Título: Títulos públicos se tornam uma boa opção à poupança
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2011, Economia, p. 21

Equipe econômica muda o Tesouro Direto para atrair pequenos investidores

A tradicional caderneta de poupança ganhou um concorrente de peso: os títulos públicos, recomendados pelos agentes de mercado como um dos investimentos mais seguros, competitivos e de baixo risco, especialmente em momentos de crise, como o atual. Para torná-los ainda mais atrativos, o governo acaba de desenhar uma série de mudanças. Facilitou a compra para pessoas físicas, pela internet, pelo Programa Tesouro Direto — que completa 10 anos em 2012. O valor mínimo de investimento caiu de R$ 100 para R$ 30, sem as taxas. Outras novidades virão no primeiro semestre do ano que vem, como compras programadas, possibilidades de reinvestimento e vendas agendadas, segundo o gerente de Relacionamento do Tesouro Nacional, André Proite. A ideia é tornar a opção cada vez mais popular para caber no bolso dos pequeno poupador.

Atualmente, o título mais barato custa R$ 570. A aplicação mínima sai por R$ 114, incluídas as taxas. "Agora, cairá de 20% do valor do título para 10%", explicou. Outros benefícios articulados pelo Tesouro para os mais de 260 mil investidores cadastrados são as compras programadas, que permitem ao investidor indicar o que pretende adquirir por um período determinado. Mas, se não quiser resgatar o título no dia do vencimento, passará a ter a opção de reinvestir os juros automaticamente. Quando quiser se livrar dos papéis, não precisará esperar o leilão das quartas-feiras do Tesouro. Pode agendar a venda previamente.

O Tesouro estuda, também, elevar o valor máximo de compra de R$ 400 mil para R$ 1 milhão. Para fomentar as operações, vai manter o programa de incentivo às corretoras que mais vendem títulos. Segundo Proite, esse estímulo funcionaria só em 2011, mas, "como deu certo", aquelas que se destacarem vão continuar recebendo descontos de taxas nas transações da Bolsa de Valores. O Tesouro Direto foi desenvolvido pelo Tesouro Nacional em parceria com a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).

Apesar do baixíssimo risco dos papéis do governo, o investidor deve ficar atento. "Comparado com a tradicional caderneta, o Tesouro Direto sai ganhando, mas há que se ter cuidado. É preciso conhecer o mercado e saber analisar oportunidades", aconselhou o economista César Bergo, da Planner Corretora. A poupança tem isenção fiscal, rende sem necessidade de reinvestimento e não tem taxas administrativas. Mas a rentabilidade é inferior e a Taxa Referencial (TR), que define o ganho, oscila segundo uma fórmula complicada. Em dois anos, explicou Bergo, considerando juros de 7% ao ano (6,50% mais 0,5% da TR), a poupança renderia 14%. Para quem aplica R$ 1 mil, seriam mais R$ 140.

Oscilações "Em títulos, sejam eles quais forem, essa mesma pessoa não receberá menos de 16%, ou R$ 160, descontadas as taxas. Mas tem que ficar de olho no mercado para não errar", afirmou. Semelhantes a qualquer aplicação sujeita a oscilações, os títulos podem apresentar rentabilidade acima ou abaixo das expectativas, porque refletem o valor de mercado. Além disso, têm descontos de Imposto de Renda (IR) sobre o rendimento do capital, a ser deduzido pelo agente de custódia (bancos ou corretoras). Na data da venda antecipada ou do vencimento, só depois de todos os descontos — IR, taxas de administração e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) —, o valor líquido é depositado na conta do investidor.

O Tesouro informa, no entanto, que, se o investidor "carregar" os títulos até a data de vencimento, receberá a rentabilidade bruta pactuada no momento da compra. Os títulos públicos podem ser de curto, médio e longo prazo. Indexados a índices de inflação, à taxa básica de juros (Selic) ou com ganho prefixado. Para aplicar, o investidor tem que morar no Brasil, possuir CPF e se cadastrar em uma instituição financeira habilitada. Pelo endereço http://www.tesouro.gov.br, é possível acompanhar os investimentos.

Revisão A retomada do processo de redução dos juros básicos fez algumas alas da equipe econômica resgatarem uma discussão iniciada no fim de 2008: a revisão da Taxa Referencial (TR), que corrige a poupança. A preocupação ressurgiu porque, embora o governo deseje que a Selic volte a um dígito, um valor abaixo de 9% ao ano tornaria os fundos de investimento menos rentáveis do que a caderneta — considerando o custo de administração e o desconto do Imposto de Renda. O temor é que os investidores institucionais, grandes credores da dívida pública, desistam de financiar a máquina federal. Isso pode ocorrer caso seus cotistas migrem em massa rumo à poupança. Uma das alternativas estudadas para diminuir a rentabilidade da poupança é atrelar seu rendimento a um índice equivalente a 80% da Selic.