Título: PT teme desfalque em 2012
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2011, Política, p. 2
Principais líderes da legenda avaliam a possibilidade de não contar com a participação do seu principal símbolo na próxima campanha eleitoral. Mensagens de solidariedade vêm até de adversários
A reação inicial às informações sobre a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi de choque para o PT. "A militância está toda em frente à televisão, acompanhando as novidades sobre o Lula. O clima é de tensão, de um certo pânico, mas as lideranças estão o tempo todo falando com todo mundo dentro do partido, tentando manter a calma", descreveu o vice-presidente da legenda, deputado José Guimarães (CE).
O líder do partido na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), estava chegando a um congresso sobre fé e política em Embu das Artes (SP), por volta do meio-dia de ontem, quando soube da notícia. "Foi uma tristeza geral no evento. O Frei Betto fez um círculo de oração, ficaram todos muito apreensivos", conta. Além de lidar com o peso emocional da notícia que atinge a maior figura política do partido, o PT terá que encarar o significado da ausência de Lula no quadro político das eleições de 2012. "O Lula deve, nesse primeiro momento, se preservar mais", recomenda o presidente da sigla, Rui Falcão.
"O ex-presidente passou os últimos 30 anos dedicando-se totalmente ao partido, teve muito pouca atenção à sua vida pessoal e acabou se descuidando da saúde. O PT terá de entender que essa é uma hora em que o partido precisará cuidar do Lula, não pressionando para ele ficar cumprindo agenda de cidade em cidade", pondera José Guimarães.
Independentemente dos prognósticos de saúde do ex-presidente, é consenso no PT que o distanciamento dele do corpo a corpo eleitoral deve ser o principal fato político no partido na corrida pelas prefeituras. Isso tem impacto direto sobre as candidaturas mais associadas ao nome de Lula como a do ministro da Educação, Fernando Haddad, à Prefeitura de São Paulo (SP). Na avaliação de caciques da sigla, o efeito deve ser benéfico durante a realização das prévias petistas para a disputa na capital paulista.
"Com toda a comoção em torno da doença, o Lula, hoje, está praticamente santificado dentro do partido. Vai ser muito difícil ir contra um candidato ungido por ele", diz um petista. A situação muda de figura nos palanques, em meio à contenda entre partidos em 2012. "Lula fará falta, não há como negar", acrescenta.
Planalto Dentro do governo federal, a reação ao diagnóstico da doença foi de preocupação. A presidente Dilma Rousseff deve aproveitar uma viagem que já estava marcada para a capital paulista amanhã para visitar Lula, antes de seguir para Cannes, na França, onde participará de encontro dos líderes do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta. Ontem, logo pela manhã, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, recebeu um telefonema de Dilma, comunicando o resultado dos exames.
O cardiologista Roberto Kalil, que integrou a equipe responsável pelo tratamento da sucessora de Lula, conversou com Carvalho em seguida. Segundo interlocutores do ministro, o médico teria afirmado que o ex-presidente estaria "pronto para desfilar no carnaval do próximo ano". Lula será homenageado pela escola de samba paulista Gaviões da Fiel, que fará do ex-presidente o tema de seu samba-enredo.
O vice-presidente Michel Temer disse torcer pela recuperação de Lula. "Afinal, ele é um homem acostumado a superar desafios e limites. Com certeza, vai superar mais este", afirmou em nota. "O presidente Lula é um homem forte e corajoso. Vencerá essa batalha. Já venceu muitas outras", escreveu a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em seu Twitter.
Tucanos A oposição também se manifestou nas mensagens de apoio. "O PSDB torce pela plena recuperação do presidente Lula, ele é muito importante para o país", disse o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE). Segundo Guerra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reforçou a postura de solidariedade da legenda "e de respeito por tudo o que Lula representou para o Brasil e para o povo brasileiro". O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse ter confiança no sucesso do tratamento a que o ex-presidente será submetido. "Ele está sendo acompanhado por médicos da melhor qualidade, é um homem forte e disciplinado. Tenho certeza de que essa doença será superada", afirmou.