Título: Silêncio ofusca o Brasil
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/11/2011, Economia, p. 15

Decisão do governo brasileiro de não marcar posição antes de reunião do G-20 decepciona

Cannes (França) — Em busca por mais espaço na agenda internacional, o Brasil acabou desperdiçando a enorme atenção mundial depositada sobre o país durante o encontro dos líderes do G-20, grupo das 20 maiores economias, que ocorre hoje e amanhã. Mesmo com todo o tumulto criado pela Grécia, que decidiu fazer um referendo para ver se a população aceita o acordo fechado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), esperava-se que a presidente Dilma Rousseff aproveitasse os encontros de ontem, sobretudo com o presidente da China, Hu Jintao, para disseminar as posições brasileiras em relação à atual crise mundial. Mas o que se viu foi só frustração.

Alegando problemas logísticos causados pela tumultuada chegada dos principais governantes da Europa, Nicolas Sarkozy (França) e Angela Merkel (Alemanha), o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, evitou o contato com a imprensa e cancelou a entrevista prevista para o início da tarde de ontem. Ele havia sido destacado para informar o público sobre a conversa entre Dilma e o presidente chinês. Brasil e China são apontados como as principais nações emergentes em condições de reforçar o caixa do FMI para socorrer a Europa.

Ao deixar a comunicação de lado, Dilma, que também conversou com a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, e com o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Juan Somavia —, permitiu que outras nações ocupassem seu espaço. Do clube dos principais países emergentes, que formam o acrônimo Brics, a China mostrou o peso de sua mídia, credenciando um dos maiores grupos de jornalistas. E tão logo o encontro com a presidente brasileira acabou, o líder chinês tratou de informar que seu país não pode se comprometer ainda a investir na expansão da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), o fundo de resgate da Zona do Euro, que será ampliado de 440 bilhões para 1 trilhão de euros. A Rússia, por sua vez, mostrou proatividade com a constante distribuição de comunicados à imprensa.

Plano para crescimento A expectativa é de que o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a própria presidente Dilma Rousseff falem hoje antes de extensa agenda oficial. A presidente participa de almoço de trabalho sobre o sistema econômico global e de mais duas reuniões. Em pauta, um plano para o crescimento econômico mundial, o marco do sistema monetário internacional e o conteúdo social da globalização. Está previsto ainda um jantar no qual Bill Gates, fundador da Microsoft, apresentará um estudo encomendado pela França sobre o projeto de taxação global dos movimentos de capitais.