Correio braziliense, n. 19445, 21/08/2016. Cidades, p. 15

Denúncias inflamam a corrida eleitoral de 2018

O caso UTIgates também antecipa o debate sobre a sucessão de Celina Leão na presidência da Câmara Legislativa. Enfraquecimento da distrital, que era forte candidata ao GDF, beneficia seus rivais

Por: Flávia Maia, Helena Mader e Otávio Augusto

 

As denúncias que atingiram a cúpula da Câmara Legislativa colocaram sob suspeita alguns dos principais nomes do cenário político do Distrito Federal e esquentaram a eleição pelo comando da Casa, marcada para o início de 2017. O escândalo também deixou em atenção todos os potenciais candidatos a cargos majoritários em 2018, já que o enfraquecimento de Celina Leão (PPS) é um importante elemento na corrida pelo Palácio do Buriti. Mas a definição do quadro eleitoral vai depender dos desdobramentos do caso UTIgates. Celina Leão viu naufragar o sonho de aprovar a emenda que permitiria a reeleição à presidência da Câmara, mas já mobiliza aliados para tentar salvar o mandato e fazer o sucessor. Esta semana, o Ministério Público do Distrito Federal deve ouvir novos depoimentos e realizar diligências para aprofundar as investigações sobre o caso.

O escândalo do suposto esquema de desvio de recursos públicos coloca em xeque a carreira da presidente da Casa, apontada como forte candidata ao governo em 2018, e mexe com o xadrez eleitoral de Brasília a dois anos da próxima disputa. Se o horizonte da política local já estava nebuloso e abalado pela crise institucional brasileira, com o novo episódio, as rixas ganham nova dimensão. A chefe do Legislativo tornou-se um dos símbolos da oposição a Rodrigo Rollemberg (PSB), ganhou projeção com a CPI da Saúde e com a articulação de projetos polêmicos como o do Uber.

Embora Celina tenha dito nos áudios que o seu plano político era concorrer a deputada federal, ela poderia ser uma opção do PPS a cargo majoritário. Liliane Roriz também não escapará ilesa do escândalo. Ela coleciona pedidos de cassação, que não andavam por proteção política. Mas, com a crise, o processo deve ganhar velocidade.

A aposta do lado de Rollemberg é a de que a crise tira Celina de campo, mas, ainda assim, o cenário não é de calmaria. Presidente do PSB no DF, Jaime Recena, garante que ainda é cedo para pensar nas eleições de 2018. “Não temos como fazer avaliação se essa situação vai repercutir até lá. Falta muito tempo para as eleições e os candidatos ainda não estão colocados”. Em relação à crise na Câmara, Recena reitera que o assunto não tem a ver nem com o PSB, nem com o governo Rollemberg, apesar de insinuações de que o Buriti estaria por trás das denúncias. “É uma questão interna da Câmara”, alega.

O ex-vice governador Tadeu Fillipelli (PMDB) deve rivalizar com Rollemberg na corrida ao Palácio do Buriti. O peemedebista tem debatido com novos e antigos aliados, mas ainda não fechou a formação do grupo de 2018. O desenrolar da crise nacional será determinante para Filippelli. Presidente regional do PMDB, ele é um aliado e assessor próximo do presidente em exercício, Michel Temer. Com o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado, Filippelli ganhará ainda mais força na interlocução com a Presidência da República.

 

Mudanças

Enquanto Celina luta para se manter no cargo e refuta qualquer hipótese de renúncia, parlamentares começam a articular as substituições e parcerias. Amanhã, haverá eleição para vice-presidente da Mesa Diretora. Quem deve ganhar força na Câmara é o deputado Joe Valle (PDT). No meio de um vazio de liderança, ele deixou a supersecretaria que ocupava no Executivo para se dedicar inteiramente ao mandato. A turbulência causada pelas denúncias favorece ainda o distrital Agaciel Maia (PR), nome que agrada ao governo. Apesar de cotado, Agaciel acredita que não há clima para falar da disputa. “Apesar de me favorecer, esse é um momento ruim. Seria melhor competir numa situação de normalidade. A presidência depende dos colegas. É uma decisão do colegiado, mas me sinto preparado”, avalia. A articulação, segundo o deputado, deve ficar para um mês antes do pleito. “A movimentação com muita antecedência não sinaliza uma boa coisa”, garante.

Para Chico Leite (Rede), a Casa ainda não sabe quais passos serão dados no futuro. “Estamos entendendo o que está acontecendo. O certo é que esse acontecimento não foi bom para ninguém da política local”. Chico Vigilante (PT) acredita que o escândalo respinga no Executivo. “É uma desgraça para Rollemberg porque o GDF é citado. Enfraquece ainda mais o governo”. Vigilante defende o afastamento de Celina Leão. “Nessa confusão, onde todo mundo é citado, não tem como escolher alguém”. Para ele, não é o momento de a Câmara atrapalhar a governabilidade.

 

Medo

Nos áudios do UTIgates, Celina garante que não tinha intenção de disputar o GDF. “O povo fica falando que eu sou candidata ao governo. Não sou candidata a governadora. Só que o governador começa a me tratar como inimiga, entendeu? Ele tem medo, então o medo que ele tem me afasta ainda mais dele”, disse na conversa com Liliane, gravada e entregue ao MP.

 

Projeto

No áudio vazado, Celina conta que conversou com Filippelli. “Eu falei: ‘o senhor tentou me derrotar, eu ganhei (na votação em primeiro turno da emenda da reeleição). No dia seguinte, os meninos que estavam com o senhor começaram a construir uma relação comigo’. Sabe o que ele falou pra mim? ‘Posso até deixar os meninos votarem em você, mas a gente está fechado em um projeto político para 2018’”.