Correio braziliense, n. 19402, 10/07/2016. Política, p. 2

Batalha pela data na sucessão de Cunha

Waldir Maranhão marcou a escolha do novo presidente da Câmara para quinta-feira, mas aliados de Eduardo Cunha querem antecipar para terça. Por trás da disputa, está o processo de cassação do mandato do deputado afastado

Por: Eduardo Militão

 

Numa disputada eleição para presidente da Câmara, parlamentares ainda brigam para definir o dia da escolha do sucessor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo na tentativa de escapar da cassação do mandato. A disputa pelo calendário tem uma lógica de resultados. Na terça-feira, aliados de Cunha entendem que podem emplacar um presidente afinado com ele — como Rogério Rosso (PSD-DF) — e ainda impedir a votação de um recurso do peemedebista para anular a votação sobre a cassação ocorrida no Conselho de Ética da Casa. Tudo ocorreria de acordo com um cronograma estabelecido pelo próprio parlamentar à beira da degola, que renunciou ao cargo na quinta-feira passada.

De outra parte, uma eleição na quinta-feira daria tempo para o PT, o presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), e seus aliados garantirem mais uma derrota para Cunha, que recorre na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra o parecer do Conselho de Ética pela cassação. Os adversários da presidente afastada, Dilma Rousseff, ainda enxergam nessa tentativa uma estratégia para jogar a votação para agosto e, de quebra, tumultuar a votação do impeachment no Senado, em plena época de Olimpíadas.

Neste fim de semana, alguns políticos ficaram em Brasília para articular a votação. Maranhão marcou a eleição para a próxima quinta-feira, apesar do desgosto da maioria dos líderes partidário, que querem resolver tudo antes. Maranhão convocou para amanhã de manhã uma reunião da Mesa da Câmara para debater a polêmica data da votação. A contragosto do presidente interino, os líderes se reúnem às 15h para discutir o mesmo assunto.

Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), a eleição será na quinta-feira. “O Maranhão mandou tirar as urnas, que levam dois dias para serem instaladas”, lembrou ele. “Não tem como ter eleição na terça.” Inimigo de Cunha, Delgado ridiculariza a teoria dos peemedebistas de que a intenção é proteger Dilma e tumultuar o mês de agosto com algum problema em meio à votação do impeachment no Senado. “Passarinho não voa de noite: isso é morcego.”

Integrante da tropa de choque de Cunha, Carlos Marun (PMDB-MS) lamenta que parte do PT esteja flertando com o DEM, para apoiar a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo ele, a negociação é feita em conjunto com Maranhão e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Essa articulação é montada por Lula, Maranhão, PT, os puxadinhos e, infelizmente, o DEM”, reclamou Marun. Os “puxadinhos” são os partidos mais à esquerda do Congresso, como PCdoB, Rede e PSol. Ele diz que existe o risco de a votação acabar adiada e, com a proximidade de um “recesso branco”, tudo ficar para agosto. “O Maranhão ganharia 15 ou 20 dias para voar de jatinho; o PT, uma confusão para atrapalhar o impeachment; e o DEM pensa que vai ganhar os votos.”

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) não vê problemas em adiar eleição para o mês que vem, mas entende que será na quinta-feira mesmo. “Em agosto, dá para decantar mais as coisas. Toda eleição tem que ter antecedência. Tem que ser quinta.” Segundo Teixeira, antecipar a votação é seguir o ritual planejado por Cunha para eleger um sucessor alinhado a ele e proteger-se das investigações. “Ele faz um jogo milimetrado e quer manter na mão dele.”

Segundo Teixeira, o partido entende que as melhores opções são Rodrigo Maia e o ex-ministro da Saúde Marcelo Castro (PMDB-PI). Delgado, que não oficializou uma possível candidatura, afirma que os petistas estão divididos também entre o apoio ele, Fernando Giacobo (PR-PR) e Esperidião Amin (PP-SC).

 

Vinte nomes

Entre os 20 pré-candidatos, sendo apenas cinco oficializados até agora, nenhum é do PT, que não vai se lançar na disputa. “Não é a hora”, justifica Teixeira. Para um aliado de Cunha, o partido atua com pragmatismo para não se desgastar e dar o voto útil em que pode, de alguma forma, desestabilizar o governo de Michel Temer e, quem sabe, favorecer Dilma Rousseff no Senado.

O governo interino acompanha tudo. Se deixar a Câmara decidir por si sem nenhum tipo de influência, corre o risco de ter um presidente não alinhado, o que aterrorizou a segunda gestão de Dilma Rousseff, Se interferir demais, pode piorar um cenário de ruptura dentro da base aliada. “Se entrar de cabeça demais, pode sair fragmentado”, analisa Delgado.

O ex-ministro da Saúde e deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) é um dos candidatos oficializados. Ao lado dele, estão Fábio Ramalho (PMDB-MG), Carlos Manato (SD-ES), Carlos Gaguin (PTN-TO) e Fausto Pinato (PP-SP), um dos primeiros adversários de Cunha no Conselho de Ética.

A nova oposição na Câmara articula com o “Centrinho” o lançamento de um nome para vencer um candidato aliado de Cunha. De sua parte, o peemedebista conta com o apoio do Centrão para manter um sucessor próximo a ele. Rodrigo Maia ainda sofre bastante resistência dentro do bloco por ter feito oposição ferrenha ao governo Dilma Rousseff. Para um integrante do grupo, não é possível “acender vela” para Lula, Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

 

Divisão

A Câmara pós-afastamento de Dilma Rousseff está dividida em grupos, como o Centrão (PR, PSD, PP, PTB), o Centrinho (PSDB, DEM, PPS e PSB) e a nova oposição, que inclui PT, PCdoB, PSol e Rede.

 

Frase

“O Maranhão ganharia 15 ou 20 dias para voar de jatinho; o PT, uma confusão para atrapalhar o impeachment; e o DEM pensa que vai ganhar os votos”

Carlos Marun (PMDB-MS), deputado

 

257 votos

Quantidade necessária que um candidato deve ter para vencer em primeiro turno a eleição para presidente da Câmara.