Lava Jato prende Mantega por suspeita de corrupção

23/09/2016

 

 

NO ALVO, O EX-CHEFE DA ECONOMIA - Arquivo X atinge ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma, que foi preso e teve mandado de soltura expedido por Moro 5 horas depois; investigação apura repasses a PT e PMDB

A Polícia Federal prendeu temporariamente ontem o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega durante a 34.ª fase da Lava Jato. Mantega é suspeito de atuar para arrecadar propina em 2012 para o PT em contrato de duas plataformas da Petrobrás para exploração do pré-sal. A prisão provisória, autorizada pelo juiz Sérgio Moro em agosto, foi revogada no início da tarde, cerca de cinco horas depois, pelo próprio titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba.

As decisões de Moro causaram um intenso debate nos meios jurídico e político. A defesa do ex-ministro classificou a ação como uma “violência” e afirmou que “as liberdades individuais e as garantias pessoais estão sequestradas e o cativeiro é o Paraná (base da Lava Jato)”. Para o PT, a prisão foi “arbitrária, desumana e desnecessária”.

Mantega foi preso no momento em que enfrentava um drama pessoal. Ele soube da ordem de prisão por telefone por volta de 7h, quando estava no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde acompanhava a mulher, que estava internada para se submeter a uma cirurgia. Segundo a PF, Mantega se entregou na portaria do hospital.

A Procuradoria da República no Paraná afirma que o ex-ministro usava o cargo para obter doações para o PT e coloca sob suspeita sua atuação no núcleo mais sensível dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Além de estar no centro da formulação da política econômica, foco de interesse direto do empresariado, Mantega mandava nas áreas de arrecadação e fiscalização tributária, tinha o poder de conceder ou cancelar incentivos fiscais e influenciava nas decisões da Petrobrás, da qual foi presidente do Conselho de Administração.

A Operação Arquivo X teve como base depoimento do empresário Eike Batista, proprietário do estaleiro OSX – por isso o nome da ação policial. Em maio, Eike “procurou espontaneamente” os investigadores para revelar que repassou US$ 2,3 milhões para uma conta dos publicitários João Santana e Mônica Moura. A suspeita é de que o montante seja referente à dívida da campanha de 2010.

‘ARQUIVO X’

● A Polícia Federal deflagrou ontem a 34ª fase da Operação Lava Jato, que apura a contratação pela Petrobrás de empresas para a construção de duas plataformas para a exploração de petróleo na camada do pré-sal

A OPERAÇÃO

49 ordens judiciais

33 mandados de busca e apreensão

8 mandados de condução coercitiva

8 mandados de prisão temporária

Guido Mantega - EX-MINISTRO DA FAZENDA

PRISÃO

Mantega foi preso temporariamente em São Paulo, mas o juiz Sérgio Moro mandou soltá-lo horas depois

CRIMES INVESTIGADOS

● Corrupção

● Lavagem de dinheiro

● Fraude em licitações

O caminho do dinheiro

US$ 922 milhões Valor do contrato da Petrobrás com o Consórcio Integra

NESSE CONTRATO, LAVA JATO DETECTOU 3 FRENTES DE CORRUPÇÃO

Consórcio Integra Formado pela Mendes Júnior e OSX para montagem das plataformas P-67 e P-70 para exploração de petróleo do pré-sal

EMPRESAS, MESMO SEM TRADIÇÃO NO MERCADO DE PLATAFORMAS, TERIAM SIDO CONTRATADAS “‘MEDIANTE O REPASSE DE VALORES A PESSOAS LIGADAS A AGENTES PÚBLICOS E POLÍTICOS”

José Dirceu

Ex-ministro da Casa Civil

R$ 6 milhões

Via contrato falso com o Grupo Tecna/Isolux, montante foi transferido, segundo as investigações, “no interesse do ex-ministro José Dirceu e de pessoas a ele relacionadas”

João Augusto Henriques – Lobista

R$ 7,4 milhões

Montante foi transferido, entre fevereiro e dezembro de 2013, pela Mendes Júnior para a empresa Trend, de Henriques, operador ligado ao PMDB

PT

Despesas de campanha

US$ 2,3 milhões

O empresário Eike Batista relatou ter repassado US$ 2,3 milhões para conta dos ex-marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura, após pedido feito por Mantega.