Correio braziliense, n. 19402, 09/07/2016. Política, p. 2

O jogo dos partidos na sucessão de Cunha

Com cinco candidatos, oficialmente lançados até agora,oposição se aproxima de legendas governistas para tentar evitar que o ex-presidente da Câma dos deputados

Por: João Valadares e Julia Chaib

 

No dia seguinte à renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Câmara, cinco deputados registraram as candidaturas na Mesa Diretora da Casa: Fausto Pinato (PP-SP), Marcelo Castro (PMDB-PI), Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), Carlos Manato (SD-ES) e Fábio Ramalho (PMDB-MG). O total de nomes na disputa pode chegar a pelo menos 15. Os favoritos, no entanto, ainda não formalizaram as candidaturas. Rogério Rosso (PSD-DF), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Fernando Giacobo (PR-PR) devem se inscrever apenas na véspera da votação para evitar desgaste e ganhar mais tempo nas negociações.

Já os partidos que englobam a nova oposição na Câmara — incluindo PT, PCdoB e Rede —, negociam com o chamado Centrinho (PSDB-DEM-PPS-PSB) para lançar um nome em conjunto na tentativa de furar um candidato chancelado pelo deputado Eduardo Cunha. As conversas começaram a sinalizar a possibilidade de apoio à candidatura do peemedebista Marcelo Castro (PI). O parlamentar, ex-ministro da Saúde do governo Dilma, oficializou ontem o nome para a disputa da Presidência da Câmara.

Nos bastidores, a avaliação é de que Rodrigo Maia (DEM-RJ), possível candidato do Centrinho, sofre bastante resistência dentro do bloco por ter feito oposição ferrenha ao governo da presidente afastada, Dilma Rousseff. No entanto, segmentos dentro do PT e do PCdoB defendem que as legendas devem caminhar com o nome, independentemente da orientação ideológica e partidária, que tenha densidade política para derrotar o candidato imposto por Cunha.

Líder do PT na Câmara, o deputado Afonso Florence avaliou que o nome de Castro é respeitado dentro do partido pela “posição em relação ao impeachment da presidente Dilma” e pelo enfrentamento que fez a Cunha. Ele, no entanto, afirmou que o partido não fechou apoio ainda.

A deputada Jandira Feghali (RJ), líder do PCdoB na Câmara, avaliou que o nome de Castro reúne características para ser apoiado pela sigla. “Ele é um nome amplo. Facilita. Acredito que pode arrastar alguns votos do PMDB.” Jandira salientou que a oposição também conversa com outros partidos. “Nós definimos critérios para apoiar um candidato: terá que ter força para ir ao segundo turno, devolver a normalidade da Casa e que gere dificuldade para agenda imposta pelo presidente interino, Michel Temer”, afirmou.

Marcelo Castro declarou que, primeiro, precisa viabilizar a candidatura dentro do PMDB para conseguir votos da própria legenda. A tarefa é bastante complicada. Ex-ministro do governo Dilma, Castro foi um dos peemedebistas que não entregaram o cargo quando o PMDB decidiu, em convenção partidária, abandonar a gestão petista. “Se o PMDB não apresentar candidato, estaríamos abrindo mão de ter uma vaga na Mesa. 

Por isso, defendo que o nosso partido tenha uma candidatura própria. O meu nome está posto. Sou um dos que têm mais condições de captar votos fora do PMDB.”

O primeiro-secretário da Câmara, deputado Beto Mansur, aliado de Eduardo Cunha, deve oficializar a candidatura na segunda-feira. “Hoje, conversei com a patroa, filhos e acho que vamos colocar a candidatura na semana que vem. Precisamos resgatar a credibilidade. Nunca vi a Câmara assim”, disse.

Convergência

Já o líder do DEM, Pauderney Avelino, afirmou que, até segunda, a legenda vai apresentar sua posição. “Temos uma data-limite para que escolhamos o candidato, que será segunda, quando apresentaremos a candidatura. Espero que haja convergência desse grupo. PSDB, PPS e até mesmo PT, PCdoB, PSol, Rede e PTB. Os partidos são convidados para que nós tenhamos um candidato que represente a instituição, portanto suprapartidário”, comentou.

O líder do PSD, Rogério Rosso, que era um dos mais cotados para ser o candidato do Centrão, voltou a negar ontem que enfrentará a disputa. Ele repetiu o discurso de que vai trabalhar para que a base encontre um nome de consenso e ressaltou que tem recebido muitas mensagens pedindo que dispute a eleição. O Planalto ainda sonha conseguir um nome que unifique a base. A tarefa é cada vez mais difícil. Muitos parlamentares ficaram em Brasília neste fim de semana. As articulações até o dia da eleição serão intensas.


Na disputa

Confira os nomes dos deputados que já registraram candidatura a presidente da Câmara e os que podem concorrer

Oficializados

» Marcelo Castro (PMDB-PI)

» Fausto Pinato (PP-SP)

» Carlos Gaguin (PTN-TO)

» Carlos Manato (SD-ES)

» Fábio Ramalho (PMDB-MG)


Correm por fora

» Beto Mansur (PRB-SP)

» Rogério Rosso (PSD-DF)

» Fernando Lucio Giacobo (PR-PR)

» Milton Monti (PR-SP)

» Cristiane Brasil (PTB-RJ)


» Júlio Delgado (PSB-MG)

» Osmar Serraglio (PMDB-PR)

» Sérgio Souza (PMDB-PR)

» Antônio Imbassahy (PSDB-BA)

» Rodrigo Maia (DEM-RJ)


» Esperidião Amin (PP-SC)

» Chico Alencar (PSol-RJ)

» Heráclito Fortes (PSB-PI)

» José Carlos Aleluia (DEM-BA)

» Hugo Leal (PSB-RJ)

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Eleição será na quinta

 

Um dia depois da renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Câmara, a data em que ocorrerão as eleições para o comando-tampão da Casa motiva uma queda de braço. O presidente em exercício, Waldir Maranhão (PP-MA), determinou que a escolha seja realizada na quinta-feira. Ele anulou a decisão do colégio de líderes publicada no mesmo dia que chamava o pleito para terça-feira, data em que está prevista a votação do parecer sobre o recurso de Cunha na CCJ (leia mais na página 3). Inconformados, porém, para tentar reverter a determinação de Maranhão, parlamentares do chamado Centrão solicitaram para segunda-feira uma reunião da Mesa Diretora para rediscutir a data.


Ontem, foram publicadas as duas decisões com ambas as convocações das eleições no Diário Oficial da Câmara. Contrária a Maranhão, o despacho do colégio de líderes acabou motivando, inclusive, a demissão do primeiro secretário-geral da Mesa, Silvio Avelino, cujo entendimento era de que o colégio poderia também convocar eleições, o que irritou Maranhão. No lugar de Silvio, entrou Wagner Padilha, ex-chefe de gabinete da liderança do DEM, cujo entendimento é de que os parlamentares só poderiam convocar a sessão de eleições se Maranhão tivesse sido omisso e demorado para chamar uma data.

No ato em que anula a convocação, Maranhão argumenta que colocar as eleições em data tão próxima à renúncia poderia quebrar a “isonomia” entre os candidatos, “favorecendo aquele indicado pelas agremiações que submeteram o ato convocatório” e também incidir em “usurpação” de competência. Deputados do Centrão temem que Maranhão sequer promova as eleições na quinta-feira para se manter por mais tempo no cargo. E querem também eleger um aliado para estar no comando da Câmara antes que o recurso de Cunha chegue a plenário. (JC)