Correio braziliense, n. 19440, 16/08/2016. Economia, p. 8

Dólar sobe com ação do BC

Depois de se desvalorizar na maior parte do dia, moeda norte-americana fecha em alta com a ajuda de contratos oferecidos pelo Banco Central. Exportadores cobram medidas mais fortes, mas autoridade monetária prefere parcimônia

Por: Antonio Temóteo

 

O dólar registrou ontem o terceiro pregão consecutivo de alta e terminou o dia com valorização de 0,11%, cotado a R$ 3,189. O encarecimento da divisa norte-americana coincide com a oferta maior de contratos de swap cambial reverso pelo Banco Central (BC). Desde a última semana, quando a moeda atingiu a menor cotação desde 13 de junho de 2015, a autoridade monetária passou a oferecer 15 mil papéis, que equivalem à compra futura de US$ 750 milhões. Novos leilões serão realizados hoje.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, tem aproveitado o processo de desvalorização cambial para se desfazer do estoque de US$ 46 bilhões de swaps tradicionais e para evitar uma queda abrupta no valor da divisa. Mas empresários cobram medidas do governo que passam pela compra de dólares no mercado à vista, até a definição de um imposto para conter a entrada da moeda estrangeira no país.

Se, por um lado, a valorização do dólar mantém o ajuste nas contas externas, por outro prejudica o controle da inflação. Tanto Goldfajn quanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, têm afirmado que o governo é favorável à flutuação cambial. Os instrumentos disponíveis para evitar oscilações serão usados com parcimônia.

No pregão de ontem, a moeda passou a maior parte do dia em queda e chegou a despencar 0,86%. Entretanto, um movimento de saída à vista da divisa norte-americana influenciou a cotação do dia. No mercado, os analistas ainda avaliam que a tendência é de que o preço do dólar mantenha a trajetória de desvalorização. Alguns estimam que o valor poderá ser inferior a R$ 3 com a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff e com o êxito do Executivo na aprovação do ajuste fiscal.

Instituir um imposto para conter a desvalorização do dólar ou fazer a compra da divisa norte-americana à vista não são as estratégias adequadas, avaliou o diretor-técnico da Wagner Investimentos, José Faria Júnior. Conforme ele, a primeira medida foi usada durante a gestão petista e gerou bastante ruído no mercado. Já a segunda teria um custo fiscal para o país em um momento em que o deficit público pode ultrapassar os R$ 170,5 bilhões projetados para 2016.

 

Juros altos

Faria Júnior explicou que a queda do risco país devido ao processo de impeachment de Dilma e a abundância de recursos no exterior diante das taxas negativas de juros nas principais economias fizeram o Brasil voltar a atrair investimentos. Além disso, ele detalhou que a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano é um chamariz. “Nos próximos meses, é esperada entrada significativa de dólares com concessões. Só uma alta de juros nos Estados Unidos pode conter esse processo”, disse.

Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, avaliou que os fundamentos macroeconômicos não justificam o preço da moeda norte-americana. Ele destacou que com o deficit público elevado e com as perspectivas de aumento da dívida pública pelos próximos dois anos a entrada da moeda estrangeira não deve ser tão robusta como o esperado. “Estamos aproveitando uma extensão do cenário benigno no exterior”, comentou.

Para Campos Neto, o dólar deve terminar o ano próximo de R$ 3,42, mas admitiu que se o ambiente continuar favorável pode revisar sua estimativa para R$ 3,20. Campos Neto ainda afirmou que o BC deve evitar exageros para não impactar as contas públicas, com compra à vista de dólares, ou com a criação de impostos.