Título: Kirchner quer regras
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Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2011, Economia, p. 10

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, cujo país declarou um calote histórico de sua dívida há 10 anos, pediu ontem aos seus parceiros do G-20 que acabem com o "anarcocapitalismo financeiro" e "mudem de remédio" para regular os mercados e tirar a economia global da crise. "Isso que estamos vivendo, senhores, não é capitalismo. Isso é um anarcocapitalismo financeiro total, onde ninguém controla ninguém", discursou a líder recém-reeleita em encontro reservado com empresários em Cannes, na França.

Ela prometeu cobrar dos líderes mundiais "respostas claras e concretas sobre o sistema de regulação financeira", após lamentar que se limitem a "ver em que cada país gasta" sem controlar "o que cada banco de investimento ou cada agência de classificação de risco faz". As declarações de Cristina foram aplaudidas por parte das pessoas que presenciavam a mesa-redonda sobre desenvolvimento e segurança alimentar, num encontro paralelo ao do G-20 chamado de B-20 (Business-20), que reúne executivos.

Como é habitual em seus discursos, a presidente argentina voltou a atacar o Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual acusou de voltar a ser o médico que impõe o tratamento de sempre aos países endividados, como fez com a Argentina antes do calote. Após a moratória de 2001, o país empreendeu forte disputa com seus credores internacionais, sobretudo o FMI, com o qual acabou por saldar sua dívida sob a presidência de Néstor Kirchner (2003-2007).

Especulação "Se alguém testou durante três anos determinados remédios com determinados médicos e o doente piora cada vez mais, não será necessário mudar de médico e de remédios e tentar outros tratamentos?", questionou. "Está na hora de estabelecer soluções que tenham a ver com a regulação daqueles que provocaram o problema", afirmou, em alusão à especulação financeira. Para ela, a situação econômica mundial "está pior" do que a de três anos atrás. (SR)