Correio braziliense, n. 19408, 15/07/2016. Economia, p. 7

Apesar de ação do BC, dólar recua a R$ 3,25

Analistas acreditam que tendência de queda da moeda norte-americana pode se acentuar com entrada de recursos externos na economia e melhora do cenário político. Bolsa tem mais um dia de alta e alcança o maior patamar desde maio de 2015

Por: Rodolfo Costa

 

Mesmo com as seguidas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, o dólar voltou a recuar ontem. A moeda norte-americana caiu 0,46% e terminou a sessão cotada a R$ 3,259 para a venda, mas chegou a atingir R$ 3,221 na mínima do dia, às 11h30. A autoridade monetária anunciou que, hoje, vai oferecer novamente US$ 500 milhões em contratos de swap cambial reverso — operação equivalente à compra de dólares no mercado futuro.

A medida, porém, pode ser inócua para segurar as cotações. Na avaliação de analistas do mercado financeiro, tanto o cenário externo quanto o interno favorecem a queda da divisa, que pode recuar ainda mais frente ao real. Em relatório divulgado ontem, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, informou que espera um ingresso de US$ 221 bilhões nas economias latino-americanas neste ano, boa parte dos quais deve ter o Brasil como destino, estimulando a valorização do real.

O país atrai o investidor estrangeiro por oferecer juros extremamente elevados em comparação aos que prevalecem nas principais economias, onde as taxas chegam a ser negativas. Com a expectativa de recuperação da economia brasileira após a mudança de governo, uma parcela considerável desses recursos deve se dirigir para o mercado de ações, segundo analistas.

Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) teve a sétima alta diária consecutiva e fechou com ganho de 1,62%, alcançando 55.480 pontos, o maior nível desde 19 de maio do ano passado. A expectativa do mercado é que mais de R$ 200 bilhões desembarquem na bolsa neste ano, movimento que deve provocar também reflexo no câmbio.

No campo doméstico, a principal razão para o bom desempenho dos mercados, ontem, foi a eleição do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados. O entendimento é de que o parlamentar será um firme aliado do presidente interino, Michel Temer, para convencer o Congresso a aprovar as medidas de ajuste fiscal e as reformas necessárias para recuperar a economia.

 

Euforia

Os analistas avaliam que a votação mostrou o enfraquecimento dos aliados da presidente afastada, Dilma Rousseff, reforçando a expectativa de que ela tenha o mandato cassado pelo Senado. “A percepção de risco na economia se reduziu bastante”, avaliou o analista técnico Raphael Figueredo, da Clear Corretora, para quem o dólar pode chegar a algo entre R$ 3 e R$ 3,10, apesar das intervenções do BC.

Operadores mais otimistas veem espaço para a moeda cair para R$ 2,70 ou R$ 2,80 com o impeachment definitivo de Dilma. William Castro Alves, sócio da Valor Gestora de Recursos, reconhece o momento favorável, mas faz ressalvas. “Há uma euforia que me passa bastante receio. Os mercados já estão ‘pagando para ver’ muita coisa. O cenário tem tudo para ser confirmado, mas, em termos de economia real, ainda não há grandes alterações”, disse. Ele observou que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, registrou queda de 0,51% em maio, acima das expectativas do mercado, de um recuo de 0,2%.

 

Juros caem

Com a redução do grau de risco para a economia, as taxas dos contratos futuros de juros fecharam em queda, ontem, principalmente os de perfil mais longo. Os contratos com vencimento em janeiro de 2017 encerraram com estabilidade, a 13,86% ao ano. Já os de janeiro de 2018 recuaram de 12,68% para 12,67%. No vencimento de janeiro de 2021, o recuo foi de 12,04% para 11,97%, menor patamar em um ano e maio.