Título: Dilma apoia criação de imposto mundial
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2011, Economia, p. 10

Para a presidente, recursos obtidos com a tributação das operações financeiras devem ser utilizados em políticas sociais

Cannes (França) — O governo brasileiro apoia a criação de um imposto global sobre operações financeiras, desde que ele surja de um consenso entre os países e que seus recursos sejam destinados a investimentos sociais, declarou ontem a presidente Dilma Rousseff, durante reunião de trabalho dos líderes do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo. Capitaneada pelo economista norte-americano Jeffrey Sachs, consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), e pela organização britânica Oxfam, a ideia de taxar a movimentação de capitais era um dos principais temas do encontro de chefes de Estado até que a crise grega atropelou a agenda inicial. Os bancos e a Grã-Bretanha são os principais opositores. Ainda assim, uma referência ao tema deve surgir no comunicado final, a ser divulgado hoje.

Depois de ter se encontrado, mais cedo, com seus colegas do Brics (acrônimo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Dilma disse que o Brasil está disposto a colaborar financeiramente com um plano de resgate para os países endividados da Europa desde que o socorro seja feito exclusivamente via Fundo Monetário Internacional (FMI). "O Brasil é solidário, mas a solução definitiva para a crise precisa de liderança, visão clara e rapidez", afirmou a presidente na mesa de reuniões do G-20 Ela estava sentada entre o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, e o presidente da Coreia do Sul, Lee Myang-Bak. "Discutimos a necessidade de ter uma posição unida dos Brics na reunião do G-20", resumiu o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev.

Prioridades Declarações semelhantes foram dadas pelo primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma, e pelo presidente da China, Hu Jintao. Dilma deixou claro que pretende estabelecer até hoje quais são as prioridades para os emergentes em meio às discussões sobre os impactos da crise internacional. Para ela, é fundamental apostar nas políticas de inclusão social e nos investimentos em geração de emprego. Hoje, deverá ser divulgado comunicado conjunto do G-20 sobre governança global e as diretrizes que serão asdotadas pelo México, que assumirá a presidência rotativa do grupo em 2012. O texto deve trazer um elogio à política fiscal brasileira, afirmando que as contas públicas do país "estão fortes".

Dilma disse ainda que o Brasil tem uma "experiência exitosa" de combate à crise com redução da pobreza, como provaria a inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média. Segundo ela, "é do conhecimento de todos" o empenho nacional para a retomada das negociações na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), voltadas para a abertura comercial. "Mas essas questões devem ser avaliadas no contexto da crise, que inclui os problemas cambiais e a ampliação da liquidez, com reflexos negativos sobre países como o Brasil", ressaltou. A presidente fazia uma referência à manipulação do dólar e da moeda chinesa, que levou à valorização excessiva do real.