BC: diretores defendem intervenções no câmbio

 
06/07/2016
Rodolfo Costa

 

O compromisso de derrubar o custo de vida e resgatar o tripé de política econômica — metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante — marcou o discurso dos quatro novos diretores indicados pela diretoria do Banco Central, na sabatina a que foram submetidos ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Por larga maioria, os senadores aprovaram as indicações de Reinaldo Le Grazie (Política Monetária), Isaac Sidney Ferreira (Relacionamento Institucional e Cidadania), Carlos Viana de Carvalho (Política Econômica) e Tiago Couto Berriel (Assuntos Internacionais). A decisão foi referendada pelo plenário da casa legislativa, no início da noite.

Apesar de defenderem a aplicação do tripé macroeconômico “de forma plena”, os quatro novos diretores são favoráveis ao câmbio flutuante “sujo” — a formação das cotações do dólar de acordo com as condições do mercado, mas com intervenções do governo. “Intervenções pontuais que sirvam para corrigir fortes distorções são práticas saudáveis, desde que não alterem a trajetória da moeda, que é, em última instância, definida por um conjunto de fatores locais e externos”, defendeu Le Grazie. “É preciso manter o regime de câmbio flutuante e usar as ferramentas cambiais com parcimônia para conter as disfunções do mercado”, argumentou Ferreira.

A atuação do BC no câmbio foi um dos temas mais levantados pelos parlamentares, já que, nos últimos dias, o BC recorreu aos swaps cambiais reversos — operações equivalentes à compra futura de dólares — para frear a queda da moeda norte-americana.

 

Gastos

Os indicados reforçaram ainda o compromisso, já assumido pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, no próximo ano. “Uma inflação baixa e estável, que evite a corrosão dos salários e amplie horizontes, favorecendo a expansão dos investimentos e da produção, é condição indispensável para o crescimento do emprego e da renda, bem como para o fortalecimento das políticas sociais”, avaliou Le Grazie. Ele ressaltou que a responsabilidade fiscal tem peso importante para reduzir a inflação e, consequentemente, os juros reais. “A eficiência da política monetária do BC será tanto maior quanto mais bem-sucedidos forem os esforços na implantação de reformas e na recuperação da responsabilidade fiscal”, destacou.

O discurso, entretanto, não condiz com os aumentos de gastos que vem sendo aprovados pelo governo interino. O diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery, avalia que o BC não deve contar com a ajuda de uma política fiscal restritiva para segurar a inflação. “É preciso colocar o controle de preços como prioridade e apresentar um discurso muito claro para recuperar as expectativas do mercado. Ainda que, eventualmente, isso envolva a manutenção da taxa básica de juros (Selic), ou mesmo a elevação”, disse.

No BC, continuam nos cargos os diretores Fiscalização, Anthero de Moraes Meirelles, de Regulação, Otávio Ribeiro Damaso, de Administração, Luiz Édson Feltrim, e de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural Sidnei Corrêa Marques.

 

Limites

Na avaliação do chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, a autoridade monetária deverá ter um diálogo mais transparente com o mercado para que as intervenções não gerem desconforto. “Não houve uma determinação em explicitar quando as atuações serão necessárias. Entendo que novas intervenções serão feitas para conter a volatilidade, mas é importante estabelecer limites para que essa atuação não seja contínua”, avaliou.

 

Correio braziliense, n. 19399, 06/07/2016. Economia, p. 11