Resistência mínima contra a queda

 
26/07/2016
Julia Chaib
João Valadares

 

Mesmo durante o “recesso branco” parlamentar, a defesa da presidente Dilma Rousseff deve entregar até amanhã as alegações finais da petista por escrito à Comissão Especial do Impeachment. O documento voltará a bater na tecla de que houve desvio de poder por parte de parlamentares que encamparam o processo, além de cerceamento da defesa. A petista ainda prepara uma carta para apresentar nas próximas semanas em que apontará medidas a serem tomadas em caso de retorno. Dentro do próprio partido, porém, há a avaliação de que  houve falhas na estratégia para conseguir reverter votos suficientes para salvá-la.

A análise dos próprios apoiadores da presidente é de que a falta de amparo à proposta de chamamento de novas eleições como moeda para um retorno e a baixa adesão a atos de rua colaboraram para piorar o cenário. Dilma ainda viajaria menos do que o ideal. A presidente fez 10 viagens nos últimos dois meses e conseguiu arrecadar R$ 773 mil em uma vaquinha virtual. No mês passado, ela foi ao Rio de Janeiro e a cidades do Norte e do Nordeste. Ontem, a presidente esteve em Aracaju. Já a última grande manifestação ocorreu 10 de junho e ainda não há um protesto nacional marcado antes da votação.

A admissibilidade do impeachment no Senado foi aprovada em 12 de maio por 55 votos a 22, e três ausências. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se absteve. Senadores a favor do impeachment contam com pelo menos mais dois votos pela votação do parecer do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) em plenário, sendo um deles o de Jader Barbalho (PMDB-PA) — que esteve ausente —, cujo filho, Helder Barbalho (PMDB) é ministro da Integração Nacional. Já Pedro Chaves (PSC-MS) — suplente do senador cassado Delcídio do Amaral (PT-MS) está sendo cotado pelos dois lados, embora aliados de Dilma acreditem que ele votará a favor do impeachment.

Petistas vinham trabalhando para reverter votos de senadores ditos indecisos. O PT buscava seis votos estratégicos, considerados indecisos: Acir Gurgacz (PDT-RO), João Capiberibe (PSB-AP), Roberto Rocha (PSB-MA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Cristovam Buarque (PPS-DF) e Hélio José (PMDB-DF). Dilma tem conversado com parlamentares, mas os próprios senadores do PT não levaram a ideia adiante. Senadores queriam ao menos 28 assinaturas para levar adiante a proposta, o que não ocorreu. Em jantar no último mês na casa do senador Roberto Requião (PMDB-PR), ficou definido que se chamaria um plebiscito para consultar a população sobre eleições. Gurgacz teria dito ao presidente do partido, Carlos Lupi, e assegurado a colegas que votaria em prol da petista.

 

Andanças

Líder do PT na Casa, o senador Paulo Rocha (PA) diz não ter números exatos sobre o placar, mas afirma que o clima melhorou. “São várias conversas que estamos tendo. A própria presidente conversando diretamente com senadores. Não tem essa de jogar toalha. Muito pelo contrário”, disse. Segundo ele, a carta que será divulgada por Dilma tratará da importância do retorno da petista, com pontos políticos e econômicos. “Ele vai abordar também a importância de uma reforma política no país”, disse.

A senadora Ana Amélia (PP-RS), uma das mais ativas na comissão, diz que defender a proposta de novas eleições é uma “autodeclaração” da capacidade de governar. “Essa proposta está morrendo na praia. Foi uma tentativa de obter apoio, mas ninguém acredita mais nisso. Acho que ela também cometeu um erro estratégico ao mandar uma carta perante a comissão, e atacar os senadores chamando-os de golpistas”, diz.

Professor de Ciência Política da Escola Brasileira de Administração Pública de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Octavio Amorim Neto, acredita que as chances de retorno são baixas, mas existem. “Dentro do próprio PT se esperava mais atividade. Mas o fato é que ela hoje tem menos recursos para viajar e há uma rejeição grande, então se ela se expor mais, pode sofrer a rejeição. E, toda vez que ela critica o Congresso, ela perde amigos”, disse.

O cientista político Sergio Abranches avalia que não se criou um grande movimento em torno da proposta das eleições pela falta de revisão constitucional nem legal, a não ser que todos renunciassem. Abranches, porém, diz ser difícil analisar o resto da estratégia de Dilma para ganhar votos. “Estamos num terreno de um tipo de negociação, que a ciência política passa a vida inteira procurando saber como se faz”, disse.

 

Cronograma

Confira o passo a passo da análise do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff

 

» 27 de julho — Fim do prazo para a apresentação escrita das alegações finais da defesa

» 28 de julho a 1 º de agosto — Elaboração do parecer

» 2 de agosto — Leitura do parecer na comissão

» 4 de agosto — Votação da pronúncia na comissão (para aprovação é necessário o voto da maioria dos presentes à sessão)

» 9 de agosto — Votação da pronúncia em plenário (para aprovação é necessário o voto da maioria dos presentes à sessão)

» A partir de 21 de agosto — Julgamento final (são necessários os votos de 2/3 do plenário, ou 54 senadores, para aprovar o processo)

 

Correio braziliense, n. 19419, 26/07/2016. Política, p. 2