Valor econômico, v. 17, n. 4083, 02/09/2016. Política, p. A7

Uruguai vê 'profunda injustiça' em impeachment

Por: Fabio Murakawa / Rafael Vazquez

 

O Uruguai disse ontem em uma nota considerar uma "profunda injustiça" a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff. O país vizinho, que trava com o Brasil uma disputa em torno do papel da Venezuela no Mercosul, ainda não havia se pronunciado sobre o impeachment de Dilma, confirmado anteontem pelo Senado.

Em outro comunicado, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) anunciou que está fazendo consultas com os chanceleres da entidade para a realização de uma reunião extraordinária para discutir o impedimento de Dilma, que "gera preocupação e tem implicações regionais".

As manifestações se somam a outras na região que demonstrammal estar com o impeachment. Os chamados países "bolivarianos" (Venezuela, Equador e Bolívia) usaram na quarta-feira, dia da votação no Senado, uma retórica mais agressiva em notas e pronunciamentos de seus presidentes, além de convocar seus embaixadores para consultas - em diplomacia, uma manifestação de insatisfação com a relação bilateral. Em resposta, o Brasil também convocou seus embaixadores em Caracas, Quito e La Paz.

O Chile não fez críticas ao impeachment, mas manifestou em nota "o apreço e reconhecimento à presidenta Dilma Rousseff". O documento não citou o nome do presidente Michel Temer.

"O Uruguai deseja destacar o papel da presidenta Dilma Rousseff em fortalecer a histórica relação bilateral, que permitiu alcançar uma aliança estratégica que redundou em benefício de ambos os povos", disse a nota publicada ontem pela chancelaria. O documento pede que o povo brasileiro alcance seus objetivos de estabilidade e desenvolvimento "no marco da institucionalidade". E afirma: "Para além da legalidade invocada, o governo uruguaio considera uma profunda injustiça dita destituição".

O Itamaraty ainda não havia preparado uma resposta aos uruguaios e à Unasul até a noite de ontem. A expectativa era em relação à reação do chanceler José Serra, que estava em trânsito para participar da reunião do G-20, na China.