Título: Mais mudanças na Polícia Civil
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2011, Cidades, p. 23

Desde que assumiu como diretor-geral, Onofre de Moraes exonerou 67 delegados. Ele alçou pessoas de sua confiança para os cargos mais altos da corporação e espera da equipe lealdade e respeito à hierarquia da instituição Ana Maria Campos

O festival de exonerações na Polícia Civil do Distrito Federal continua. Na edição de ontem do Diário Oficial, 17 delegados perderam os cargos de chefia, além dos 50 que já tinham sido afastados na última quinta-feira. O novo diretor-geral, Onofre José de Moraes, quer dar cara própria à equipe, deslocando para funções de destaque as pessoas da sua confiança. Ele espera que o time trabalhe com lealdade à cúpula e com respeito à hierarquia na instituição. O objetivo é controlar as investigações mais importantes e ter acesso a todas as informações consideradas relevantes.

Os atos publicados ontem indicam que voltaram ao poder policiais que tinham muita influência na segurança pública durante o governo de Joaquim Roriz. O delegado João Rodrigues foi nomeado para o cargo de diretor-geral adjunto, mesma função exercida como substituto de Laerte Bessa, que comandou a instituição durante os dois últimos mandatos de Roriz e se elegeu deputado federal em 2006. O delegado Mauro Cézar Lima, também um ex-aliado político do ex-governador, assumiu a diretoria do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Ele foi presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sindepo) e candidato a deputado distrital pelo PTdoB, mas nos últimos meses estava lotado na assessoria do governador Agnelo Queiroz (PT). Mauro Cézar garante que agora vai deixar de lado as políticas partidárias. "Não sou mais candidato a nada. Meu empenho é por fazer uma boa política de segurança pública", disse.

Entre aliados de Roriz, a mexida na área de segurança pública foi vista como uma jogada pensada e com capacidade para surtir os efeitos esperados pelo Palácio do Buriti. A avaliação é de que agora Agnelo passe a ter, de fato, o controle da Polícia Civil, como Roriz tinha nos dois últimos mandatos por meio da liderança de Bessa na classe. Onofre de Moraes tem perfil semelhante. É delegado antigo, com experiência na rua e conhecimento dos colegas. Vai administrar a Polícia Civil com autoridade.

Neste momento, é tudo o que Agnelo espera. A troca do comando da entidade vinha sendo amadurecida no governo havia dois meses. O governador, no entanto, demorou a tomar uma decisão porque existia uma divisão dentro do próprio núcleo duro do Palácio do Buriti. A nomeação de Onofre de Moraes não foi uma unanimidade. Indicado por Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador, ele tinha um rival. O delegado Maurílio Lima, chefe da área de segurança da Câmara Legislativa, era o nome da preferência do secretário de Saúde, Rafael Barbosa. Ele tinha também o apoio do deputado distrital Patrício (PT), que preside a Câmara.

Grupos antagônicos Os grupos são tão antagônicos que, caso tivesse prevalecido a indicação de Maurílio, a estrutura de poder hoje em montagem por Onofre Moraes seria outra. Exonerado na última sexta-feira do cargo de diretor da Divisão Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap), o delegado Flamarion Vidal era cotado para um cargo mais alto na hierarquia, caso Maurílio tivesse sido escolhido por Agnelo. Flamarion seria o diretor do Departamento de Atividades Especiais (Depate), o setor que reunia até a gestão de Mailine Alvarenga, todas as divisões especializadas em casos complexos que envolvem desvios de recursos e crime organizado. O secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT), por sua vez, defendia a permanência de Mailine.

Ela perdeu o cargo em virtude de uma série de eventos. Um dos episódios que causou desgaste foi a busca e apreensão realizada pela Decap na CBF, no Rio de Janeiro. O governo não tomou conhecimento dos detalhes da operação realizada a pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que ocorreu num momento em que Brasília disputava a abertura da Copa de 2014 e da Copa das Confederações em 2013. Recentemente, causou irritação o vazamento de escutas da Operação Shaolin, que apurou desvios de recursos do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte.

Com a posse de Onofre de Moraes, delegados considerados da velha guarda, antigos na Polícia Civil, voltaram a ter poder. É o caso, por exemplo, da delegada Deborah Menezes, que chefiava a 8ª Delegacia de Polícia, no Setor de Indústrias (SIA), até a posse de Mailine. Ela havia sido escanteada, designada para atuar no Gama. Na gestão de Onofre, Deborah volta para a delegacia que ajudou a criar, no SIA.