Valor econômico, v. 17, n. 4101, 29/09/2016. Política, p. A8

BC bloqueia R$ 30 milhões de Palocci

Por: André Guilherme Vieira

 

O Banco Central (Bacen) bloqueou ontem um total de R$ 30,8 milhões disponíveis em contas bancárias da pessoa física e da pessoa jurídica do ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda nos governos do PT, Antonio Palocci - principal alvo da Operação Omertà, 35ª fase da Lava-Jato deflagrada na segunda-feira e que o levou ao regime de prisão temporária na sede da Polícia Federal (PF) de Curitiba.

O juiz federal Sergio Moro, titular da Lava-Jato na primeira instância judicial, havia determinado o bloqueio de até R$ 128 milhões de ativos de Palocci no âmbito das investigações. O valor corresponde ao total de propinas que o ex-ministro teria recebido da Odebrecht ao menos até 2011, em troca de supostos benefícios a interesses e a negócios do grupo empresarial na Petrobras e em outros órgãos da administração pública federal, de acordo com os investigadores. A defesa de Palocci afirma que o ex-ministro jamais negociou ou recebeu qualquer vantagem indevida.

O Bacen indisponibilizou R$ 814,6 mil de três contas bancárias do ex-ministro e R$ 30 milhões da Projeto Consultoria Empresarial e Financeira Ltda., empresa que pertence a Palocci e pela qual ele recebeu pagamentos por consultorias que teriam sido prestadas nas áreas financeira e econômica.

Para o advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, o valor expressivo encontrado na conta da Projeto "não é muito, não para ele". De acordo com o criminalista, "esses valores correspondem perfeitamente à qualidade dos serviços prestados por uma pessoa que tem a reputação que o Palocci tem. Além do mais, a Receita Federal já realizou uma ampla fiscalização sobre esses recursos e foi tudo considerado legal. A única exceção tratou de uma irregularidade de ordem técnica que implicou em uma autuação de cerca de R$ 30 mil e que já foi resolvida", disse Batochio. "A origem do dinheiro é lícita e muitas das consultorias prestadas tiveram inclusive caráter internacional", justificou o criminalista, que também defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro que sucedeu Palocci na Fazenda, Guido Mantega. Ambos também são alvos da lava-Jato por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados ao esquema Petrobras.

A Justiça determinou ainda o bloqueio de valores dos ex-assessores de Palocci que também são suspeitos de envolvimento em suposto esquema de corrupção. Branislaw Kontic e Juscelino Dourado estão presos temporariamente, assim como Palocci, na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba. As defesas de ambos também negam qualquer envolvimento em ilícitos ou intermediação de valores indevidos.