Cunha sondou PGR para fazer delação premiada na Lava-Jato

Maíra Magro

09/09/2016

 

 

Diante de uma cassação iminente, o ex-presidente da Câmara e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já sondou a Procuradoria-Geral da República (PGR), por meio de emissários, sobre a possibilidade de fechar um acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato. A sondagem foi feita por volta de julho a procuradores-chave da Lava-Jato com o objetivo de saber se estariam abertos a negociar o acordo, apurou o Valor com três fontes a par das tratativas. A resposta dos procuradores foi positiva.

Cunha negou veemente a informação, recorrendo a sua conta na rede social Twitter para classificar a notícia, divulgada ontem pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, como uma "aberração" e "jornalismo irresponsável". À reportagem, ele afirmou que "a informação não corresponde à verdade" e que "não tem emissários com essa finalidade".

O Valor apurou que as conversas se deram em uma fase inicial, ou seja, ainda não houve a redação de anexos com a indicação de políticos, operadores e empresários a serem delatados e nem a assinatura de um acordo de confidencialidade. Tratou-se mais de saber se as portas estariam abertas para Cunha.

Entre os integrantes da defesa, havia um temor inicial de que a PGR relutaria em aceitar negociar com o ex-presidente da Câmara e "preferisse exibir sua cabeça como prêmio", uma vez que o deputado já é réu na Lava-Jato e também responde a outras denúncias e investigações em diversas frentes. A estratégia inicial dos advogados de Cunha de atacar diretamente o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também era vista como um fator que poderia dificultar a aproximação com o Ministério Público. Recentemente, porém, a defesa passou a usar um tom mais discreto.

A resposta dos procuradores aos emissários de Cunha foi que se ele estiver disposto a entregar o que sabe, o Ministério Público estará totalmente disposto a ouvi-lo. A decisão de partir ou não para a delação deve ocorrer depois do julgamento do processo de cassação na Câmara, marcado para segunda-feira.

Se optar por fechar a delação, Cunha já conta em seu time de defesa com pelo menos dois advogados que trabalharam em acordos de delação premiada na Lava-Jato: Fernanda Tórtima, que atua para o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, e Pierpaolo Bottini, que costurou a delação de executivos da Camargo Corrêa.

Cunha começou a aventar a ideia de colaborar com o Ministério Público temendo ser preso, após uma sequência de derrotas em diversas frentes, e também pelo envolvimento de sua família no caso. A percepção é de que, mesmo antes do julgamento, ele já estaria praticamente condenado, em um beco sem saída, e contando com um cenário desfavorável no Supremo Tribunal Federal.

Ao apontar os motivos que fariam o deputado considerar uma delação, um aliado lembrou que basta um processo judicial para prender uma pessoa, enquanto o deputado afastado é alvo de um "cenário de artilharia máxima" que envolve processo penal já aberto no STF, denúncias do Ministério Público, inquéritos, multa do Banco Central e ação de improbidade, além do processo de cassação.