Canadá e Brasil: parceria que evolui ao século 21
Ontem, a data nacional do Canadá foi comemorada, pela primeira vez, em uma sessão solene na Câmara dos Deputados, um grande gesto e uma rara homenagem. Para marcar a ocasião, o próprio primeiro-ministro Justin Trudeau fez um pronunciamento virtual ao Plenário, outro ato excepcional.
Certamente temos muito a celebrar. Este ano, Canadá e Brasil comemoram o 150º aniversário de relações comerciais iniciadas com o desembarque da primeira delegação comercial canadense ao Brasil em Belém, Recife, Salvador e Rio de Janeiro em 1866.
Desde então, nossas relações têm se tornado muito mais sofisticadas.
Um fato desconhecido, os negócios brasileiros têm investido mais no Canadá do que em qualquer outro país no mundo. Por outro lado, mais de 500 empresas canadenses são ativas no país, contribuindo diretamente para o crescimento econômico e do emprego no Brasil.
O rápido crescimento dos laços interpessoais já construiu redes duradouras. O Canadá é o destino mais escolhido por brasileiros para estudos no exterior. Isso sustentará negócios, pesquisa e conexões culturais e acadêmicas para o futuro.
Entretanto, o momento é propício para uma nova parceria progressiva voltada para o futuro. Ontem, no Congresso, políticos, diplomatas, acadêmicos, ONGs e representantes do governo definiram o cenário para uma nova agenda para Canadá e Brasil, baseada em valores.
O primeiro-ministro Trudeau está traçando um rumo arrojado para o Canadá com foco multicultural e multilateral, e que prioriza o feminismo, os direitos LGBTI e dos povos indígenas, o meio ambiente e o crescimento sustentável e inclusivo.
Apesar da distância, canadenses e brasileiros têm valores semelhantes. Somos parceiros naturais.
Como o primeiro-ministro Trudeau bem menciona, neste momento em que o mundo parece cada vez mais dividido, os valores fundamentais que compartilhamos são os que devemos promover e preservar.
Nossos países precisam defender a compaixão e celebrar a diversidade. O Canadá aceitou 27 mil refugiados sírios, mais do que qualquer país no continente, seguido pelo Brasil, um fato pouco conhecido. É, portanto, natural que estejamos trabalhando em conjunto para melhorar nossa infraestrutura para receber imigrantes e refugiados.
Canadá e Brasil são conhecidos mundialmente como gestores do meio ambiente. Do Ártico à Amazônia, nossas florestas são os pulmões da Terra. Durante a atual recessão econômica, precisamos garantir que o planeta não perca o foco no combate às alterações climáticas.
Defendemos incondicionalmente o uso do diálogo para solucionar conflitos. No Haiti, mostramos o quanto nossos países podem alcançar cooperando na manutenção da paz.
Também valorizamos o desenvolvimento inclusivo. Os canadenses priorizam a rede de seguridade social que construímos ao longo do século passado. Por sua vez, o Brasil conseguiu retirar mais de 35 milhões de pessoas da pobreza em apenas uma década, um feito não igualado por qualquer outro país democrático em tão pouco tempo.
Nossos países sabem que o crescimento econômico pode beneficiar a todos. Assim, o Canadá e o Brasil estão entre os parceiros mais bem posicionados para construir uma agenda comercial progressiva.
As minorias, mulheres e comunidades indígenas não devem estar apenas em segundo plano, mas no centro das nossas agendas para o crescimento. A diversidade impulsiona a inovação, criatividade, adaptabilidade e a consciência intercultural, que hoje são os mais importantes ativos da economia moderna.
Assim como o primeiro-ministro Trudeau disse para a Câmara de Deputados ontem, Canadá e Brasil são países que deveriam mostrar ao mundo que podem prosperar “não apesar da nossa diversidade, mas por causa dela”.
Nesse espírito, vamos aproveitar o impulso deste momento quando Brasília é preenchida com o otimismo sobre a relação Canadá-Brasil.
Correio braziliense, n. 19401, 08/07/2016. Opinião, p. 13