Expectativas elevadas para a reunião do G-20

Andrew Moody

02/09/2016

 

 

Líderes das 20 maiores economias mundiais procuram soluções em um cenário de crescimento global anêmico

Areunião do G-20, que ocorrerá nos dias 4 e 5 de setembro, na China, precisa criar esperança por soluções para o crescimento econômico global. Esta é a opinião de Shi Yinhong, professor de relações internacionais e diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Renmin da China.
Um grupo de voluntários, chamado Xiaoqinghe (Pequena Lótus Verde), posa para selfie antes de assumir suas funções na reunião do G-20.

− Ele considera importante que o encontro mande a mensagem de que o crescimento anêmico não é um aspecto permanente da economia global. Acho que esse precisa ser o objetivo-chave: gerar uma sensação de confiança de que o mundo pode ir em frente, em uma direção positiva − diz.

O encontro dos líderes dos principais países do mundo em Hangzhou, no leste da China, acontece diante de um difícil cenário econômico, em que medidas de estímulo provam ser cada vez menos eficazes.

Também há crescentes preocupações com uma Europa instável após o ‘Brexit’, que tirará o Reino Unido da União Europeia, e com o aumento iminente das taxas de juros nos Estados Unidos.

A grande mudança desde a última reunião, em Antália (Turquia), em novembro do ano passado, é uma frustração cada vez maior com a falta de eficácia de políticas econômicas adotadas desde a crise financeira mundial em 2008.

Há quem espere que os líderes mundiais deixem para trás as medidas de austeridade para redução de dívidas e se voltem para a tendência de expansão fiscal.

Na sequência do ‘Brexit’, o governo britânico abandonou seu objetivo de gerar um excedente orçamentário até 2020 e agora visa investir em infraestrutura e outros projetos.

Zhu Ning, vice-reitor do Instituto Avançado de Finanças de Xangai, acredita que as políticas fiscais estarão em alta na pauta da reunião.

− Penso que o desafio será compreender como desenvolver uma base na qual os países possam trabalhar juntos para fornecer um estímulo fiscal e atingir um crescimento maior − pondera.

Para Rana Mitter, diretor do Centro de Estudos Chineses Dickson Poon da Universidade de Oxford, é mais fácil falar do que fazer.

− Os cartões de crédito nacionais estão em seu limite máximo e não tenho certeza se há intenção de aumentar os impostos. Existem dois grandes conjuntos de barreiras para a expansão fiscal. As políticas, com a imposição do euro como moeda única na Europa e o recente ‘Brexit’, e as grandes mudanças estruturais de longo prazo, em que vários atores econômicos estão envolvidos. Isso deixa pouco espaço para os governos − afirma Mitter.

Martin Jacques, autor do livro “Quando a China Governar o Mundo” e professor convidado do Instituto de Relações Internacionais Modernas da Universidade Tsinghua, em Pequim, acredita que a reunião possa ser um momento decisivo.

− Existe uma crise na governança global. Acho que muitos países, em particular os em desenvolvimento, esperam que a China tome a liderança. Se você olhar o que está conduzindo o crescimento na Ásia Central, é a iniciativa chinesa Belt and Road. De igual maneira, na África, é o investimento chinês em infraestrutura − diz Jacques.

E ele ainda destaca:

− Com novas instituições, como o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, a China agora se vê como uma força motriz da globalização. Se você voltasse só três ou quatro anos no tempo, diria que não tinha como isso estar acontecendo.

Kerry Brown, professor de estudos chineses e diretor do Instituto Lau China do King’s College, em Londres, diz que os problemas que o mundo enfrenta agora são muito complexos para serem resolvidos em uma única reunião.

− Há uma oportunidade de construir algum tipo de consenso internacional sobre o que fazer. A questão central será como equilibrar as expectativas das pessoas em relação aos seus padrões de vida, de maneira sustentável, e desvendar as preocupações reais sobre o crescimento estagnado da renda − analisa.

Um item importante em pauta na reunião será como responder a movimentos protecionistas de países individuais. Donald Trump, o candidato Republicano à eleição presidencial dos EUA, falou sobre taxas de até 45% sobre produtos chineses. David Shinn, ex-diplomata norte-americano e professor adjunto de negócios internacionais na Universidade George Washington, acredita que a reunião endossará fortemente uma agenda de livre comércio.

− O protecionismo comercial tem sido uma tendência em diversos países ocidentais. Certamente vemos isso na campanha presidencial dos EUA, baseado no argumento de que a globalização resulta em perdas de empregos americanos. A maioria dos americanos, porém, entende que o protecionismo e as guerras comerciais resultantes dele fazem mais mal do que bem − afirma Shinn.

Rana Mitter, da Oxford, diz que será um grande desafio para os líderes e para os criadores de políticas fazer uma reunião que mude o jogo.

− As pessoas sempre falam sobre redefinir a pauta, mas alguém sabe, de verdade, qual seria a nova pauta? − questiona.

Zhu Ning, que também é professor de finanças da Universidade Tsinghua, explica que todas as ferramentas tradicionais monetárias e fiscais existentes já foram implantadas.

− O impacto periférico de tais políticas está diminuindo progressivamente, o que significa que é difícil descobrir a solução − opina. Shi Yinhong, da Universidade Renmin, acredita que existam outras rotas para seguir: − É preciso dar ênfase também na importância da inovação ao liderar o crescimento, e é aí que a China toma a frente, com seu rápido desenvolvimento em tecnologia verde e e-commerce. É assim que a China pode mostrar um caminho para os outros − finaliza.

 

 

O globo, n. 30292, 14/07/2016. País, p. 10.