Paulo Bernardo na mira da PF

 

27/07/2016
Eduardo Militão
 

A Polícia Federal indiciou o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo por organização criminosa e corrupção passiva na Operação Custo Brasil e mais 21 pessoas, entre elas o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira e o advogado eleitoral Guilherme Gonçalves, que atuou para a campanha da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR). Eles são suspeitos de praticar por vários crimes, alguns por apenas certos delitos, como organização criminosa, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

A defesa de Paulo Bernardo informou ao Correio ontem que o indiciamento, na visão dos advogados, não tem nenhuma novidade em relação à investigação inicial, que resultou na prisão de Paulo Bernardo em 23 de junho, quando ficou detido durante seis dias. O ex-ministro é acusado de ficar com R$ 7,2 milhões de um total de R$ 100 milhões desviados de taxas de administração de créditos consignados entre servidores e bancos por meio da empresa Consist. Mas ele “não recebeu qualquer quantia da Consist, direta ou indiretamente”, segundo nota da advogada Verônica Sterman.

O delegado da PF Ricardo Hiroshi Ishida entregou relatório de indiciamento na sexta-feira à 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O documento reflete uma opinião dos investigadores da polícia e foi enviado ao Ministério Público para a procuradoria oferecer denúncia, pedir mais apurações ou solicitar o arquivamento do caso contra os suspeitos. “O importante é que esse relatório não traz informações ou elementos novos”, disse Rodrigo Mudrovitsch, outro advogado de Bernardo. “Tudo o que consta no processo indica que não houve participação do meu cliente.”

A Polícia Federal e o Ministério Público entendem que Paulo Bernardo tinha conhecimento dos desvios de dinheiro de servidores públicos a partir da administração dos créditos consignados. A Consist fechou contrato com a Associação de Bancos e com o Sindicato das Entidades Fechadas de Previdência, que tinham acordo com o Planejamento. Para cada pagamento feito pelo servidor do empréstimo tomado, uma taxa de pouco mais de R$ 1 era destinada à Consist. Mas, segundo os investigadores, a empresa repassava 70% do valor, a título de serviços fictícios a operadores e “parceiros” do esquema. Em cinco anos, foram desviados R$ 100 milhões desta maneira. Verônica Sterman disse em nota que o contrato entre a Consist e as entidades foi fechado sem “qualquer ingerência” do Ministério do Planejamento, à época comandando por Bernardo.

 

Imóveis

Para os investigadores, o Partido dos Trabalhadores e o próprio ex-ministro estavam entre os destinatários da suposta propina disfarçada. Bernardo receberia os recursos por meio do advogado Guilherme Gonçalves para pagar dois empregados, imóvel e ações na Justiça Eleitoral.

E-mail do advogado, em poder do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra uma planilha, de fevereiro de 2015, que lista recursos do fundo contábil Consist para pagar despesas de Gleisi Hoffman também e de militantes do PT, além de honorários de Gonçalves. A apuração sobre a eventual participação da parlamentar está no STF. Em sua defesa, a senadora diz que ela e o marido não cometeram ilegalidades. “Quem nos conhece sabe que não fizemos fortuna, não temos conta no exterior, levamos uma vida confortável, porém modesta”, afirmou ela, em junho.

Os advogados de Paulo Ferreira, José Roberto e Guilherme Batocchio, não retornaram os recados da reportagem. O ex-tesoureiro do PT e o partido têm negado as acusações. A defesa de Gonçalves não foi localizada. A Consist tem dito que “sempre colaborou e continuará colaborando com a Justiça e com os órgãos de investigação”.

 

R$ 300 mil por tríplex

A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva entrou ontem com ação para cobrar R$ 300 mil de restituição relacionada a um tríplex com vista para o mar em um edifício no Guarujá, no litoral sul de São Paulo. O valor, segundo os advogados da mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é referente a cota-parte do imóvel adquirida pela ex-primeira-dama no condomínio Solaris. O alvo da cobrança é a Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e a empreiteira OAS. Lula é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica por ocultar a propriedade do imóvel, que foi reformado pela OAS ao custo de R$ 777 mil. A defesa do ex-presidente afirma que ele não é o dono do tríplex.

 

Delator: “Todas pagavam propinas”

O ex-diretor de Desenvolvimento e Construções Industriais da Andrade Gutierrez Antônio Pedro Campello Dias, afirmou que todas as empreiteiras pagavam propinas no esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. “Sim, todas pagavam”, afirmou Campello, ao ser indagado pelo juiz federal Sérgio Moro, durante audiência da Operação Lava-Jato. Campello é um dos ex-dirigentes da segunda maior empreiteira do país que fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. Os delatores não querem mostrar o rosto. Por isso, a audiência com Antônio Campello exibiu apenas sua voz.

 

Correio braziliense, n. 19420, 27/07/2016. Política, p. 2