélicos (dez deles ligados à Universal) com forte ação conservadora na defesa de projetos como a “cura gay” ou o veto a que transexuais usem seus nomes sociais na administração pública.

Russomanno é católico e tem se irritado com perguntas sobre a relação do partido com a Universal.

— Não vou discutir religião — disse ele, numa sabatina realizada em julho.

Crivella é bispo licenciado, mas também evita entrar nesse debate. Na eleição de 2014 a governador, disse:

— Vamos tratar do que o povo quer, não é guerra religiosa.

 

 

O globo, n. 30345, 05/09/2016. País, p. 4.