Correio braziliense, n. 19434, 10/08/2016. Política, p. 3

Petista conversa com Lula e parlamentares

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

A carta ao povo brasileiro, última esperança da presidente afastada, Dilma Rousseff, na tentativa de salvar o próprio mandato, será discutida hoje em um almoço da bancada de senadores do PT com ela. Mas nem o próprio partido acredita mais nas intenções de Dilma. O presidente da legenda, Rui Falcão, já disse que não concorda com a convocação de novas eleições. Petistas renomados admitem que o prazo para um movimento desse tipo expirou há tempos. “Não é à toa que chegamos à situação que estamos”, lamentou um cacique petista.

No documento, cogitado há mais de um mês, mas que jamais se concretizou, Dilma apresentaria propostas e projetos caso escape do impeachment e retome o poder federal. Entre eles, a convocação de um plebiscito para a realização de novas eleições; um discurso econômico menos radical que não descartaria, sequer, a possibilidade de manutenção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para acalmar os mercados; e a garantia de que, no novo ministério, não serão indicados investigados na Operação Lava-Jato.

O ponto central do documento continua sendo o mais problemático: a realização de um plebiscito para convocação de eleições. Apesar de o tema contar com alguma simpatia popular, demonstrada em algumas pesquisas de opinião divulgadas recentemente, ele não inflamou os movimentos sociais nem o próprio PT. “Não vejo nenhuma viabilidade para esse tipo de proposta”, disse o presidente nacional do partido, Rui Falcão. Ele ressaltou ainda discordar politicamente da iniciativa, já que a presidente abriria mão do próprio mandato.

Militantes petistas afirmam que esse é mais um sinal de abismo entre Dilma e o PT, o que torna ainda mais difícil o afinamento de um discurso entre as duas partes. “Se, com o apoio do partido, Dilma enfrentou sérios problemas de governabilidade, como ela vai governar com o PT divergindo frontalmente dela?”, afirmou um integrante do primeiro escalão petista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já deu sinais inequívocos de que o importante, neste momento, é discutir o resgaste do PT e o discurso pós-impeachment — Dilma, na cabeça lulista, é página virada —, chegou ontem à capital para se encontrar com a pupila. Discutiriam o teor da carta, o que vale a pena ser mantido, o que é preciso ser alterado e o que não é digno de menção.

 

Eleições municipais

Mas Lula permanecerá hoje em Brasília e vai se reunir, à noite, com as bancadas de deputados e senadores do PT para discutir a crise política e o futuro do partido. O ex-presidente quer alinhar o discurso de oposição do partido e pensar como a legenda vai sobreviver ao pós-impeachment. “Lula está sereno, sabendo que ainda falta a última batalha, no fim do mês”, desconversou o senador Humberto Costa (PT-PE), numa alusão à votação final do impeachment.

Mas o ex-presidente não está com o pensamento na votação do fim de agosto, e sim nas eleições de outubro. O PT quer consolidar o discurso do golpe e ficou animado com a recepção que a tese teve em alguns momentos dos Jogos Olímpicos. Os petistas comemoraram as vaias ao presidente interino, Michel Temer, na cerimônia de abertura da Rio 2016, na última sexta-feira. Acham que é a prova cabal de que o desgaste da classe política é generalizado, e não concentrado apenas no PT.

O partido também está bastante animado com as possibilidades de êxito em algumas capitais do Nordeste. João Paulo está bem avaliado no Recife, e o PT tem boas chances em Petrolina. Em Fortaleza, o partido resolveu peitar os irmãos Cid e Ciro Gomes e lançar a candidatura de Luizianne Lins, que não contará com o apoio do governador, o também petista Camilo Santana, que defenderá a reeleição de Roberto Cláudio. Curiosamente, em 2004, quando Luizianne foi eleita a primeira vez para a prefeitura, não tinha apoio da cúpula partidária, que preferia a vitória de Inácio Arruda (PCdoB).