Correio braziliense, n. 19405, 12/07/2016. Política, p. 3

O dia do sim de Rogério Rosso

Próximo ao deputado Eduardo Cunha, o líder do PSD, apesar de ter negado que seria candidato, anunciou que entrará na disputa pela Presidência da Câmara. Ele criticou uma possível aliança entre PT e DEM

Por: João Valadares e Helena Mader

 

Tido como importante aliado do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou à Presidência da Câmara na semana passada, Rogério Rosso (PSD-DF), após diversas negativas enfáticas de que não seria candidato, anunciou ontem que disputará a eleição na Casa para exercer um mandato “tampão” até fevereiro do próximo ano. Ele pretendia ser o nome de consenso tão sonhado pelo Palácio do Planalto para evitar um racha na base de sustentação do governo Michel Temer. A estratégia não prosperou. Não há unidade nem mesmo no chamado Centrão (PSD, PP, PR, PTB e outras pequenas siglas), que deve apresentar mais 9 nomes para a disputa.

Em entrevista ao programa CB.Poder, o parlamentar negou ser o candidato do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Questionado sobre como votaria no processo de cassação do peemedebista, Rosso se esquivou. “É preciso aguardar o relatório”, justificou, em referência ao andamento do caso na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). Sobre a renúncia de Eduardo Cunha, com direito a choro durante o discurso, o deputado comentou: “acho que ele chorou pela família”.

Em outra entrevista, o parlamentar afirmou que tinha uma relação respeitosa com o peemedebista. “O deputado Eduardo Cunha não vota. Não fiz parte da aliança que levou Cunha à presidência. Conheci Cunha nesta legislatura. Como líder, tinha como atribuição ter relação no mínimo respeitosa com o presidente da instituição. Não se pode confundir isso com nenhum tipo de apoiamento histórico”, disse.

Rosso deve ter como principal rival o deputado Rodrigo Maia (DEM-DF), que, nos bastidores, pode contar até com o apoio de partidos de esquerda, como o PT. “Não é fácil entender uma aliança entre o PT e o DEM”, disse Rosso.

O líder do PSD na Casa acredita que as eleições serão uma disputa difícil, com a participação de pelo menos 15 concorrentes. Como o PMDB deve lançar candidato e haverá outros nomes do chamado Centrão, Rosso sabe que não terá o apoio oficial do presidente Michel Temer. Ainda assim, o parlamentar promete fidelidade ao Executivo. “Serei um aliado do presidente Michel Temer”, assegura.

Ele destacou, no entanto, que a quantidade de candidatos da base não significa um racha. “Isso não mostra um racha. O racha depende muito da atitude de cada candidato”, ponderou. Rosso defendeu que a Casa precisa retomar o ritmo de trabalho e tocar pautas propostas por Temer. “A governabilidade precisa ser garantida. O governo Temer tem colocado sementes importantes que precisam ser trabalhadas”, disse.

O deputado tem experiência como interino, já que foi eleito governador tampão do Distrito Federal em 2010, depois da Operação Caixa de Pandora. Ele garante que seguirá a mesma linha, adotada à época, de continuidade. O representante do PSD garantiu inicialmente que só seria candidato se houvesse consenso. Mesmo com o racha na base aliada, ele optou por participar da disputa. Segundo Rosso, ele aguardou a chegada da mulher, Karina, que havia viajado com os filhos do casal, para tomar a decisão e fazer o anúncio.

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Em busca da unidade

Por: Naira Trindade

 

Diante da acirrada disputa para assumir a Presidência da Câmara, o presidente em exercício Michel Temer resolveu abrir a agenda dele para receber parlamentares de todos os partidos que estiverem no páreo. Embora auxiliares de Temer no Palácio do Planalto repitam que o interino quer se manter longe da competição, há um temor de que a pulverização de candidatos provoque um racha na base aliada.

Preocupado em buscar um consenso, mas evitando declarar apoio a candidatos, Temer recebeu, desde domingo, parlamentares do PSDB, DEM, PPS para avaliar os possíveis cenários. Dos tucanos — Temer jantou no domingo com o senador Aécio Neves (MG) e o deputado Antonio Imbassahy (BA) — , recebeu a proposta de que poderia fazer um rodízio da presidência caso recebesse apoio para eleger o nome do Centrão. Aliados do Planalto negam que Temer tenha aceitado o acordo.

Candidato ainda não registrado, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) se encontrou com Temer ontem no Planalto. O deputado baiano foi buscar apoio do interino para decidir se encara mesmo a disputa, onde tem como adversário o colega Rodrigo Maia (DEM-RJ). O presidente interino também recebeu Rubens Bueno (PPS-PR).