Planalto vê operação como satisfatória

 

22/07/2016
Naira Trindade
Julia Chaib

 

O Palácio do Planalto considerou satisfatória a operação que prendeu 10 pessoas suspeitas de envolvimento com facções terroristas a duas semanas das Olimpíadas do Rio. Na avaliação de interlocutores palacianos, a ação — orquestrada também com agentes de inteligência internacionais — demonstra que o Brasil está preparado para conter possíveis ameaças de grupos extremistas que possam tentar atrapalhar os jogos.

Antes mesmo das prisões, o presidente em exercício, Michel Temer, sabia de todos os movimentos e deu “sinal verde” para que a polícia conduzisse as investigações conforme deveria, sem interferências políticas. Temer recomendou apenas que os policiais e o Ministério da Justiça informassem a população imediatamente de tudo o que estava sendo conduzido, o que justifica a coletiva de imprensa do ministro Alexandre de Moraes, na sequência das prisões.

Temer sabia “há vários dias” de que o grupo com supostas ligações extremistas era monitorado. Ele detinha ainda a informação de que a polícia acompanha outros grupos. Segundo fontes do Planalto, Temer já sabia da ação policial na segunda-feira, quando almoçou com a cúpula da segurança: Moraes; o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha; o chefe das Forças Armadas, almirante Ademir Sobrinho; e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen.

As repercussões negativas na cobertura da imprensa vinham incomodando o Planalto. Para auxiliares palacianos, havia um exagero na discussão sobre o terrorismo que ameaçava o evento esportivo. Na madrugada de ontem, ao ser informado da operação, Temer apenas questionou se havia previsão legal, ou seja, se os mandados de prisão estavam liberados pela Justiça e, com a sinalização positiva, pediu que o Ministério da Justiça informasse a população.

O ministro-chefe Sérgio Etchegoyen ressaltou ontem que o presidente não pode ser surpreendido por investigações da Polícia Federal. “O Brasil está no centro do mundo com as Olimpíadas, e o presidente da República tem uma enorme responsabilidade. Ele não pode ser jamais ultrapassado ou deixar de entender o que está acontecendo. Não podemos deixar o presidente surpreendido com uma coisa que vai ter repercussão no mundo inteiro”, afirmou.

 

Repercussão

Do Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes avaliou como positiva a notícia das prisões. “É uma notícia que me alivia. Eu estava tranquilo e continuo da mesma maneira. Essa é uma área que eu não interfiro, mas estou sempre acompanhando de perto o trabalho das forças de segurança do país. A gente não corre risco, e essas prisões demonstram o preparo de nossos agentes”, disse.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, endossou a fala de Moraes e disse que o grupo havia sido preso porque “passou da linha de giz”. “Vocês chegaram a ver o vídeo deles? Não sei se chegaram a ver. Mas é de um amadorismo, me perdoem o linguajar um tanto vulgar, mas, de uma porra-louquice. Porque, de fato, é um grupo que não tem, digamos assim, nenhuma tradição, algo que você pudesse ter um preparativo histórico, eram jovens”, afirmou.

Já o porta-voz do governo americano, John Kirby, afirmou que a delegação norte americana não planeja alterar as orientações para a ida à cidade do Rio de Janeiro devido à suspeita de ataque terrorista. “Isso é um sinal de que estão fazendo um bom trabalho. Seguimos vigilantes em contato com as autoridades brasileiras”, afirmou. O porta-voz falou à imprensa americana após a tentativa de atentado ganhar repercussão mundial. Embora otimista quanto à segurança dos jogos, Kirby disse que toda ameaça deve ser levada a sério.

Na quarta-feira, o ministro de Esporte, Leonardo Picciani, ressaltou que mais de 50 chefes de Estado e de governo já confirmaram presença no evento esportivo. O número, porém, está abaixo da relação de participantes das Olimpíadas de Londres, quando 95 chefes de Estado e de governo prestigiaram o evento. Para garantir a vinda do presidente François Hollande, um esquema especial de segurança está sendo montado. Além disso, o governo francês pediu ao Brasil proteção adicional a seis instituições regulares de ensino, quatro consulados (Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Recife) e 68 escolas de idioma da língua francesa.

 

Frases

“Não podemos deixar o presidente surpreendido com uma coisa que vai ter repercussão no mundo inteiro”

Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional

 

“Essa é uma área que eu não interfiro, mas estou sempre acompanhando de perto o trabalho das forças de segurança do país”

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro

 

“Isso é um sinal de que estão fazendo um bom trabalho. Seguimos vigilantes em contato com as autoridades brasileiras”

John Kirby, porta-voz do governo americano

 

Correio braziliense, n. 19415, 22/07/2016. Política, p. 3