Título: Grécia tenta a última cartada
Autor: Ribas, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2011, Economia, p. 10

Congresso dá voto de confiança a Papandreou, que promete formar um governo de coalizão para aprovar medidas

Cannes (França) — Por uma estreita margem de apenas oito adesões (153 a 145), o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, conseguiu arrancar do Parlamento um voto de confiança que apenas adiou o fim de sua conturbada administração. No início da sessão, que só terminou depois da meia-noite de ontem (horário de Atenas), ele fez um emocionado discurso, em que prometeu procurar, ainda hoje, o presidente Carolos Papulias. A intenção é atrair os opositores para a formação de um amplo governo de coalizão e tentar superar o impasse político em torno do pacote de socorro montado pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o movimento deve levar à renúncia do governante e sua provável substituição pelo ministro das Finanças, Evangelos Vanizelos.

"Eu peço por um governo de cooperação. A última coisa com que me importo é o cargo. Não me importo se nunca mais for eleito", afirmou Papandreou. A aprovação do voto de confiança retirou do cenário a ameaça de levar o pacote de austeridade, condição para a liberação de outras parcelas da primeira ajuda financeira, à análise popular por meio de um referendo. Mas o cenário para o país ainda é sombrio. Ontem, enquanto o Parlamento analisava a situação, milhares de manifestantes se aglomeravam do lado de fora, protestando contra os cortes de gastos. Além disso, aumentou a pressão dos líderes europeus pela aceitação dos termos do novo plano, que perdoa metade da dívida grega e significa um aporte de mais 130 bilhões de euros.

O imbróglio em torno da dívida grega, que chegou a 180% do Produto Interno Bruto (PIB), galvanizou as atenções dos líderes do G-20, que agrega as 20 maiores economias do mundo, reunidos no litoral francês. Os ansiosos investidores terão que esperar pelo menos mais um mês para que as incertezas de desanuviem, quando os ministros de Finanças do bloco devem decidir como vão implantar as diretrizes acertadas ontem, último dia da cúpula. Muito pouco de concreto saiu da reunião. Os governantes presentes se limitaram a dar um apoio verbal, sem indicar recursos para isolar países como Itália e Espanha do iminente contágio. O ponto mais concreto contra o descalabro fiscal no continente foi o anúncio de que o governo italiano sofrerá uma supervisão trimestral do FMI.

"Quase não há países aqui que disseram estar prontos para reforçar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef)", lamentou a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Potenciais compradores de títulos públicos dos países europeus, como China e Brasil, voltaram a dizer que esperam por detalhes do pacote de socorro antes de assumirem qualquer compromisso de apoio financeiro. Eles preferem uma solução via FMI. A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, reiterou que os países-membros farão "o que for necessário" para financiar a Europa de forma adequada, mas negou categoricamente que vá destinar recursos ao Feef. "Emprestamos a países", reiterou.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ter confiança de que o bloco vai superar os problemas. Mas cobrou rapidez: "Contem conosco como parceiro forte, mas os líderes europeus precisam entender que é importante ter um sinal forte da Europa de que ela está dando suporte ao euro", afirmou. Numa tentativa de dar um choque de credibilidade à cúpula do G-20, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tentou puxar as declarações para algo mais concreto, como a formação de uma lista de 29 grandes bancos que podem levar o sistema financeiro para o buraco. Por isso, suas contas serão acompanhadas de perto. Ele também atacou os paraísos fiscais. "A mensagem é clara: os países que continuam abrigando paraísos fiscais via ocultação financeira serão afastados da comunidade internacional", disse.