Título: Marta retira pré-candidatura
Autor: Campbell, Ullisses; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2011, Política, p. 3

São Paulo e Brasília — Durou apenas três meses a pré-candidatura da senadora Marta Suplicy (PT-SP) a prefeita de São Paulo. Ela foi forçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente Dilma Rousseff a anunciar ontem que abriu mão da intenção de disputar o cargo nas eleições no ano que vem. Mas demover a ideia da cabeça de Marta não se mostrou uma tarefa fácil, muito menos convencê-la a anunciar a desistência publicamente. Coube ao ex-presidente Lula marcar encontros reservados com cada um dos principais apoiadores de Marta para deixá-la isolada. "Na verdade, ela já havia percebido que estava isolada. Mas precisava de um discurso para justificar a desistência", disse um petista diretamente interessado na disputa.

A cartada final seria um encontro que Lula teria com a petista na segunda-feira, quando pediria que ela apoiasse o ministro da Educação, Fernando Haddad, nas prévias e na eleição do ano que vem. Como descobriu que tem um câncer na laringe no último sábado, Lula, mesmo sob o impacto da informação, pediu para Dilma entrar em ação e convencer Marta a sair da disputa.

Dilma marcou um encontro na sala VIP do aeroporto de Congonhas, antes de embarcar para a reunião do G-20, na França. Disse que precisava dela no Congresso e que ficariam sob sua responsabilidade os temas de relevância do governo no Senado. Marta ainda tentou argumentar, mas Dilma deu a cartada final dizendo-lhe que estava isolada e, sozinha, não venceria as prévias. A senadora não teve escolha e, para evitar maiores constrangimentos, disse que desistiria.

No entanto, nem Lula nem Dilma estavam seguros de que Marta abandonaria a ideia de se candidatar, como ocorreu nas eleições em que disputou o Senado, no ano passado. Ela desobedeceu a uma recomendação de Lula de fazer uma dobradinha com Aloizio Mercadante (PT) e com o pagodeiro Netinho de Paula (PCdoB) e seguiu fazendo campanha sozinha. Para tirar a senadora de cena de vez, Dilma pediu que a ministra Helena Chagas, da Comunicação Social, anunciasse publicamente que Marta havia desistido.

Projetos Ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu que Marta desse uma coletiva e ligasse para Lula, oficializando a desistência. De casa, onde se recupera do tratamento contra o câncer, Lula telefonou a Haddad, pedindo que ele entre em contato com a senadora e peça apoio formal a ela. Na entrevista, a senadora não disse que apoiará Haddad. "Vou me resguardar para esperar o processo (das prévias) terminar. Depois vou para a luta, do lado de quem for escolhido. E vou para ganhar", ressaltou.

Desde que o processo eleitoral começou a ser costurado dentro do PT, Marta defendeu as prévias e saiu em pré-campanha bem antes dos demais candidatos. Ontem, ela mudou de opinião sobre o assunto. "A prévia é uma coisa muito difícil, principalmente com uma pessoa combativa como eu. Não importa quem ganhasse, o partido sairia absolutamente rachado, sem unidade", sustentou. Ao Correio, a senadora demonstrou ressentimento com a decisão. "Nunca escondi de ninguém que eu queria muito voltar a ser prefeita da minha cidade. Pretendia recomeçar e dar continuidade a projetos importantes que ficaram em aberto. Tem coisas que eu quis fazer na prefeitura, mas não deu tempo", ressaltou.

Já convencida de que está fora do jogo, Marta resolveu ligar no início da tarde para o ex-presidente para contar a sua decisão. "Liguei para ele hoje de manhã. Ele está muito bem, falou que não aguenta mais ficar em casa e pediu para marcarmos um almoço", disse. Ela chegou a negar que Dilma tenha lhe oferecido cargos em troca da desistência. "Jamais existiria uma negociação nesse sentindo. Até porque estou muito bem como vice-presidente do Senado", garantiu.

Com a saída de Marta, ainda restam na batalha pelas prévias dentro do PT o senador Eduardo Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Segundo o comando da legenda, a realização de prévias não é recomendável porque que elas criam uma imagem de ruptura interna.