Clima de campanha na Câmara

 

13/07/2016
Julia Chaib

 

Os seis dias entre a renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a as eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados conseguiram imprimir nos corredores da Casa um clima de disputa. Dispostos a ocupar até fevereiro o mandato-tampão, candidatos investiram em recursos para conseguir angariar votos hoje à tarde. Dos 14 candidatos que haviam registrado candidatura até a noite de ontem, pelo menos três parlamentares mandaram confeccionar santinhos. Houve também distribuição de vídeos pelo celular e campanhas fortes nas redes sociais.

Durante toda a terça-feira, modelos contratadas pelo deputado Carlos Gaguim (PTN-TO), que registrou candidatura ainda na segunda-feira, distribuíram panfletos com as promessas gerais do deputado. Com o slogan “Sou mais Gaguim presidente”, o deputado colocou cinco promessas a cumprir caso seja eleito. Entre elas, está o “fim das votações na madrugada”.

Lado a lado com as modelos do deputado do PTN, estavam outras pessoas vestidas com a camisa do Brasil encarregadas de propagar a candidatura da filha do presidente do PTB, Roberto Jefferson, a deputada Cristiane Brasil (RJ). Ela contratou nove pessoas para distribuir santinhos que também trazem cinco propostas para a candidatura, além de destacar características da deputada e falar sobre sua carreira. “Com trabalho, nós faremos o Brasil voltar a crescer”, diz o emblema da parlamentar.

De maneira um pouco mais discreta, o candidato do PP, Fausto Pinato (SP), candidato de oposição a Cunha mandou imprimir mil fôlderes e contratou três panfleteiros para distribuir santinhos na Câmara, segundo a assessoria do parlamentar. Os panfletos trazem cinco prioridades que são descritas de forma geral no papel, como “valorizar os servidores da Casa” e “dialogar com os poderes”. Pinato ainda recorreu a outra ferramenta para propagar seu trabalho: vídeos. Em um deles, distribuído pelo WhatsApp, ele fala sobre o período em que foi relator do processo por quebra de decoro de Eduardo Cunha e diz ser ferrenho opositor do peemedebista.

 

Santinho digital

Outros candidatos recorreram à mesma estratégia de produção de vídeos. Primeiro-secretário da Mesa Diretora, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) elaborou pelo menos três vídeos segmentados. A equipe do parlamentar produziu um material para cada grupo e enviou um vídeo para a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) e outro para a bancada feminina, por exemplo.

Já o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), antes mesmo de registrar oficialmente a candidatura, já havia produzido um santinho digital. Segundo a assessoria do parlamentar, o deputado foi o responsável por fazer o texto e a equipe de marketing montou em um aplicativo. Rosso também produziu vídeos, elaborados pela liderança do PSD. Candidato direto, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez botons com seu nome. O mesmo fez a deputada Luiza Erundina (PSol-SP), que também teve adesivos confeccionados, além de ter adotado estratégias nas redes sociais.

O corpo a corpo de todos os candidatos ocorreu ontem durante a tarde em corredores e gabinetes. A sala da liderança do PSDB, por exemplo, virou palco de peregrinação de candidatos que passaram o dia dividindo o tempo para conversar com o líder tucano, Antonio Imbassahy, para pedir votos. A reportagem pediu detalhes de preços dos santinhos e das contratações das pessoas encarregadas de entregá-los dos três deputados, mas não obteve

 

Cronologia

» 12 de março de 2015

Ao falar livremente por uma hora durante a CPI da Petrobras, Cunha negou ter contas no exterior, atacou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamando os inquéritos abertos contra políticos de “piada” e “escolha política”

 

» 13 de outubro de 2015

A representação contra Eduardo Cunha por ter mentido durante a CPI da Petrobras foi entregue por PSol e Rede à Mesa Diretora da Câmara, que levou 14 dias para encaminhá-la ao Conselho de Ética.

 

» 3 de novembro de 2015

Processo contra Eduardo Cunha é oficialmente aberto no Conselho de Ética da Câmara.

 

» 9 de dezembro de 2015

Após seis tentativas de votar o parecer preliminar pela continuação do processo, o primeiro relator do caso, Fausto Pinato (PP-SP), acabou afastado por decisão monocrática do então primeiro-vice-presidente da Câmara e atual presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA).

 

» 15 de dezembro de 2015

O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) é designado o novo relator e o seu parecer pela continuidade do processo contra Cunha acaba aprovado. No entanto, também por decisão de Maranhão, a votação é anulada e ação voltou à estaca zero.

 

» 6 de abril de 2016

Cunha tenta cancelar os depoimentos de todas as testemunhas de acusação arroladas pelo relator, Marcos Rogério. A alegação da defesa é que elas só poderiam falar sobre as suspeitas de propina, mas que isso não havia sido aceito no parecer preliminar.

 

» 5 de maio de 2016

O Supremo Tribunal Federal afasta Cunha do cargo de presidente da Câmara e do mandato de deputado. E 26 dias depois, Waldir Maranhão encaminha à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) uma consulta sobre o procedimento de votação dos processos disciplinares no plenário da Casa.

 

» 14 de junho de 2016

O Conselho de Ética aprova, por 11 votos a 9, parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) pela cassação do mandato de Cunha. Sete dias depois, ele Cunha concede entrevista afirmando que não fará delação premiada nem renunciará.

 

» 7 de julho de 2016

Pressionado e cada vez mais abandonado pelos aliados, Eduardo Cunha volta atrás da decisão, apaga tuítes que haviam negado a renúncia e finalmente abre mão do cargo de presidente da Câmara. Uma nova eleição para presidente da Câmara é convocada para hoje.

 

Correio braziliense, n. 19406, 13/07/2016. Política, p. 3