Correio braziliense, n. 19412, 19/07/2016. Política, p. 4

Planalto estuda fundir pastas

Mudança na Esplanada dos Ministério ocorreria depois das Olimpíadas e incluiria a incorporação da pasta do Turismo pelo Esporte

Por: Paulo de Tarso Lyra e Naira Trindade

 

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, poderá ver a sua pasta ser fundida com o Turismo tão logo se complete o processo das Olimpíadas Rio 2016 e a votação do impeachment no Senado. E, o que é pior, não comandar nenhum dos dois e voltar a exercer o mandato de deputado federal. É o que defendem caciques importantes do governo, que ainda não engoliram o fato de Picciani ter incensado a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI) para a Presidência da Câmara, na semana passada.

Ao tentar mostrar força dentro da bancada, indicando que ainda pode apoiar nomes vencedores em disputas internas — Castro foi o mais votado em eleição que envolvia Carlos Marun (MS) e Osmar Serraglio (PR) —, Picciani irritou ministros importantes do governo. Além de ter votado contra o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, a candidatura de Marcelo Castro foi apoiada pelo PT.

No dia da votação, o ex-deputado Sandro Mabel (GO) estava no plenário da Casa pedindo para que os peemedebistas desidratassem Castro. “Vocês querem que amanhã a manchete de todos os jornais seja Lula derrotou Temer”?, pressionava. Tão logo o resultado do segundo turno confirmou a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma comemoração pôde ser ouvida no gabinete presidencial. “Derrotamos o Picciani”. Na avaliação interna, a articulação do ministro do Esporte envolvia, além da prova de ascendência sobre a bancada, uma questão regional. Ele não queria ver Maia, político fluminense como ele, tendo posição de destaque nos próximos sete meses, tempo em que vai durar o mandato-tampão.

Nesse período, Maia terá os holofotes sobre si em pelo menos dois momentos. O primeiro será a votação de cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deve durar horas. A outra questão é que Maia é o primeiro na linha sucessória e assume interinamente o Planalto toda vez que Temer viajar para o exterior. Em setembro, por exemplo, duas viagens já estão previstas: ele vai a Pequim e a Nova York, participar da abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Cautela

Ministros próximos do presidente, contudo, já o aconselharam a não tomar decisões precipitadas. O pai de Picciani, Jorge, é presidente do diretório fluminense do PMDB, o maior de todos os 27, e alguns conselheiros defendem que é momento de compor, não tensionar. Por isso, Picciani pode permanecer onde está, especialmente porque a decisão só será tomada daqui a pouco mais de um mês.

De qualquer maneira, para não gerar problemas que não possam ser desfeitos depois, Temer ainda não escolheu um nome para ocupar o Ministério do Turismo. A pasta está sendo comandada interinamente por Alberto Alves, desde a saída de Henrique Eduardo Alves. O ministério era pretendida pela bancada do PMDB de Minas, mas esta já foi contemplada pela indicação de Ricardo Medeiros para diretor-presidente de Furnas. Ele já era diretor de operações da estatal.

Ontem, o Diário Oficial da União trouxe a nomeação de Kênia Régia Anasenko Marcelino para exercer o cargo de presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração Nacional. A pasta é atualmente comandada por Helder Barbalho. O pai dele, senador Jader Barbalho (PMDB-PA), deve manter também o controle sobre a Eletronorte, embora os nomes ainda não estejam sendo discutidos.

 

Filtro reduzido

Para agilizar as nomeações de indicados para o segundo e o terceiro escalões dos ministérios e alguns cargos estaduais que não envolvam estatais, o governo resolveu eliminar a checagem de dados e antecedentes feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os nomes são encaminhados pela Secretaria de Governo à Casa Civil diretamente. Os indicados sabem, contudo, que qualquer questionamento posterior à posse resultará em exoneração sumária.