Temer critica defesa de Geddel de anistia a caixa 2

Cláudia Trevisan, Altamiro Silva Junior, Julia Lindner e Carla Araújo

22/09/2016

 

 

Desautorizado. Para presidente, declaração sobre proposta que pode beneficiar investigados na Lava Jato é ‘surpreendente’; ministro diz que expressou ‘opinião pessoal’.

O presidente Michel Temer desautorizou ontem, em Nova York, o chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que disse que o Congresso deve fazer “sem medo” a discussão sobre a anistia a políticos que tenham praticado caixa 2. A afirmação do ministro foi considerada “surpreendente” por Temer e explicitou mais uma vez a dificuldade do governo de afinar sua comunicação.

Também repercutiram negativamente ontem no governo as declarações do ministro da Saúde, Ricardo Barros, de que não tem certeza de que um dos pilares do ajuste fiscal proposto pela gestão Temer, a PEC que limita gastos públicos, será aprovado no Congresso.

A fala foi classificada como “mais uma besteira” do ministro.

Fonte próxima ao presidente avaliou que “é a quarta ou quinta vez” que Barros se equivoca ao dar entrevistas ou fazer pronunciamento. Em entrevista ao Estado, o ministro afirmou não ter certeza de que a PEC seria aprovada e ressaltou a necessidade de se avaliar a possibilidade de ajustes no texto.

Em Nova York, onde se encontrou com empresários e investidores um dia depois de discursar na abertura da Assembleia- Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Temer foi questionado sobre a posição do seu articulador político a respeito da anistia ao caixa 2.

A manobra tentada pelos deputados na segunda-feira só foi abortada após pressão de uma minoria dos parlamentares. A tentativa que poderia beneficiar investigados na Operação Lava Jato foi patrocinada pelos principais partidos da base aliada do presidente no Congresso.

A repercussão, contudo, foi bastante negativa e os líderes evitaram assumir a articulação.

‘Personalíssima’. Temer deixou clara a contrariedade com a manifestação de Geddel. “Pessoalmente, eu acho que não é bom, mas vou chegar lá, quero esclarecer isso”, disse o presidente, classificando a posição do ministro como “personalíssima”, que não reflete a do governo.

“Eu, pessoalmente, acho que isso é matéria do Congresso Nacional, mas eu, pessoalmente, não vejo razão para prosseguir ou prosperar nessa matéria”, declarou.

Diante da reação de Temer, Geddel precisou voltar ao tema ontem. Afirmou que apenas expôs uma opinião pessoal a favor do debate. “Eu não sei o que o presidente disse, mas o presidente sempre tem razão”, afirmou o ministro, alegando que seu raciocínio “não é de jurista” e que fez “um questionamento e não uma afirmação”.

“Questionei: se o Ministério Público manda para a Câmara uma proposta de criminalização de caixa 2, vai se criminalizar o que já é crime? Ou não é crime e precisa se criminalizar? Se não é crime e precisa criminalizar, quem fez no passado não cometeu crime. Se já é crime e vai se punir quem fez no passado, não precisa criminalizar.”

‘Cadeia’. A declaração de Geddel também provocou reações negativas na cúpula da Comissão Especial que estabelece medidas contra a corrupção. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), relator do colegiado, disse que o ministro terá de rever seus conceitos sobre caixa 2. “Depois do relatório, ele (Geddel) vai ter que mudar de opinião, porque vai ser crime e vai dar cadeia, que é o que quem faz isso merece”, afirmou Onyx.

Ao comentar a declaração do ministro, o presidente da comissão, Joaquim Passarinho (PSDPA), disse que “todos querem se proteger” da criminalização de recursos não contabilizados No colegiado que analisa as dez medidas anticorrupção do Ministério Público Federal, existem dois artigos que criminalizam a prática do caixa 2. Para Onyx, não existe nenhuma possibilidade de uma proposta de anistia ser votada novamente no plenário da Casa.

‘Lenda’. “A anistia para caixa 2 é lenda urbana, isso aqui não passa aqui, não vai acontecer. Essa teoria está sepultada e nós jogamos cal em cima, não tem como renascer. Vai ser criminalizado na linha proposta pelo Ministério Público Federal porque essa é uma exigência da sociedade”, disse Onyx. 

FALHAS’ E PROPOSTAS

‘Falhas’ de comunicação

Anistia a caixa 2

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