Valor econômico, v. 17, n. 4083, 02/09/2016. Política, p. A9

Obama faz o seu esforço final em política externa

Presidente inicia sua última viagem à Ásia e tentará reforçar legado

Por: Carol E. Lee e Ian Talley

 

O presidente dos EUA, Barack Obama, vai se esforçar para incluir alguns toques finais em elementos-chave de sua agenda de política externa e avançar em prioridades não concluídas ao de embarcar hoje para a Ásia, onde inicia um mês de reuniões internacionais.

Obama participará de uma série de encontros com líderes mundiais, a começar pela cúpula do G-20, o grupo das 20 principais economias globais, na China, que será uma de suas últimas oportunidades para conversar com outras autoridades antes de deixar a Casa Branca. Na sua agenda, há questões que vão desde temas econômicos, comerciais e mudanças climáticas até outros como o Estado Islâmico, Síria, Coreia do Norte e Mar do Sul da China.

Obama se encontrará amanhã com o presidente chinês, Xi Jinping, antes de sua última reunião dos líderes do G-20, que começa no domingo, em Hangzhou. Na próxima semana, na reunião de líderes da Associação dos Países do Sudeste Asiático (Asean), ele terá uma reunião particular com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. Essa reunião levará Obama ao Laos, tornando-o primeiro presidente americano a visitar o país.

No fim do mês, Obama fará sua última participação como presidente na Assembleia Geral da ONU, onde ele deve falar sobre a não proliferação nuclear e a crise internacional de refugiados.

No passado, as reuniões do G20 serviam para lidar com turbulências econômicas globais e para debates políticos cruciais, como aconteceu nos últimos anos com as medidas de austeridade.

Neste ano, o encontro servirá como um pano de fundo para os objetivos mais amplos de Obama na Ásia, onde a longevidade de sua abordagem ainda é uma dúvida, devido principalmente à oposição no Congresso americano ao novo acordo comercial com os países da região Ásia-Pacífico.

A Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) é um pilar do chamado “reequilíbrio” da Ásia proposto por Obama, que tem como objetivo fortalecer as relações dos EUA com a China ao mesmo tempo em que estabelece laços mais próximos com outros países da região, como contrapeso à crescente influência de Pequim. Líderes republicanos, cujo apoio para o pacto é essencial, já que muitos democratas se opõem à TPP, têm dito que não votarão até o fim do mandato de Obama.

O presidente americano planeja defender o acordo comercial durante toda a sua viagem, e as autoridades da Casa Branca dizem que ele ainda acredita na possibilidade de o Congresso aprová-lo.

“Nesta parte do mundo, que é o maior mercado emergente do mundo, a TPP é vista como um teste decisiva para a liderança dos EUA”, diz Ben Rhodes, vice-conselheiro nacional de segurança.

A China não faz parte do acordo comercial. A Casa Branca planeja que Obama e Xi discutam uma série de tensões na relação entre os EUA e a China, incluindo as disputas no Mar do Sul da China, economia, direitos humanos e segurança cibernética.

Uma das prioridades econômicas de Obama na reunião do G-20 será pressionar a China para lidar com o excesso de capacidade na produção de aço e em outros setores que está solapando os mercados globais e contribuindo para o crescimento mundial anêmico.

O problema tem se tornando um dos principais incômodos comerciais para os EUA e outros países, que se queixam que Pequim não está fazendo muita coisa para resolver a questão.

“O excesso de capacidade distorce os mercados e o meio ambiente, prejudica nossos trabalhadores e se opõe aos nossos esforços para obter um crescimento forte, sustentável e equilibrado”, disse nesta semana o secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, que também estará na China.

A disputa sobre o excesso de capacidade é apenas uma das várias questões que agravam as tensões comerciais entre a China e os EUA. O yuan já recuou para o valor mais baixo dos últimos cinco anos em relação ao dólar. Os ataques cibernéticos a empresas nos EUA estão azedando as relações. E as empresas americanas se queixam de que barreiras regulatórias estão restringindo o acesso ao mercado chi- nês, mesmo com as companhias chinesas, muitas delas subsidiadas pelo Estado, realizando aquisições e investimentos internacionais em um nível sem precedentes.

A Casa Branca diz que o encontro entre Obama e Xi dever ser o último. Obama espera conquistar um compromisso simbólico de Pequim numa área em que os dois países chegaram a um acordo: mudanças climáticas. EUA e China devem formalizar o acordo internacional de mudança climática de Paris, acertado em dezembro.

Enquanto estiver no Laos, Obama planeja encontrar o novo presidente filipino. A repressão às drogas conduzida por Duterte gerou alertas dos EUA sobre questões de direitos humanos, e comentários do líder filipino sobre uma série de questões criaram controvérsias com críticos e aliados. Mesmo assim, a Casa Branca afirma que as Filipinas, como um aliado dos EUA, merecem a atenção de Obama, embora faça a ressalva de que o presidente americano deve ser “bem direto” com Duterte.

Obama usará ainda o G-20 para lidar com outras questões externas, como a relação entre EUA e Turquia, abalada pela tentativa de golpe em julho. O presidente americano se encontrará com o colega turco, Recep Tayyip Erdogan, no domingo. Obama deve ainda falar sobre a Ucrânia e a Síria com o presidente russo, Vladimir Putin.