Correio braziliense, n. 19407, 14/07/2016. Economia, p. 10-11
Setor de serviços encolhe pelo 14º mês
Segmento tem o pior resultado desde 2012: queda de 6,1% em maio na comparação anual. Retração da indústria está entre as principais causas do recuo
Por: Rodolfo Costa
A recessão está devastando o setor terciário. Não bastassem as quedas nas vendas do comércio, a crise econômica também corrói as receitas dos prestadores de serviços. Com menos poder de consumo e investimentos, famílias e empresas demandam menos gastos com atividades terciárias. Em maio, o volume do setor caiu 6,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o 14º recuo consecutivo nessa base de comparação e o pior resultado para o mês em toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), iniciada em 2012. Em relação a abril, foi registrada uma retração de 0,1%.
Diferentemente do varejo, a queda do consumo das famílias explica apenas parte da crise nos serviços. Cerca de 90% das atividades terciárias respondem muito mais às demandas de empresas e do governo. Diante da crise fiscal instalada no setor público e das dificuldades no privado, há menos procura por serviços. A recessão é tão profunda que, nos cinco primeiros meses do ano passado, o volume do setor recuou 2,1%. No acumulado deste ano, o tombo foi de 5,1%. Em 12 meses, o resultado é de queda de 4,8%. Como a atividade responde por cerca de 60% da geração de riquezas do país pela ótica da oferta, os números só comprovam que a recuperação da economia ainda está longe de ocorrer.
Como os serviços são muito sensíveis à indústria, será necessária uma retomada da produção industrial, que, aos poucos, começa a ensaiar uma tímida melhora. Apesar de indicadores de confiança demonstrarem alguma tendência de crescimento, analistas reforçam que há uma defasagem entre o início da retomada de investimentos e uma efetiva mudança no mercado de trabalho, com contratações e aumento da renda.
O maior exemplo da dependência da atividade industrial foi observado no grupo de transportes. O técnico da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Roberto Saldanha, ressalta que o segmento encolheu 9,1% na comparação com igual período de 2015. “Se tem uma indústria ainda em processo de retração, isso significa menos demanda por produtos de insumo e finais a serem transportados”, reforçou.
Sem orçamento
A restrição orçamentária dos governos municipais, estaduais e federal explica a queda de outra categoria de atividades: a de serviços profissionais, administrativos e complementares. Em maio, a retração foi de 7,8% na comparação anual. “Como também há uma redução de investimentos por parte do setor público, temos casos de cortes de contratações de serviços especializados, como consultorias e mão de obra terceirizada”, exemplificou Saldanha. Ao lado de transporte, os dois grupos respondem por cerca de 50% da PMS.
Não menos importante é a categoria de serviços prestados às famílias, que caiu 9,1% na comparação com o mesmo período de 2015. Com o aumento do desemprego, a queda real dos rendimentos, a alta da inflação e o crédito mais caro e escasso, os consumidores estão comprando menos e provocando a perda de receitas em empresas com atividade de alimentação, por exemplo.
A autônoma Brunna Ribeiro, 25 anos, já reduziu as despesas com refeições fora de casa. Sem renda fixa e com vontade de investir nos estudos, ela tem ido menos a restaurantes, lanchonetes e cafeterias. “Não tenho controle da renda que terei no começo do mês. Então, estou gastando menos para investir em um curso profissionalizante”, disse.
Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), é certo que o setor terá em 2016 o pior ano da história: um recuo de 4,5%. Entretanto, o economista-sênior da entidade Fábio Bentes alerta que, se o governo não adotar as medidas necessárias para reaquecer a atividade, o volume em 2017 também pode ficar comprometido. “Há otimismo no setor produtivo, ancorado em uma reversão das expectativas, mas isso só vai se manter se as condições da economia começarem a melhorar”, analisou.
Na avaliação de Bentes, os investimentos só vão se materializar se houver redução na taxa básica de juros, atualmente em 14,25% ao ano. Com o corte na tarifa referencial do sistema financeiro, a expectativa é de que o custo para a tomada de empréstimos fique menor para empresas e famílias, que vislumbrariam mais segurança para gastar. O analista econômico da RC Consultores, Everton Carneiro, ressalta que, além de mudanças na política monetária, será preciso medidas convincentes de reequilíbrio fiscal para recuperar a confiança dos agentes econômicos e reduzir a inflação. Com o governo fazendo o dever de casa na área fiscal, que envolve gastar menos, os agentes econômicos sentirão mais confiança e remarcarão menos os preços no mercado de bens e serviços.