Título: Segurança exagerada deixa ativistas longe
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 03/11/2011, Economia, p. 16

Cerca de 12 mil policiais bloqueiam ruas de Cannes para a cúpula do G-20. Até moradores têm que usar crachá

Cannes (França) — Eles estão em toda parte. Centenas de oficiais da polícia nacional (PN) da França controlam, desde segunda-feira, o movimento de carros e pedestres em Cannes, do litoral sul do país, para garantir a proteção dos ministros, chefes de Estado e de governo do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta, além de convidados. Os homens de farda e quepe azul-marinho e luvas brancas se espalham por esquinas das pequenas ruas do centro da cidade com acesso à avenida principal, a Croisette. Eles compõem, contudo, um cenário bem diferente do que se vê a 30 km dali, na vizinha Nice, onde ativistas contrários à cúpula de líderes são bem mais informais nos protestos contra o encontro que começa oficialmente hoje na França.

Ontem, diante do fortíssimo esquema de segurança, os manifestantes antiglobalização e contra abusos do sistema financeiro protestaram até dentro do mar. Enquanto isso, em Cannes, cavaletes de metal e viaturas demarcam duas áreas de segurança: uma para pedestres — residentes e profissionais envolvidos com o evento —e outra para veículos devidamente inspecionados com equipamentos antibomba, sempre vistoriados antes da entrada nas garagens. Os homens da PN, a pé ou em vans e motos, têm a retarguarda dos policiais municipais e distritais, que compartilham ainda a missão de impedir qualquer tipo de protesto. Ao todo, eles são quase 12 mil.

Detectores O resultado do esquema está evidenciado no movimento calmo nas calçadas e no comércio, com muitas lojas fechadas. O sofisticado balneário da Costa Azul, famoso pelos festivais de cinema e publicidade, exibe esta semana uma população na maioria temporária e 100% identificada por crachás com cores que classificam funções e níveis de acesso, inclusive os próprios moradores. Das tarjetas pretas dos funcionários do governo local, com trânsito livre, às amarelas da imprensa, todos ainda estão sujeitos a revistas e detectores de metais. Com o bloqueio das reservas dos hotéis para os credenciados do G-20, os turistas e manifestantes ficaram longe. Fora da agenda oficial, fica fácil encontrar burocratas, seguranças e jornalistas do Brasil e de outros países em busca de refeições e produtos de conveniência.

Curiosamente, o homem mais poderoso do mundo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, será apenas um coadjuvante do evento. Dos cinco governantes fora do G-20 convidados pela presidência francesa, José Luis Zapatero, da Espanha, é considerado presença obrigatória.

Cristina Kirchner corta subsídios

Dez dias depois de receber das urnas a confirmação que continuará no cargo, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, autorizou ontem o anúncio do fim parcial de subsídios aplicados em serviços privatizados, como energia elétrica, gás, água, telefone celular, portos e aeroportos. Os benefícios eram concedidos há quase uma década. Também serão cortados os subsídios do setor bancário, financeiro e de seguro, além dos cassinos. Outro objetivo é encerrar as subvenções concedidas ao setor de mineração e petróleo. As medidas foram anunciadas pelo ministro do Planejamento Federal e Obras, Julio De Vido, segundo o qual os cortes orçamentários previstos permitirão ao governo uma economia de US$ 140 milhões. A seu ver, nos próximos dias, o governo poderá analisar uma nova modificação no sistema de tarifas do setor de transporte público urbano. Na visão de analistas, contudo, a alta dos preços será inevitável na Argentina e o consumidor pagará por isso.