Título: Posse em tom conservador
Autor: Maia, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2011, Cidades, p. 22

Chapa Aliança pela Liberdade assume o Diretório Central dos Estudantes (DCE) com discurso conciliador, mas marcado por referências afastadas da esquerda. Porta-voz do grupo enfrenta vaias e ofensas dos grupos de oposição

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB) está de cara nova. Os alunos da chapa Aliança pela Liberdade, com discurso liberal e tom direitista, tomaram posse ontem de um dos maiores centros acadêmicos do país. Muitos dos líderes estreantes compareceram à cerimônia de terno e gravata, cena até então incomum no movimento estudantil. Os grupos perdedores no pleito estiveram presentes na solenidade para demonstrar oposição. Professores contrários à reitoria e ao presidente da Associação dos Docentes da UnB, Ebenézer Nogueira, também apareceram no anfiteatro ao lado da sala do DCE para dar apoio aos vencedores.

A chapa é a primeira sem ser de esquerda e desligada de partidos políticos a ser eleita na UnB desde a redemocratização do país (leia Para saber mais). Além do DCE, ela terá a maior representação de alunos que a direita já teve nos conselhos superiores da UnB, como o Universitário. O discurso de posse lido pelo coordenador de comunicação, Davi Brito, 21 anos, estudante do 5º semestre de direito, foi um retrato da dificuldade que os representantes terão para conduzir as negociações políticas na instituição. Várias vezes o porta-voz foi interrompido por vaias, gritos de guerra e ofensas.

O perfil conservador também ficou claro nas referências do discurso de posse. Entre os citados estava o cofundador do pensamento teológico anglicano Richard Hooker. As maiores reações contrárias às declarações de Davi foram em relação ao policiamento no câmpus e aos convênios de parceria público privada, com a reativação efetiva da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec). Muitos estudantes, alguns remanescentes da ocupação da reitoria em 2008, indignaram-se e gritaram "Finatec de volta, não!".

Apesar da dificuldade, Davi Brito admitiu que esperava uma reação mais violenta dos perdedores. Ele manteve o tom político de diálogo para as futuras decisões do DCE. "Queremos que a oposição se junte a nós como composição. Várias propostas de chapas diferentes eram parecidas com as nossas, podemos melhorar a UnB juntos", declarou. O criador do grupo, o estudante de direito André Maia, 26 anos, esteve no local. Ele não terá um cargo específico no diretório, pois aos poucos se afastará das deliberações.

Chaves As chapas derrotadas devem manter o teor oposicionista durante o um ano de gestão da Aliança pela Liberdade. Para Diógenes Gomes, integrante da chapa Juntos Somos Mais, terceira colocada na votação, a perda não desarticulará os grupos de oposição. Ao contrário, a fragmentação, que atrapalhou os grupos de esquerda, deve ser repensada. "A galera vai continuar seguindo as pautas que propunha na campanha, ninguém se desarticulou. Vamos continuar lutando", afirmou.

Para a posse do DCE, o responsável pela Comissão Eleitoral mostra as contas da chapa para os representantes dos centros acadêmicos (CAs). Eles aprovam ou não os números e, só então, validam a eleição e passam as chaves da sala para a nova gestão. No caso da Aliança pela liberdade, dos 15 CAs presentes, apenas um não concordou. Mesmo assim, a votação foi validada. A chapa vencedora recebeu 22,13% dos 5.782 votos. A UnB tem cerca de 35 mil alunos de graduação e pós. "Essa é uma eleição histórica, alunos que nunca se interessaram estão agora no comando do DCE", opinou a representante do CA de Artes Visuais, Daiara Figueroa, 28 anos, aluna de mestrado.

Protesto Em abril de 2008, cerca de 200 estudantes ocuparam a reitoria da UnB para pedir o afastamento do então reitor da UnB, Timothy Mulholland. O movimento resultou no pedido de demissão de Timothy, acusado de usar R$ 470 mil do Fundo de Apoio Institucional da UnB para decorar o apartamento funcional.