Correio braziliense, n. 19407, 14/07/2016. Política, p. 2

Vitória de Maia, derrota de Cunha

Com o apoio do PT e a chancela do Palácio do Planalto, deputado do DEM supera Rogério Rosso no segundo turno e ficará no comando da Câmara até fevereiro de 2017. Rejeição ao ex-presidente da Casa pesou no resultado final

Por: Paulo de Tarso Lyra, Eduardo Militão, Naira Trindade, Julia Chaib e Helena Mader

 

Em segundo turno e com um voto de protesto contra o fantasma de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) venceu a disputa e se elegeu presidente da Câmara até fevereiro de 2017. Ele conseguiu 285 votos contra 170 dados ao deputado Rogério Rosso (PSD-DF). No primeiro turno, Maia já havia saído na frente, ao conseguir 120 votos contra 106 do adversário. Gritos de “Fora, Cunha” foram ouvidos assim que o resultado foi confirmado, iniciados por Léo de Brito (PT-AC).

Para o Planalto, a vitória de Maia traz um grande alívio. Apesar de ter em Rosso um aliado fiel e reconhecer que ele é maior do que a sombra do ex-presidente, o governo sabia que a vitória do candidato do PSD traria sempre o peso de Cunha por trás, o que poderia gerar crises constantes. Ao término da votação, o presidente em exercício, Michel Temer, fez questão de ligar para Rosso para cumprimentá-lo “pela elegância na disputa”. Rosso também recebeu um telefonema de felicitações do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).

No caso de Maia, a aposta é que a agenda conduzida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ande com mais rapidez, sem obstáculos políticos. Temer não conseguiu falar com o parlamentar por telefone, mas deixou uma mensagem na secretária eletrônica e deve marcar um encontro com ele ainda hoje. A vitória de Rodrigo Maia dá força também ao PSDB, que sonha em presidir a Câmara no biênio 2017-2018. O favorito para a candidatura é o líder da bancada, Antonio Imbassahy (BA).

Além do chamado Centrinho — formado por PSDB, PPS, PSB e DEM —, Rodrigo Maia conseguiu pelo menos 30 votos do PT — que liberou a bancada —, e apoios do PDT e do PCdoB. O PR, que lançou Fernando Giacobo (PR-PR) no primeiro turno, traiu o chamado Centrão e entregou para Maia pelo menos 41 dos 59 votos recebidos por Giacobo. “Se nós fomos importantes para o Rodrigo no primeiro turno, o PR foi fundamental no segundo”, agradeceu Imbassahy.

No discurso como novo presidente, o primeiro agradecimento foi ao líder do PT, Afonso Florence (BA), pela “confiança”. Depois, Maia elogiou Rosso pelo bom desempenho para um deputado novato. “Eu não teria essa desenvoltura que ele teve em seu primeiro mandato aqui na Casa. Foi uma disputa na política, como deve acontecer”. Também agradeceu ao PCdoB, do ex-ministro Aldo Rebelo, chamado de “grande amigo”. “Vamos tentar governar com simplicidade. Temos muito trabalho, precisamos pacificar o plenário. A pauta do governo é importante, mas a pauta da sociedade também. Nem só do governo vêm as boas ideias.”

 

União

Rosso também agradeceu ao adversário. Antes mesmo da votação do segundo turno, ele chamou Maia para dar um abraço na tribuna, dizendo que a base estaria unida. “A partir de hoje, vamos trabalhar pela unidade da Casa. A base de sustentação do governo Temer é uma só e vamos trabalhar pelo bem do país”, devolveu Rosso.

Nem todos pensaram assim. “O Planalto trabalhou contra a gente. Isso deu errado na época do Cunha (na vitória contra o petista Arlindo Chinaglia) e vai dar errado de novo”, esbravejou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). Com o resultado de ontem, Jovair praticamente vê sepultada a chance de concorrer à Presidência da Câmara em fevereiro do ano que vem.

Em um gesto também voltado ao Centrão, Maia disse que Cunha será julgado “no momento adequado” e quando houver quórum no plenário. “Eu apoiei Eduardo Cunha na sua candidatura à Presidência e agora ele responde a um processo disciplinar na Casa, mas não posso deixar de dizer ele foi o melhor presidente da Casa”, reconheceu.

O Planalto trabalhou, de fato, para desidratar a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI). “O governo pode até dizer que não se meteria nos nomes dos outros partidos, mas jamais poderia deixar prosperar no PMDB um que foi contra o impeachment de Dilma Rousseff”, criticou o vice-líder do governo na Casa, Darcísio Perondi (RS).

A desenvoltura de Marcelo Castro chamou a atenção de ministros do Planalto, que esperavam 90 votos. Ele recebeu 70. Auxiliares de Temer calculam que nem mesmo os deputados que apoiaram a candidatura dele bancaram o voto na urna. Aliados justificaram o baixo desempenho pelo discurso considerado arrogante. Inclusive, Temer só começou a assistir aos discursos a partir de Castro. Nos anteriores, a tevê não estava no canal e Temer estava com o ministro da Indústria, Marcos Pereira.

O novo presidente da Câmara vai suceder o polêmico Cunha, parlamentar afastado do cargo pelo STF, que responde a um processo de cassação de mandato no Legislativo, é réu em duas ações penais por corrupção e enfrenta cinco inquéritos, dois pedidos de novas investigações e dois procedimentos criminais, incluindo um pedido de prisão. Na semana passada, o peemedebista renunciou ao cargo de presidente e detonou o processo de sucessão.

Colaboraram João Valadares e Antonio Temóteo