Valor econômico, v. 17, n. 4092, 16/09/2016. Política, p. A6

Centrão formaliza apoio ao governo pemedebista

Por: Andrea Jubé e Bruno Peres

 

O presidente Michel Temer recebeu ontem o apoio formal dos líderes do Centrão, bloco de deputados formado por PP, PR, PRB, PTB, PSD, SD e PSC, ao ajuste fiscal e às reformas estruturantes que o governo pretende aprovar no Congresso. O grupo, que ganhou a adesão do PMDB, reuniu-se com Temer três dias após a cassação do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), idealizador, fundador e principal liderança do bloco.

Na reunião, os líderes comprometeram-se em votar a proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos na comissão especial na primeira semana de outubro, logo após a eleição municipal. "A PEC 241 [do teto] é o Plano Real do governo Temer", decretou o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP).

Os líderes do PMDB, Baleia Rossi (SP), e dos sete partidos que integram o Centrão almoçaram ontem no Planalto com Temer, com o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e com o líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE). No encontro, entregaram a Temer uma carta reafirmando o apoio ao governo e às propostas essenciais para a retomada da economia, inclusive com a PEC que fixa um limite para os gastos públicos.

Os líderes do Centrão estavam receosos da perda de espaço no governo, diante da projeção da antiga oposição (PSDB, DEM, PPS, PSB) no governo Temer.

O Centrão saiu desidratado da eleição para a presidência da Câmara, com a derrota do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), para Rodrigo Maia (DEM-RJ). No segundo turno, o PR, integrante do bloco, traiu Rosso e votou em Maia. Após esse resultado, Temer declarou, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", que pretendia "desidratar" o Centrão.

Além do apoio ao ajuste e às reformas, o pano de fundo do almoço com o Centrão é a sucessão para a presidência da Câmara em 2017, uma disputa para a qual o bloco já tem dois pré-candidatos - Rogério Rosso e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). Em outra frente, o PSDB cobra o apoio do Planalto a um tucano.

"O porto seguro do presidente Temer é o Centrão, porque no final das contas, é quem estará com ele até o final. Há uma tensão com o PSDB", diz um dos líderes do bloco, que participou do almoço ontem no Planalto. "O PSDB cobra que o presidente cumpra a agenda dos tucanos, quando Michel tem de cumprir é a agenda dele", criticou.

Durante o almoço, o líder do governo, André Moura, reclamou que algumas das emendas apresentadas pela base à PEC dos gastos prejudicam o conceito da emenda. Moura reclamou de uma em especial, do deputado Pedro Cunha Lima, filho do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). O tucano apresentou emenda para que as despesas com saúde e educação não cumpram a regra de que os gastos federais fiquem limitados ao gasto no ano anterior, corrigido pela inflação. Pela proposta, as duas áreas teriam como teto a inflação, mais o percentual de crescimento do PIB.

"Reiteramos nosso mais absoluto e irrestrito compromisso e apoio às ações do governo, ao tempo que reafirmamos nossa confiança na condução e liderança firme, altiva e democrática do Excelentíssimo Senhor presidente da República Michel Temer", diz o documento entregue ontem pelos líderes.

Temer cobrou urgência na aprovação da PEC dos gastos. A previsão é que no dia 4 de outubro, uma terça-feira, o relatório seja lido na comissão especial, com abertura de vistas, e tentem aprovar, na mesma semana, o texto, que seguirá para o plenário. Temer quer aprovar a PEC na Câmara dos Deputados até o final de outubro, e no Senado, até o início de dezembro.

Após o encontro, Paulinho da Força esclareceu que o governo focará uma reforma de cada vez. Temer também decidiu recuperar as câmaras setoriais, criadas no fim do governo Sarney. A ideia é agrupar 20 dos maiores setores produtivos do Brasil, priorizando quem mais movimenta a economia e discutir soluções criativas para a geração de empregos. (Colaboraram Raphael Di Cunto e Thiago Resende)