‘Mercosul seguiria adiante com mais facilidade sem a Venezuela’, diz Macri

Rodrigo Cavalheiro

29/09/2016

 

 

Entrevista. Presidente argentino afirma que entrada do país governado por Nicolás Maduro ‘não acrescentou nada positivo’ ao bloco regional e afirma que referendo revogatório do mandato do chavista precisa ser realizado pelos venezuelanos ainda este ano 

O presidente argentino, Mauricio Macri, já vê o Mercosul sem Caracas, que tem até 1.º de dezembro para cumprir normas de adesão, sob pena de ser, no mínimo, rebaixada.

Segundo ele, o bloco “seguiria adiante com mais facilidade sem a Venezuela”. Há quase 10 meses no cargo, Macri recebeu parte da imprensa brasileira na Quinta de Olivos, em razão da visita que o presidente Michel Temer fará a Buenos Aires, na segunda-feira.

Um tema discutido pelos dois será o tratamento reservado ao governo de Nicolás Maduro.

A oposição venezuelana tenta convocar um referendo para revogar o mandato do chavista, mas o governo opera para que isso só ocorra após 10 de janeiro.

A manobra faria com que só houvesse a troca de Maduro por um vice, não uma nova eleição.

O chanceler José Serra afirmou na Colômbia, na segundafeira, que a Argentina pretendia fazer a região pressionar Maduro com uma nota conjunta. Houve discussão se a iniciativa atrapalharia uma tentativa de mediação papal. Ontem à noite, a chancelaria argentina finalmente divulgou o comunicado, que critica a Venezuela por usar um método de coleta de assinaturas para atrasar o processo. O texto tem ainda apoio de Brasil, Paraguai, México, Peru e Chile.

O líder argentino se disse aberto a discutir com Temer todas as alternativas que permitam antecipar a eleição venezuelana.

“O ingresso da Venezuela não acrescentou nada positivo ao Mercosul”, disse Macri a correspondentes do Estado, da Folha de S. Paulo e de O Globo. Ele esteve na Colômbia para a assinatura da paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Ele permaneceu com Maduro na mesma sala, mas não se cumprimentaram.

Indagado sobre se Caracas teria condições de cumprir as exigências dos demais países do Mercosul até dezembro ou se seria mais conveniente que saísse do bloco, Macri foi direto: “A Venezuela não cumpriu os requisitos que tinha de cumprir para ser um membro ativo do Mercosul”.

A possível suspensão dos venezuelanos foi decidida há 15 dias. O Uruguai, único a defender a presença de Caracas na presidência do grupo, absteve-se em uma votação dos fundadores.

Prevaleceu a vontade de Brasil, Argentina e Paraguai.

Telhado. Macri lida com uma inflação que só perde para a venezuelana na América Latina. O índice caiu em agosto, mas ainda é superior a 40% nos últimos 12 meses. “Em função do risco enorme que a Argentina tinha de ‘chavização’, de um crise econômica similar à que tivemos em 2001 e 2002, mudamos em meses diametralmente as expectativas dentro e fora da Argentina”, defendeu-se.

O argentino enfrenta o desafio de ser o primeiro não peronista a concluir mandato. Ele conseguiu aprovar no Congresso o fim da dívida com os fundos abutres, credores que não aceitavam renegociar o calote argentino.

Também fez passar no Legislativo a repatriação de dólares, anistia para estimular o combate à sonegação e lavagem de dinheiro – ele retirou o equivalente a R$ 3,8 milhões das Bahamas para dar exemplo, mas sua declaração de bens ainda é contestada na Justiça.

PONTOS-CHAVE

Uma pressão continental sobre Caracas

Adesão

Suspensão do Paraguai, após queda de Fernando Lugo, em 2012, abre caminho para Venezuela de Maduro se tornar membro do Mercosul

Cláusula democrática

Secretário-geral da OEA, Luis Almagro, tenta impor cláusula democrática ao caso da Venezuela, mas Caracas consegue apoio para impedir aprovação

Suspensão

Maduro é impedido de assumir presidência rotativa do bloco e recebe ultimato para se adaptar às regras do Mercosul ou perder condição de membro pleno.