‘Fui orientado a não atuar na Lava-Jato’, diz ex-ministro

Bárbara Nascimento

 11/09/2016

 

 

Medina Osório critica a sucessora, Grace Mendonça, que rebate em nota.

Demitido anteontem do cargo de advogado-geral da União (AGU), o ex-ministro Fábio Medina Osório disse ontem ter recebido orientações diretas do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para que o órgão que comandou ficasse fora das investigações da Operação LavaJato. Segundo ele, o atrito começou no momento em que ajuizou as primeiras ações de improbidade contra empreiteiras envolvidas no esquema.

— Recebi orientações do ministro Padilha para não atuar nessa questão da Lava-Jato. Para ficar de fora dessas questões — afirmou Osório ao GLOBO.

O ex-ministro disse que as informações de inquéritos da Lava-Jato que solicitou ao STF nunca chegaram às suas mãos. E acusou Grace Mendonça, a advogada que o substituiu na chefia da AGU, e que era a responsável pela relação com a Corte, de ter propositalmente protelado a entrega.

Segundo Medina Osório, um assessor de Grace alegava não ter encontrado um HD para passar-lhe os documentos. Ele diz que tentou entrar em contato com Grace diversas vezes nas duas últimas semanas, mas ela nunca o atendeu.

— Grace é uma advogada da União respeitada no STF. Tem excelentes qualidades técnicas, mas fez o jogo do Padilha.

A nova ministra da AGU divulgou uma nota criticando, indiretamente, a postura de Medina Osório. “As declarações veiculadas nos últimos dias, na verdade, atestam o total desconhecimento das rotinas e procedimentos internos da instituição na responsável condução dos trabalhos de defesa judicial e extrajudicial da União, em especial no tocante à defesa do patrimônio público e da probidade administrativa. A AGU reitera que a defesa do Erário e o combate à corrupção, além da segurança jurídica aos seus órgãos assessorados, é e continuará sendo sua principal missão institucional”, disse Grace na nota.

A ministra disse também que a AGU cumpre “seu irrestrito compromisso com a missão constitucional que lhe foi atribuída na qualidade de função essencial à Justiça, destacando que as atividades institucionais continuarão pautadas pelos mais elevados princípios constitucionais que norteiam a administração pública”.

PROCESSO DIFAMATÓRIO

Osório afirmou que o governo iniciou um processo difamatório para “queimá-lo”. Ele nega, por exemplo, ter insistido para que houvesse uma aeronave da FAB à sua disposição para voltar para casa nos fins de semana. Osório disse que usou o avião uma única vez, numa ida a Curitiba. Ele também negou que não tenha bom trânsito com os ministros do Supremo.

— Modernamente, quando se quer atacar uma autoridade que combate a corrupção, não se parte mais para a eliminação física, parte-se para a destruição da reputação moral. Desde o primeiro momento, depois do ajuizamento da ação, buscouse uma desconstrução moral e da imagem, com falsas notícias. Citam que fiquei deslumbrado com o cargo, o sujeito surtou.

O ministro Eliseu Padilha preferiu não comentar as acusações. Por meio da assessoria de imprensa, ele disse que já se manifestou via Twitter, ontem. Na rede social, ele agradeceu ao “brilhante advogado Fábio M. Osório”. A assessoria de imprensa da Presidência da República foi procurada mas não foi encontrada. Osório afirmou que pretende cumprir a quarentena e, depois, retornar à advocacia particular.

 

O globo, n. 30351, 11/09/2016. País, p.7