Crise política domina debate entre candidatos

Adriana Ferraz, Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Valmar Hupsel Filho e Julianna Granjeia

19/09/2016

 

 

Disputa. Reformas da gestão Temer, Lava Jato e impeachment motivam trocas de acusações no encontro realizado pelo ‘Estado’, TV Gazeta e Twitter ontem em São Paulo. 

O debate entre os seis principais candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido ontem pela TV Gazeta, Estado e Twitter foi marcado pela discussão de temas relacionados ao momento turbulento pelo qual passa a política nacional.

As reformas trabalhista e previdenciária, em estudo pelo governo de Michel Temer, impulsionaram as trocas de ataques entre os participantes.

Outros assuntos usados para nacionalizar o confronto eleitoral foram a Operação Lava Jato, a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o impeachment de Dilma Rousseff. Nas discussões, não faltaram menções aos padrinhos políticos dos candidatos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Michel Temer e o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

A estratégia de nacionalizar a discussão foi adotada pelo prefeito e candidato à reeleição Fernando Haddad (PT) logo em sua primeira oportunidade de perguntar.

Ele escolheu a deputada Luiza Erundina (PSOL) para questioná-la sobre proposta de Temer de criar um teto para gastos público em áreas como saúde e educação. “Eu fui contra o golpe, eu sou contra o governo Michel Temer, eu sou contra todas as medidas que ele vem implantando”, respondeu Erundina, que tentou colar a sua imagem às manifestações “Fora, Temer”.

Embora poupado pelos adversários em debates anteriores, o líder nas pesquisas de intenção de voto, Celso Russomanno (PRB) também precisou se posicionar sobre temas relacionados ao governo Temer, do qual seu partido é aliado.

Russomanno foi questionado por Marta Suplicy (PMDB) sobre uma declaração sua de que evitaria falar sobre reforma trabalhista para que sua campanha não “naufragasse”. “Quem tem que dizer para o presidente da República, que é do seu partido, que tem que resolver isso de outra forma sem tirar o direito de trabalhadores é você, não eu”, respondeu Russomanno.

Corrupção. Os ataques mais acalorados ocorreram quando os candidatos trataram de casos de corrupção, como as suspeitas envolvendo Lula e Cunha.

Ao ser questionado se faria a defesa do ex-presidente após ele ter sido alvo de denúncia, conforme orientação do PT, Haddad disse que “não teria problema com isso”. “Eu acho que o presidente Lula vai ter a chance de se defender, eu acho que você está prejulgando o presidente sem dar a ele o direito de defesa”, respondeu ao comentarista da TV Gazeta Josias de Souza, autor da pergunta.

A defesa do padrinho político também foi feita por João Doria (PSDB), que citou o governador paulista Geraldo Alckmin como “exemplo de gestão”.

“Um homem decente, que coloca acima de tudo a sua condição de servidor público”, disse, momentos após o candidato do PT atacar a gestão tucana na área de segurança.

Em seguida, João Doria emendou uma crítica ao mentor da eleição de Fernando Haddad em 2012: “Sabe qual é a diferença entre Lula e (o ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso? FHC é honesto.” Até mesmo Major Olimpio (SD), que figura entre os nanicos nas pesquisas de intenção de voto, foi constrangido pelas alianças políticas de seu partido.

“Você pode ir até o enterro do amigo. Entrar no buraco e jogar terra junto é um juízo de valor de cada um”, afirmou o candidato do SD, ao ser questionado sobre o presidente do seu partido, o deputado Paulinho da Força, um dos últimos aliados fiéis de Cunha.

Nacionalização. Ao fim do encontro, Doria criticou a tentativa de nacionalizar a discussão. “Há esse movimento de nacionalizar há pelo menos dez dias. Eu quero o oposto. Quero municipalizar o debate”, afirmou. O discurso é corroborado por Russomanno, que vê uma falta de atenção aos assuntos da cidade.

“Os temas nacionais estão em pauta, mas eu acho ruim. A cidade merece uma atenção especial.

Isso acaba tirando o foco.” Segundo Haddad, não se trata de estratégia eleitoral. “A pior coisa que eu poderia fazer é um cálculo deste tipo. Seria indigno da minha parte ficar fazendo cálculo político. Não faço este tipo de coisa por cálculo eleitoral. Jamais farei”, disse ele sobre usar a campanha para defender Lula.