Correio braziliense, n. 19442, 18/08/2016. Política, p. 4

Planalto reconhece fôlego de Cunha

Governo já admite que cassação do deputado Eduardo Cunha pode ficar para depois das eleições. Votação está marcada para a segunda-feira 12 de setembro

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

Embora tenha dito que não vai se envolver e ter a certeza de que a cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um fato consumado, o governo já admite que a votação poderá ficar para depois das eleições municipais. A princípio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcou a sessão para a segunda-feira, 12 de setembro. Mas tem deixado claro que, se o quórum não estiver acima dos 450 parlamentares, não colocará o tema para ser apreciado pelo plenário.

A matemática, nesse caso, conta a favor do ex-presidente da Câmara. Para que ele perca o mandato, são necessários 257 votos, no mínimo. Como Cunha ainda tem uma tropa de choque leal, movida pela fidelidade e pelo medo de que ele exponha as entranhas do financiamento ilegal de campanhas eleitorais, é fundamental uma margem de segurança para a votação. “Tem gente, no governo e no Congresso, que não está dormindo com medo de que Cunha revele os segredos que sabe”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

A semana de 12 de setembro está encravada no meio da campanha eleitoral. Na análise de um experiente aliado de Temer, vários deputados poderão preferir permanecer nas próprias bases a vir até Brasília votar pela cassação de Cunha.  Segundo esse analista, daqui a dois anos, quando a maioria dos parlamentares buscar a reeleição, ninguém será cobrado pela presença ou não na sessão de cassação de Cunha.

Mas esses mesmos deputados serão questionados pela ausência nas campanhas municipais e poderão ver diminuídos os apoios políticos em cidades estratégicas. “Como as campanhas estão mais curtas, as caminhadas e os comícios estão acontecendo até mesmo nas segundas-feiras. Antes, o horário eleitoral resolvia parte dos problemas e as campanhas ficavam mais restritas ao período de quinta a domingo”, justificou um cacique governista.

“Isso é desculpa”, criticou Delgado. Ele afirma que nenhum parlamentar tem a coragem de ir para a campanha municipal com o peso nas costas de não ter cassado Cunha. “Eu, que tenho uma posição clara e conhecida por todos, sou cobrado quanto às razões de termos entrado em recesso sem encerrar essa história. Imagino o que acontece com aqueles que não têm uma posição explicitada ainda”, declarou Delgado.

O Correio já adiantou, há três semanas, que o grupo de parlamentares que apoiam o peemedebista, composto por legendas como o PSD, PTB, PRB, PR, parte do PMDB e outras legendas menores planejam esvaziar o plenário da Casa para postergar ao máximo a cassação. Para eles, se a votação acontecer pós-eleições municipais, o clamor popular pela “cabeça” de Cunha será menor.

O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), afirmou que, se não houver quórum para votar a cassação de Cunha na segunda-feira 12, a sessão poderá acontecer na terça 13 ou na quarta 14. “Desta semana não passará, nosso grupo estará presente aqui”, prometeu Pauderney. Por nosso grupo entenda-se, segundo o demista, parlamentares do DEM, PSDB, PPS, PSB, a atual oposição e alguns deputados de outras legendas, insatisfeitos com o desgaste que Cunha provocou na imagem da Câmara.