Correio braziliense, n. 19408, 15/07/2016. Saúde, p. 14

Epidemia do zika acabará em três anos

Britânicos chegaram à previsão após analisar o avanço do vírus na América Latina. Segundo eles, a imunidade desenvolvida em tantas pessoas infectadas vai frear o micro-organismo. Um novo surto de grandes proporções poderá surgir pelo menos 10 anos depois

Por: Vilhena Soares

 

A atual epidemia do zika está chegando ao ápice e deve acabar, por si só, até 2019. Depois que sair dos holofotes, o vírus demorará pelo menos uma década para voltar a preocupar os humanos. As previsões são resultado de um trabalho britânico baseado em cálculos e pesquisas sobre o avanço do micro-organismo na América Latina divulgado na edição de hoje da revista Science. Segundo os autores, a imunidade provocada por pessoas infectadas retardará o surgimento em massa da doença, o que não exclui a possibilidade de pequenos surtos. Na mesma publicação científica, especialistas norte-americanos discutem estratégias para que a doença seja completamente exterminada e suíços detalham como um anticorpo pode ser usado como alternativa de imunização. Na Paraíba já foram registrados 3.624 casos notificados como suspeitos de ter Zika.

No primeiro experimento, os cientistas compararam a forma de transmissão do zika na América Latina com a de um vírus semelhante a ele: o da dengue. As análises ajudaram na construção de um modelo matemático que representasse fielmente o avanço atual do patógeno. “Esse estudo utiliza todos os dados disponíveis para fornecer uma compreensão de como a doença vai se desenrolar e nos permite avaliar a ameaça no futuro iminente”, explicou, em comunicado à imprensa, Neil Fergurson, pesquisador da Escola de Saúde Pública do Imperial London College e um dos autores do estudo.

A equipe também usou como base de pesquisa o fenômeno chamado imunidade de rebanho, que leva em conta o tempo em que pessoas infectadas estão protegidas após terem se curado da doença. “Como o vírus é incapaz de contaminar a mesma pessoa duas vezes — graças ao sistema imunológico que gera anticorpos para matá-lo —, a epidemia chega a um estágio em que poucos podem ser infectados”, detalhou Fergurson.

A expectativa é de que esse fenômeno ocorra em três anos e que pelo menos mais 10 sejam necessários para que o vírus ressurja com força. “Usando nosso modelo, podemos prever que a transmissão em larga escala não reiniciará por pelo menos mais 10 anos, até que haja uma nova geração que não tenha sido exposta ao zika. Isso reflete outras epidemias, como a febre chicungunha, onde vimos cenários explosivos seguidos de longos períodos com poucos registros de novos casos”, ressaltou o autor.

Paraíba - No período de 1º de janeiro a 7 de julho deste ano (27ª semana epidemiológica de sintomas), foram notificados na Paraíba 35.044 casos prováveis de dengue, segundo o boletim divulgado na última quarta-feira (13) pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Em 2015, no mesmo período, foram registrados 16.821 casos suspeitos da doença, evidenciando um aumento de 108,33%.

Com relação ao zika vírus, de 1º de janeiro a 18 de junho de 2016, foram registrados 3.624 casos notificados como suspeitos (Sinan NET). Existem atualmente na Paraíba três Unidades Sentinelas do zika vírus implantadas (Bayeux, Campina Grande e Monteiro), conforme recomendação do Ministério da Saúde.