PT terá de reaprender a fazer oposição, diz Lula

Andrea Jubé

13/09/2016

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o impeachment foi um "crime grave", e mostrou ao Brasil que "falta muito pra consolidar o nosso processo democrático". Lula afirmou que o PT terá de reaprender a fazer oposição e deu a senha para um dos temas com o qual o partido confrontará a gestão de Michel Temer. "Você tentar resolver problemas da crise mexendo em direitos dos trabalhadores é inaceitável", afirmou.

Lula compareceu ontem à posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal. Quando Lula, então presidente da República, a nomeou para a Corte em 2006, Cármen Lúcia lembrou a infância humilde, e relatou que sua primeira boneca foi um brinquedo feito de sabugo de milho. Lula relatou a um interlocutor que, naquela ocasião, Cármen Lúcia lhe garantiu sua "gratidão eterna".

A ida de Lula ontem ao STF ocorre quatro dias depois de seus advogados sofreram uma derrota no tribunal: o relator dos inquéritos da Operação Lava-Jato, ministro Teori Zavascki, acusou a defesa de Lula de tentar "embaraçar" as investigações.

Aliados de Lula o aconselharam a não prestigiar a cerimônia, porque fragilizaria o discurso do PT para a militância de que o STF chancelou o "golpe". Mas auxiliares mais próximos o convenceram de que era um gesto importante, sobretudo em meio à batalha judicial da Lava-Jato, em que ele é alvo.

Foi o primeiro encontro entre Lula e Michel Temer, desde que a Câmara dos Deputados remeteu o processo do impeachment para oSenado, em abril. O último encontro deles foi em março, pouco antes do PMDB romper com o governo Dilma Rousseff.

Lula disse que não vê necessidade agora em conversar com Temer, porque a prioridade é "arrumar" internamente o PT. Ele tentará fazer ainda hoje uma reunião conjunta das bancadas do PT na Câmara e no Senado para discutir o modelo de oposição que o partido adotará.

"Eu acho que o PT vai ter que fazer oposição, vai ter que brigar. Obviamente que se tiver alguma coisa que seja do interesse do conjunto da sociedade, e seja colocado em votação", disse Lula. Ele acrescentou que o movimento "fora, Temer" vai perdurar, "porque uma parcela da sociedade brasileira continua indignada. Segundo Lula, "Temer vai ter que fazer um exercício muito grande como presidente para fazer com que esse país saia da crise econômica, a crise política vai durar muito tempo".

Lula também afirmou que o impeachment mostrou ao Brasil que a nossa democracia ainda está em construção. "O impeachment consagrado apenas por conta de uma maioria política eventual, sem levar em conta a inexistência de crime de responsabilidade é crime, é grave", criticou. "Na Câmara e no Senado, todos que votaram sabem que foi uma votação eminentemente política porque não tinha base legal. É um alerta pra gente aperfeiçoar o nosso processo democrático", concluiu.

Sobre o reajuste do Poder Judiciário, Lula ressaltou que a reposição inflacionária é obrigatória. Mas ressalvou que não concorda com "reajuste exagerado para qualquer categoria, pública ou privada", porque "se o Brasil precisa de sacrifício é importante fazer sacrifício".