Valor econômico, v. 17, n. 4082, 01/09/2016. Política, p. A7

PT deve aprovar oposição intransigente a Temer

Candidatos fazem pausa na campanha e prestam apoio a Dilma

Por: Fernando Taquari e Cristiane Agostine

 

O PT reúne a executiva nacional amanhã, na capital paulista, para discutir o papel do partido na oposição ao governo Michel Temer. Trata-se da primeiro encontro partidário após o impeachment de Dilma Rousseff. Em setembro, nos dias 15 e 16, haverá duas reuniões do diretório nacional com a presença confirmada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com dirigentes petistas, a tendência é que a sigla adote uma postura firme e intransigente contra a gestão pemedebista, sobretudo em relação à reforma da Previdência e às propostas que tratam de mudanças na legislação trabalhista.

A ideia de propor novas eleições, como defendeu Dilma, não deve ter respaldo, já que a própria cúpula do partido descartou a iniciativa. Os petistas, no entanto, ainda devem recorrer contra a decisão do Senado no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ontem, candidatos do PT e do PCdoB fizeram uma pausa na campanha eleitoral para manifestar apoio à ex-presidente e lamentar a decisão do Senado, contrariando expectativas de que poderiam ignorar o tema para, eventualmente, não prejudicarem as respectivas candidaturas.

Candidata à Prefeitura de Fortaleza (CE), a deputada federal Luizianne Lins (PT) assistiu em Brasília a votação final do impeachment e exibiu pela internet manifestações carinhosas de apoio à correligionária.

"Estamos escrevendo uma triste página da história política brasileira, mas ao mesmo tempo estamos saindo daqui (Palácio do Alvorada) com muita força e coragem. O discurso da presidente foi muito forte no sentido de que nós nascemos e somos filhos da rua, da luta, somos filhos de todos aqueles que sonham com um mundo melhor, com sociedade mais justa, mais humana, mais igual, de homens e mulheres livres e iguais", afirmou Luizianne em vídeo postado na internet.

Outros candidatos também usaram as redes sociais para criticar a postura dos senadores. "A consciência é tão culpada que não lhe retiraram os direitos políticos. Aí reside a maior prova do golpe praticado pelo PMDB e o PSDB ao destituir uma presidente legitimamente eleita", afirmou Raul Pont (PT) em vídeo no Facebook, ressaltando que, apesar da cassação, o Senado não aprovou a inabilitação de Dilma.

Candidato a prefeito em Porto Alegre (RS), Pont conclamou o povo a ir às ruas protestar contra uma política que, segundo ele, o novo governo pretende implementar e que será subordinada ao setor financeiro.

Em mensagem curta e em tom menos enfático que os demais, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que busca a reeleição, afirmou que conversou com Dilma pelo telefone para prestar solidariedade "neste triste dia para a história da democracia no Brasil". Mais cedo, em entrevista à Rádio CBN, o prefeito paulistano classificou o impedimento da ex-presidente como "um golpe institucional", uma vez que não há crime de responsabilidade.

Segundo Haddad, a decisão dos senadores torna os chefes de Executivo reféns de arbitrariedades do Legislativo. "Ouvi atentamente a arguição de acusação e não consigo verificar razão suficiente para afastar um presidente eleito".

No Twitter, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), que disputa a Prefeitura do Rio, disse que a democracia foi "rompida por um grupo de hipócritas". A parlamentar passou boa parte do dia ao lado de Dilma, inclusive, logo após o resultado da votação, quando a ex-presidente fez um pronunciamento à imprensa.

Os candidatos Tadeu Veneri (PT), Reginaldo Lopes (PT) e Alice Portugal (PCdoB), que concorrem em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA), também expressaram seu apoio para a ex-presidente via Facebook.

Até candidatos que fizeram oposição ao governo petista no Congresso prestaram sua solidariedade à Dilma. "O povo brasileiro está de luto pelo atentado à democracia e inominável injustiça contra a primeira mulher presidenta da República", disse a deputada federal Luiza Erundina, candidato do Psol à Prefeitura de São Paulo.