Valor econômico, v. 17, n. 4100, 28/09/2016. Política, p. A6

Gleisi torna-se ré na Lava-Jato por corrupção e lavagem de dinheiro

Gleisi: senadora e marido foram acusados de terem recebido R$ 1 milhão para a campanha ao Senado em 2010

Por: Carolina Oms

 

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu ontem a denúncia contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e seu marido, o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, tornando-os réus na Operação Lava-Jato. A decisão foi unânime, com os votos dos ministros Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no tribunal, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Gilmar Mendes.

O STF também aceitou a denúncia contra o empresário Ernesto Krugler Rodrigues. Os investigados responderão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em maio, Gleisi e Paulo Bernardo foram denunciados ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob a acusação de terem recebido R$ 1 milhão para a campanha da senadora em 2010.

O relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki, votou pelo recebimento da denúncia. Para o ministro, a peça faz uma descrição clara dos fatos. "Os elementos iniciais convergem no sentido de que em tese teria ocorrido o recebimento de vantagem indevida", disse Teori.

Paulo Gonet, subprocurador-geral da República, afirmou que "os denunciados tinham plena ciência do esquema criminoso e da origem espúria das quantidades que receberam".

O advogado da senadora, Rodrigo Mudrovitsch, afirmou que não há provas que justifiquem o recebimento da denúncia. Ele criticou o "uso desmedido, desregrado e pouco cauteloso" da delação premiada e afirmou que existem contradições nos depoimentos dos delatores.

A participação da senadora e do ex-ministro no esquema foi apontada pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, em seus acordos de colaboração premiada.

"As divergências foram gritantes desde o começo. [O ex-diretor da Petrobras] Paulo Roberto Costa diz que Paulo Bernardo procurou [o doleiro Alberto] Youssef. Youssef diz que Paulo Bernardo procurou Paulo Roberto Costa. O que é mais assustador: há divergência não só entre dois colaboradores, mas o colaborador diverge entre ele mesmo. Youssef diz primeiro que teria feito a entrega em shopping. Um colaborador premiado, chamado de novo, muda de ideia: diz que não fez diretamente, mas sim por meio de Rafael Ângulo. Vejam a multiplicidade de versões", afirmou o advogado.

Defensora de Paulo Bernardo, Verônica Sterman também rebateu a acusação, alegando que não teria sido provada interferência de Paulo Bernardo para manter Paulo Roberto no cargo de diretor na Petrobras.

A acusação da Procuradoria surgiu após os depoimentos do advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini, outro delator da Lava-Jato e que confirmou os repasses. Segundo Pieruccini, em 2010, ele foi orientado por Youssef a fazer quatro viagens de São Paulo a Curitiba (PR) para entregar dinheiro à campanha de Gleisi, ex-ministra da Casa Civil (2011-2014).

Ele contou ter ouvido do doleiro que os valores "tinham sido acertados com Paulo Bernardo", marido de Gleisi e ex-ministro do Planejamento (2005-2011) e das Comunicações (2011-2015), e se destinavam à campanha eleitoral da concorrente a uma cadeira no Senado.