Lula faz campanha no Ceará, um dia depois de se tornar réu na Lava-Jato

Cristiane Agostine

22/09/2016

 

 

Lula: "Olho na cara de cada um e digo: se acharem um real na minha vida que não for meu, não serei mais nada nessa vida"

Um dia depois de ter se tornado réu em ação da Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um périplo ontem pelo Ceará para se defender e afirmar que está em curso no país uma tentativa de acabar com o PT. Nos discursos que fez em quatro cidades cearenses, Lula disse que querem impedi-lo de ser candidato em 2018 e reclamou por ter sua vida "futucada" por "meninos" do Ministério Público Federal, que o denunciaram por suposta corrupção e lavagem de dinheiro. O petista afirmou que "só Deus" poderá impedi-lo de estar perto do povo e voltou a desafiar procuradores do MPF a apontarem irregularidades contra ele.

"Se eles descobrirem e provarem que eu roubei dez centavos, não precisa me proibir de ser candidato. Eu, com a mesma honradez, com a mesma erguida, saberei pedir desculpas ao povo brasileiro se eu cometi o erro", disse Lula no Crato, em discurso divulgado pela internet pelo Instituto Lula. "Mas se eles não descobrirem nada, que peçam desculpa por tentar desonrar um homem". Em Barbalha, fez um discurso na mesma linha: "Eu olho na cara de cada um e digo: se acharem um real na minha vida que não for meu, eu não serei mais nada nessa vida".

O Ceará foi um dos Estados em que o PT teve maior votação nas últimas eleições presidenciais. Em 20106, Lula recebeu 82,3% no segundo. Em 2014, Dilma Rousseff teve 76,75% dos votos no segundo turno. Além do Crato e Barbalha, o ex-presidente visitou Iguatu e Fortaleza, para defender-se e pedir votos para candidatos do PT e do PDT, apoiados por Ciro e Cid Gomes (PDT).

O ex-presidente afirmou estar ofendido com a atuação de "um grupo de meninos do Ministério Público" que estão investiga sua vida desde que deixou a Presidência, em 2010. "Já futucaram a minha vida e da minha mulher, dos meus filhos. Depois de dois anos de futuca e cutuca, não encontraram provas", disse em Barbalha. O ex-presidente voltou a negar que é dono de um apartamento tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia, investigados pela Lava-Jato e disse que a força-tarefa da operação só tem convicção, não provas contra ele. "Estou com a minha consciência tranquila", disse.

Em meio a gritos de "Volta Lula" e "Fora Temer", o ex-presidente disse que Michel Temer não merece respeito. "Só devemos respeitar o presidente que for eleito pelo voto direto. Se não for eleito pelo voto direto, o que é?". "Golpista", disse a plateia.

Em Barbalha, Lula disse que o impeachment de Dilma foi um golpe parlamentar, que "envergonha o Brasil", e afirmou que a democracia "foi mortalmente ferida". No Crato, afirmou que Temer vai mexer nas aposentadorias e vai tentar vender o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. "Quando não tiver mais o que vender, eles não vão ter mais o que fazer", disse.

Nos discursos, o ex-presidente repetiu que o afastamento de Dilma foi para atingi-lo. "Está escrito no jornal todo dia que o problema não era a Dilma, a Dilma era apenas um degrau para me tirar, que o problema era o Lula não voltar em 2018", disse em Barbalha. Em Igatu, reiterou: "Se estão fazendo tudo isso apenas com a ideia de que é preciso impedir que Lula volte a ser candidato, vão ter é que impedir vocês de votar. Não adianta ter medo do Lula. Eles têm que ter medo é de vocês, que aprenderam a ter direitos, cidadania."

O ex-presidente ironizou as denúncias contra ele e disse que seu "crime" foi ter criado programas para beneficiar os mais pobres, como o Bolsa-Família. "Cada eleição é hora de inventar uma desgraça. Eles acharam que têm que acabar com o PT. Em 2002, quando fui eleito presidente, o PT tinha 12% de preferência nacional. Em 2011, o PT tinha 34%. Ai começou a tentativa de me destruir, porque nunca na história do Brasil um partido conseguiu ter, estando no governo, esse apoio", disse em Barbalha. "A história vai julgar cada um de nós."